movimentação portuária, navios atracados no porto

SINAL AMARELO
NO COMÉRCIO EXTERIOR


Firjan prega diálogo diante de decisão dos Estados Unidos de impor taxações altas sobre o aço e o alumínio e dos anúncios sobre o etanol e outros produtos brasileiros   

A taxação de 25% imposta pelo executivo americano liderado pelo presidente Donald Trump, às importações americanas de aço e alumínio de todos os países causa preocupação entre empresários e governo brasileiro. A medida entrou em vigor em 12/3. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá. Tal medida levantou reações tanto de setores empresariais como do governo federal. Mas o governo dos EUA anunciou ainda reciprocidade em tarifas numa ação mais ampla para lidar com os déficits comerciais estadunidenses e citou o etanol brasileiro como um dos alvos. Essas últimas medidas ainda estão em estudo.

A Carta da Indústria ouviu especialistas de comércio exterior e empresários para entender como este cenário pode impactar nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos e nas nossas cadeias produtivas. A Firjan manifestou, em 14/2, preocupação pelo aumento das tarifas de importação para os setores de aço e alumínio impostas pelo governo americano.   

A federação defende que sejam mantidos o diálogo e a atuação diplomática e paradiplomática em diversos níveis, para que sejam alcançados os objetivos estratégicos na parceria econômica entre os países. Em paralelo, entende ser necessária a continuidade da escuta do governo brasileiro junto aos atores privados e representantes setoriais, em prol da construção de um plano conjunto de atuação para mitigação e reversão dos possíveis impactos.


  
 

O setor do aço é muito relevante, principalmente para o estado do Rio de Janeiro. Entretanto, desde a crise de 2008, existe uma sobreoferta no mundo de aço. A tarifa de 25% terá reflexos para o mundo inteiro e em primeira linha para os Estados Unidos, que poderão ter preços internos aumentados. Esse quadro pode levar a um desinvestimento global na indústria de aço.   

Josefina Guedes, membro do Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Firjan e sócia-fundadora da GBI Consultoria Internacional, recomenda prudência. “Neste cenário é relevante termos cautela. Os EUA são um parceiro histórico e de primeira linha do Brasil. O importante, em caso de o Brasil ter produtos tarifados, é manter os canais de diálogo abertos e negociar”, opina ela.   

O governo brasileiro, através de declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, também defende o diálogo para tentar reverter as taxações. Com ação predominante da diplomacia, evitando-se uma guerra comercial, o Brasil pode tentar manter o sistema de cotas de importação, implantado em 2018, depois de negociações quando o 1º governo Trump chegou a anunciar tarifas de 25% para o aço.   


Ao longo dos anos, a relação entre indústrias fluminenses e estadunidenses está alinhada aos princípios de cooperação e desenvolvimento mútuo. Os EUA são o segundo maior parceiro do comércio exterior do estado do Rio, com um fluxo superavitário para os EUA em torno de US$ 1,5 bilhão e a maior corrente de comércio de produtos manufaturados. Simultaneamente, as indústrias de metalurgia têm grande representatividade no estado do Rio, totalizando US$ 4,5 bilhões entre importações e exportações em 2024, tendo o mercado americano como principal parceiro, segundo dados da Firjan.   

Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 2,8 bilhões em produtos semimanufaturados em aço e ferro para os Estados Unidos. O país é o principal destino das exportações brasileiras de aço. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 267 milhões em alumínio para o mercado americano, equivalente a 16,7% das vendas globais brasileiras, de acordo com a Câmara de Comércio Brasil–Estados Unidos (Amcham). A participação do Brasil nas importações americanas de alumínio é relativamente pequena, menos de 1%. 


  
 

Além do aço e do alumínio


As relações entre os dois países são centenárias e vão além do comércio de aço e alumínio. Os EUA são um parceiro estratégico da indústria fluminense, o segundo maior parceiro comercial do estado do Rio, com uma corrente de comércio de US$ 16 bilhões em 2024, e um mercado de grande relevância para as exportações de setores como metalúrgico, aeronáutico, gás natural, petróleo e derivados, e destaque para produtos de alto valor agregado. O país também é a principal origem de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, somando mais de US$ 358 bilhões em 2023.   

O comércio bilateral Brasil–Estados Unidos, em 2024, somou US$ 80,9 bilhões, um aumento de 8,2%, em relação a 2023. “Há um equilíbrio na balança comercial entre os dois países, com pequeno superávit para os EUA. É uma balança comercial saudável, que tem produtos de alto valor agregado. A relação comercial americana com o Brasil sempre foi muito boa.”, analisa Josefina Guedes.   

Ela destaca também a importância dos investimentos americanos no Brasil, que representam 27% de todo o investimento estrangeiro no país.   
 

Por todos esses motivos, a indústria brasileira acompanha constantemente o cenário internacional e seus impactos nas cadeias globais de valor e nos fluxos de investimentos. Através da Firjan Internacional, os empresários fluminenses podem contar com informes, estatísticas e assessorias estratégicas para navegar no contexto internacional e para que oportunidades sejam aproveitadas. 

Para a Firjan, a diplomacia brasileira deve atuar fortemente para tentar mitigar os efeitos dessa medida anunciada pelos EUA. Negociação é a palavra-chave para os analistas. “Um dos pontos que a diplomacia brasileira buscará reforçar aos americanos o quão importante é a relação completa deles com o Brasil. Ao longo dos anos, a relação entre os países é de desenvolvimento mútuo, inclusive com um superávit comercial para os EUA. Assim, seria estratégico buscar desenvolver e ampliar esta parceria, tendo em vista os ganhos para ambos os lados.”, comenta Giorgio Luigi Rossi, gerente da Firjan Internacional. 


  
 

Aço e Petróleo   

A questão do aço atinge o Rio de Janeiro, que possui importantes siderúrgicas com exportações expressivas para os EUA instaladas no estado. Mas não se restringe à indústria fluminense, as plantas estão espalhadas por São Paulo, Minas Gerais e outros estados.   

O Brasil importa carvão dos EUA para abastecer os altos-fornos e produzir o aço que será exportado para as empresas americanas. Se este cenário for mantido, pode-se diminuir a demanda brasileira do carvão americano, um reflexo na economia dos EUA.   

Outro mercado forte no Rio é o de petróleo, que tem um peso grande nas importações dos Estados Unidos. Óleo bruto de petróleo é o primeiro produto de exportação brasileira para os Estados Unidos. Depois vem produto semiacabado de ferro e partes e peças de aeronaves.    

O agronegócio é um dos setores em que o Brasil tem muita competitividade global e poderia ser afetado por medidas anunciadas, segundo analistas, incluindo soja, grãos e parte de produtos de derivados de carne. Empresas do setor apresentam muita competitividade, e os frigoríficos também estão altamente internacionalizados, têm operações nos Estados Unidos, de acordo com a Firjan Internacional.