
Publicado em 27/01/2025 - Atualizado em 29/01/2025 16:49
O QUE ESPERAR
DE 2025
Crise econômica severa fica no passado e Brasil manterá crescimento econômico pelos próximos três anos, ainda que modesto
A Firjan fez uma análise dos cenários previstos, baseada no comportamento das economias brasileira e internacional em 2024. A principal mensagem é que o período de crise severa da última década já passou.
“A crise mais forte ficou para trás. Apostamos num crescimento potencial para 2025, porém muito baixo, principalmente devido aos desafios estruturais da economia, que geram o Custo Brasil. O grande desafio para o governo e a iniciativa privada é enfrentar o equilíbrio das contas públicas”, analisa Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan.
Este ano de 2025 se assemelha ao das últimas décadas, com a questão fiscal impactando o crescimento. “É preciso sair da armadilha da falta do equilíbrio fiscal, resolver questões estruturais, para o governo federal focar nas políticas públicas”, acrescenta Caetano.
De acordo com as projeções da federação, o PIB Brasil deve crescer 2,5% este ano e 1,8% em 2026 e em 2027 – uma queda em relação à expansão de 2024, que superou os 3%.

Em relação ao estado do Rio, a Firjan projeta a indústria de petróleo e gás como o grande motor da economia. Por outro lado, a construção civil, setor que se destacou nos últimos anos, está começando a desacelerar devido ao aumento da taxa de juros.
Ainda assim, para Julio Talon, presidente do Conselho Empresarial de Economia da Firjan, “o atual cenário econômico do Brasil e do estado do Rio de Janeiro apresenta algumas oportunidades, em um ambiente de crescimento modesto, cercado de muitos desafios e incertezas no que diz respeito às projeções da economia para 2025”.
Entre os principais desafios apontados por Talon, a necessidade urgente de aumento de produtividade gera um ambiente de insegurança quanto à capacidade da indústria fazer novos investimentos. Outras questões elencadas são a pressão sobre os custos de produção devido à inflação, às altas taxas de juros que inibem o acesso ao crédito e à taxa de câmbio desfavorável.
“Porém, também vejo a capacidade de formação de mão de obra qualificada através da Firjan SENAI, a resiliência e capacidade de inovação como pontos positivos para superar esses desafios e propiciar o aumento da competitividade da indústria do estado do Rio de Janeiro, de modo a contribuirmos com a retomada do crescimento econômico”, sintetiza o empresário, que também é vice-presidente da Firjan CIRJ.
Para crescer mais
Uma recomendação da Firjan é o governo ter mais racionalidade nas despesas, reduzir o gasto público e investir de forma mais eficiente. A segunda questão é que todo governo apresenta um novo plano fiscal para trazer equilíbrio às contas públicas. Mas dificilmente o proposto é cumprido.
“Para ter mais flexibilidade orçamentária, é preciso aprovar reformas que mudem essa situação. A Administrativa deve tratar dos gastos com pessoal. Outra Reforma da Previdência já se faz necessária; e, acima de tudo, é preciso rediscutir as obrigações orçamentárias, que exigem um percentual de recursos para educação e saúde, por exemplo. Até o reajuste do salário mínimo e suas vinculações devem estar na mesa de negociações”, sugere Luiz Césio Caetano.
Como realizar o equilíbrio das contas públicas no ambiente atual? As dificuldades para reduzir as despesas envolvem governo federal e parlamentares. Há um desafio legal: mais de 90% do orçamento é referente a despesas obrigatórias; portanto, sobra muito pouco – e cada vez menos (eram 86% em 2008) – para ser trabalhado. A federação entende que mudar essa realidade requer alterações na Constituição Federal, o que precisa passar pela aprovação do Congresso Nacional.

A principal contribuição que a Firjan e outras entidades empresariais podem dar é incentivar e cobrar a implantação de reformas para trazer mais racionalidade para o orçamento. Sobretudo as reformas Administrativa e do Sistema Federativo, visando deixar o orçamento com menos rigidez.
No longo prazo, para mudar realmente o patamar de crescimento, é preciso avançar em questões que afetam a produtividade. Mais investimento em tecnologia, transporte, educação são os principais. Entretanto, isso só é possível se tiver mais flexibilidade nos gastos. Na opinião da Firjan, só em longuíssimo prazo esse patamar será alcançado.
Cenário global
Já no cenário global, Rodrigo Santiago, presidente do Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Firjan, prevê mais competição para produtos industriais, principalmente com a retomada da agenda protecionista, escaladas tarifárias e, consequentemente, do aumento das práticas desleais por parte dos países asiáticos no mercado mundial. Há ainda grandes incertezas devido às guerras que pressionam a economia brasileira.
Santiago explica, por exemplo, que a indústria chinesa deverá enfrentar um maior protecionismo por parte dos EUA, e a tendência é que queira direcionar esses produtos para outros países como o Brasil. Cabe ao Brasil saber aproveitar seus ativos e utilizar-se dos instrumentos de defesa comercial previstos pela OMC. “Somos um país com grande ativo para economia do mundo nas áreas estratégicas: ambiental, energética e mineral”, pondera.
“Como o cenário macro global está instável, o capital internacional vai para mercados mais seguros, como a economia norte-americana com o dólar. Em 2025, o momento é de acelerar a agenda de competitividade brasileira. Sem dúvida, as contas públicas estarão no centro das atenções. Vamos passar por um período de acirramento de barreiras comerciais que vão atingir o Brasil já em 2025”, complementa Santiago.

A necessidade de um ajuste fiscal sério, alinhado às expectativas dos investidores, também é apontada por Santiago como imperativa. “Sem isso, não se consegue espaço no orçamento para investir em saneamento, saúde e educação, investimentos necessários para o aumento da produtividade”, conclui.
O empresário reforça que a instabilidade internacional reflete no dólar, que apresenta uma disparada desde dezembro de 2024, em patamares acima de R$ 6. Contribuem para essa alta os reflexos de políticas adotadas pelo FED (o Banco Central dos EUA) e a ineficiência da política doméstica, que precisa colocar em prática decisões mais rigorosas de ajuste fiscal.
“Apenas com ajuste fiscal rigoroso será possível fazer o dólar cair. Temos que acreditar que as promessas do governo serão cumpridas e conviver no mundo de instabilidades”, avalia Santiago.
Aspectos positivos
Por outro lado, quando se pensa sob um olhar internacional com cenário de grandes instabilidades, o Brasil é mais seguro que outros países pressionados por guerras e instabilidades sociais e geopolíticas.
“A Europa volta a ter guerra e crise energética. Temos uma posição mais vantajosa. Somos grandes exportadores de commodities agrícolas e minerais, como óleo e gás. Isso ajudou a balança comercial brasileira em 2024 a fechar com superavit de US$ 74,55 bilhões”, finaliza ele.