Renata Daflon, uma das empresárias do século XXI

PIONEIROS DO
SÉCULO XXI


Empreendedores relatam suas experiências na administração de empresas, com IA, digitalização e trocas com os mais velhos

 

Gerir uma empresa nunca foi tarefa fácil, e hoje a nova administração ganhou contornos mais facilmente incorporados por empresários que iniciaram suas carreiras a partir dos anos 2000. Para estar à frente de uma companhia, essas lideranças precisam acompanhar de perto a evolução quase diária da informatização, se capacitar frequentemente e se atualizar constantemente, além de trocar conhecimento com outras indústrias.

 

Para o bem ou para o mal, a informatização é o principal desafio que difere na forma de conduzir uma empresa atualmente, em comparação com o trabalho realizado no passado. Softwares analíticos, dados e informações em tempo real e comunicação de todas as áreas fazem parte da realidade desses empresários, inclusive para a tomada de decisões.

 

Quatro empresários bem-sucedidos, entre 39 e 45 anos, contaram, para a Carta da Indústria, suas experiências e desafios em empresas estabelecidas no Rio de Janeiro.

 

Renata, da Holográfica

 

Renata em sua gráfica com produtos
Renata Daflon, diretora da Hologáfica, trabalha com IA e softwares (Foto: Paula Johas)

 

Estar sempre antenada para se manter relevante é o principal desafio apontado por Renata Daflon, diretora de Operação e Comercial da Holográfica, situada em São Cristóvão, Zona Norte da capital.

 

“O modo de gerir uma empresa mudou muito. Hoje, nós temos softwares da indústria gráfica no qual a inteligência artificial (IA) ajuda na análise de dados, trazendo mudanças até para a parte operacional. Há 30 anos havia softwares, mas eles não davam relatórios. Para ter dados era preciso ficar inserindo no negócio, de uma maneira bem operacional", explica ela, que é formada em Marketing e pós-graduada nos Estados Unidos, em Gestão Empresarial e em Empreendedorismo.

 

Há 27 anos na empresa, Renata começou no chão de fábrica e passou por toda operação até chegar à posição que ocupa hoje. À frente da Holográfica, que está há 30 anos no mercado gráfico, a empresária, de 45 anos, conta que, para acompanhar a velocidade das informações necessárias à gestão da empresa, está sempre se atualizando. Para isso, já fez “dezenas” de cursos na Firjan IEL e troca muita informação com líderes da indústria.

 

"Acabei de fazer agora uma mentoria sobre inteligência artificial pela Firjan IEL, para poder utilizar esse conhecimento na gráfica, no meu negócio. O curso trouxe novos insights de posicionamento sobre pesquisas muito interessantes. Aprendi a perceber outras formas de ver o mercado e de antever para onde ele está indo. De conseguir, enfim, essa bola de cristal, entre aspas, para ter uma visão de curto e de longo prazo”, complementa.

 

Para aprimorar e ampliar seus conhecimentos, além dos aprendizados formais, Renata Daflon criou um movimento na indústria gráfica para trocar experiências e informações.  

 

“Sentia muita falta de um lugar onde eu pudesse trocar ideia, trocar conhecimento com outras pessoas dessa indústria, que sentissem as mesmas dores. Por isso, em agosto de 2024, criei um movimento dentro da indústria gráfica chamado Mulheres de Impressão. É um ambiente muito rico em trocas, onde todo mundo se ajuda com indicações de máquinas, fornecedores e problemas e soluções”, conta, acrescentando que o grupo é formado por 200 mulheres de gráficas de diversos tipos e portes, de todo o Brasil, que se ajudam e trocam informações, suprindo essa necessidade.

 

Segundo Renata, que faz parte também do Conselho Empresarial de Mulheres da Firjan, a troca de informação com empresárias de todo o país permite que esteja sempre antenada e ligada com os canais de comunicação, principalmente do setor gráfico, indústrias de papel e de embalagem.

 

Felipe, do Grupo São Marcos

 

Felipe comanda quatro empresas
Felipe é sócio de empresas de mineração e construção civil (Foto:: Arquivo Pessoal)

 

Aos 42 anos, Felipe Barcelos é sócio-proprietário das quatro empresas do Grupo São Marcos. Duas são no setor de mineração, a Convem Mineração, em Magé, na Baixada Fluminense; e a Jundiá Mineração, em Macaé, Norte Fluminense. As outras duas são a São Marcos Terraplanagem Construção Limitada, com usinas de asfalto, também em Magé e Macaé; e a São Marcos Concreto, a mais jovem do grupo, que está instalada em Macaé desde 2013.

