Economia circular

ECONOMIA CIRCULAR
NA CONSTRUÇÃO


Soluções sustentáveis trazem oportunidades de inovação e novos negócios para empresas 

 

Com a sustentabilidade no foco da estratégia empresarial da atualidade, a economia circular se apresenta como oportunidade de novos negócios, que podem até se desdobrar em projetos com impacto social. O tema, inclusive, fará parte das discussões do Rio Construção Summit, que reunirá os maiores líderes e players globais na capital fluminense, de 19 a 21 de setembro. A incorporação de materiais nos processos de produção já se tornou prática em mais da metade das empresas brasileiras, que tornaram rotineiro o reuso de água de chuva para rega de plantas e aproveitamento em instalações hidráulicas, enquanto indústrias se associam a entidades de pesquisa para desenvolver novos produtos com o que viria a ser descartado.  

 

Atualmente, a sucata metálica já representa quase 50% da matéria-prima na indústria siderúrgica. Por outro lado, na indústria do cimento, muitos fabricantes têm incorporado resíduos ao seu processo de fabricação de clínquer (fase básica de fabrico do cimento), substituindo combustíveis fósseis através do coprocessamento.

 

Há seis anos, a Riomix procurou a Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) para retirar a fibra da celulose das sacas de papel kraft que embalavam a argamassa fabricada na empresa. A fibra pode substituir quase todos os aditivos necessários para a produção de argamassa. Surgia, então, a celumassa, que mostrou boa aderência e passou a ser produzida em larga escala. “Deixamos de considerar a sacaria usada como um resíduo contaminado de cimento, mas um material que, quando tratado, se transforma em um insumo nobre, melhorando o desempenho de nossa argamassa”, diz Marcelo Vieira, diretor da Riomix. 

 

Balanço da Riomix contabiliza os ganhos socioambientais conquistados com a celumassa, fruto da reciclagem de embalagens (Imagem: reprodução/Riomix)

 

O projeto de reaproveitamento deu à Riomix o Prêmio Firjan de Sustentabilidade em 2019. Paralelamente à reutilização das embalagens, a empresa iniciou um projeto social: a cada 100 sacos recolhidos, um saco de 50 quilos de celumassa era encaminhado à prefeitura de Itaboraí, município do Leste Fluminense onde fica a fábrica, para aproveitamento em emboço de casas populares. Atualmente, a empresa tem convênio com prefeituras de 12 municípios do estado do Rio, tendo beneficiado 311 famílias. As prefeituras que apoiam o projeto são Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Japeri, Itaboraí, Magé, Maricá, Nova Iguaçu, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Gonçalo e Tanguá.

 

Outra empresa do setor de construção que segue a trilha da sustentabilidade é a Multibloco, situada no Distrito Industrial de Queimados, na Baixada Fluminense, que há cerca de 20 anos reaproveita de 16 a 18 toneladas de sobras de blocos de concreto, que voltam ao processo de produção. Geralmente são restos de lotes de material testado na própria fábrica, mas há construtoras que destinam as sobras para a reciclagem da Multibloco. 

 

“As construtoras grandes enchem caçambas de obra e mandam para a nossa fábrica. Aqui, fazemos uma inspeção fina para ver se não há madeira, guimba de cigarros, alimentos nesse material. Depois de verificada, a massa vai para o triturador”, conta Marcelo Kaiuca, diretor Comercial da Multibloco e presidente do Fórum Setorial da Construção Civil da Firjan.  

 

O lucro com o reaproveitamento do material é modesto, mas foi uma das ações para reduzir o desperdício tomadas pela empresa, que também reutiliza a água da chuva. “Quisemos contribuir com a não agressão ao meio ambiente. Hoje existem diversas leis que obrigam um consumo consciente, uma produção menos poluente. O reaproveitamento também levou a disseminar essa noção entre nossos clientes”, ressalta Kaiuca.  

 

Rio Construção Summit 

 

Para Jorge Peron Mendes, gerente de Sustentabilidade da Firjan, é impossível dissociar a recuperação de materiais para a produção da forma de fazer negócios. Além da preocupação em preservar e restaurar o meio ambiente, a sustentabilidade se firmou como um ativo que cada vez mais amplia mercado, conquista clientes e atrai investimentos. 

 

“Um número crescente de empresas está trazendo a sustentabilidade para sua estratégia de negócios de curto e longo prazos. Existe a cobrança pelos consumidores, pelos investidores, pelos colaboradores e pela sociedade de forma geral. É uma exigência de mercado. Por isso, sustentabilidade se transformou em eixo estratégico para os negócios e terá espaço privilegiado no Rio Construção Summit”, acredita Peron. O evento é uma realização do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio), com apoio da Firjan e de outros parceiros estratégicos do setor da construção. 

 

Ações inspiradoras

A própria federação procurou dar o exemplo investindo no uso de energia solar, reaproveitamento das águas pluviais e coberturas verdes do Centro de Referência em Construção Civil da Firjan SENAI SESI Tijuca, cuja experiência estará disponível aos participantes do Rio Construção Summit, no Espaço Como se Faz Firjan SENAI. O objetivo foi demonstrar a viabilidade das técnicas possibilitando edificações mais sustentáveis. A unidade conta com 19 laboratórios modernos e de ponta, além de 10 salas de aulas disponíveis para a capacitação profissional na área de construção civil. 

 

Sustentabilidade é conceito interdisciplinar no Centro de Referência do setor, que emprega em suas instalações as mais recentes soluções tecnológicas para reduzir o impacto no meio ambiente. Películas com células fotovoltaicas orgânicas aplicadas diretamente nas chapas de vidro das esquadrias de um dos prédios captam radiação solar, gerando energia para 180 lâmpadas e uma economia mensal de R$ 500 em iluminação, além de aquecer a caldeira de água do vizinho Centro de Alimentos, Bebidas e Panificação, também ocupando o espaço na Tijuca. A água da chuva é captada ao cair no piso poroso do pátio, sendo tratada para reuso na rega de plantas e instalações sanitárias. A vegetação aplicada nas coberturas de alguns edifícios do complexo reduz a temperatura interna dos ambientes, exigindo menor consumo de energia para refrigeração. 

 

“A redução do consumo é um dos grandes desafios da construção civil, que tem trabalhado para emitir menos C02 nas obras, buscando matérias-primas e insumos que levem a uma utilização mais sustentável. No Centro de Referência, buscamos aplicar processos construtivos otimizados com sistemas racionalizados para reduzir o impacto ambiental”, conta Pablo Nogueira, especialista técnico do Centro de Referência em Construção Civil.

 

No centro do pátio, uma árvore de captação de energia solar é usada para carregar notebooks, tablets e telefones celulares. As células fotovoltaicas, a árvore, as coberturas e muros verdes são alguns dos artefatos tecnológicos que garantem uma redução de 40% no consumo de energia elétrica na área de 16 mil m², que já ganhou o selo Verde de Sustentabilidade da prefeitura carioca.  

 

“Trabalhamos processos construtivos com sistemas mais racionalizados que vão transformar, cada vez mais, as obras em grandes ‘oficinas de montagem’, como o uso de divisórias pré-fabricadas que se acoplam em obra, por exemplo, reduzindo a quantidade de etapas in loco, otimizando o uso de recursos e evitando o desperdício de insumos. A construção civil tem um embate para os próximos anos, o de transformar seus processos em ações mais sustentáveis. Aqui estimulamos essas adaptações de processos”, sinaliza Nogueira. 

 

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