 

Felipe faz parte da terceira geração da empresa São Marcos Construtora, criada pelo avô na década de 1960. Hoje, sem o fundador da empresa, já falecido, divide o trabalho com o tio Marco Antônio Barcelos.  

 

A jornada de Felipe começou quando ainda era um estudante de Direito, aos 19 anos. A entrada na indústria e sua preocupação com a capacitação o fez mudar sua trajetória para a área de Administração. Desde então, passou de aprendiz a sócio-diretor, após atuar em todos os setores da empresa e conhecer todos os processos.  

 

Dono de uma extensa bagagem, Felipe Barcelos, que é presidente do Sindicato da Indústria de Mineração de Brita do Estado do Rio de Janeiro (Sindibrita), enfatiza que as mudanças na gestão das empresas ocorreram no âmbito da tecnologia.  

 

“Houve bastante evolução tecnológica nesse período sensível à nossa atividade”, disse Felipe, destacando que sua empresa realiza obras de infraestrutura, onde a mineração tem evoluções muito técnicas, como a de produtos, desenvolvimento de novas tecnologias e redução de impacto ambiental.

 

O sócio do grupo São Marcos evidencia que o mundo está muito mais informatizado e que a velocidade dos acessos à comunicação facilita muito. "A velocidade como as informações circulam dentro do grupo econômico, dentro das indústrias, acelera as tomadas de decisão, trazendo mais dinamismo ao processo”.  

 

A capacitação é outro ponto sensível para Felipe, que é formado em Administração e especializado em gestão de empresa familiar. Dono de um amplo currículo, o empresário afirma que é preciso respeitar o conhecimento das pessoas com mais idade e maior experiência.

 

“Com uma diferença de 25 anos para o meu tio, sempre fui muito impulsivo, como nas tomadas de decisão. E ele, pela experiência, é uma pessoa mais resguardada e eu respeito isso. Esse equilíbrio tem dado muito certo”, explica, ao destacar que o tio é uma pessoa antenada e pegou todas as novas tecnologias. A interação entre os dois sobre novas culturas e tecnologias gera bons frutos, diz.

 

Sissi, da Granado

 

Sissi lidera lojas de cosméticos
Sissi é executiva em mais de 100 lojas da Granado no Brasil e no exterior (Foto: Arquivo Pessoal)

 

“Hoje temos muito mais recursos em termos de comunicação, em acesso às informações. O mundo está cada vez mais globalizado, o que é bom, mas, ao mesmo tempo, é uma martelada de informações”, afirma Sissi Freeman, empresária de 44 anos, diretora de Marketing e Vendas, à frente de uma cadeia de 110 lojas da Granado e Phebo, sendo 100 no Brasil e 10 no exterior. A fábrica fica em Japeri, na Baixada Fluminense.

 

Segundo ela, no passado as negociações eram mais lentas, demorava mais até mesmo para marcar uma reunião. Hoje é tudo muito dinâmico, são muitos projetos acontecendo ao mesmo tempo, e isso exige estratégias rápidas para que tudo dê certo diante da agilidade do mundo globalizado.

 

A expectativa do consumidor também mudou, conforme aponta Sissi. "Antigamente, as empresas tinham poucos lançamentos no ano. Hoje os clientes querem uma novidade a cada data sazonal, uma nova colaboração ou um evento. Querem ser surpreendidas com uma experiência de marca”. Esses movimentos, afirma ela, diferenciam uma marca da outra e engajam o cliente, além de tirar a empresa da “mesmice”, a mantendo atual, atraindo o público jovem.  

 

Além de entender e saber lidar e utilizar essa quantidade de informação, outro novo desafio é o fato de as pessoas estarem mais imediatistas, ansiosas. Segundo a diretora, não há mais, como acontecia no passado, pessoas que fazem carreira nas empresas. “A diferença na sociedade e a diferença cultural das pessoas dentro da empresa são grandes desafios na gestão de uma indústria hoje”, analisa.

 

Para a empresária, mãe de três meninas, o trabalho com o pai flui superbem, e o segredo do sucesso dessa parceria é que desde o início ficou claro qual seria a área de cada um: ela com as áreas de criação, comercial e marketing e ele na parte fabril e financeira.  

 

A formação em Ciências Políticas e Economia, em Georgetown, em Washington, é a responsável, de acordo com a empresária, para ela se tornar uma pessoa “megaestratégica”, o que ajuda muito no lado comercial.  

 

Outra mudança é a forma de negociação, uma vez que hoje os dados informatizados e imediatos permitem realizar um acordo mais profissional, em relação ao passado, quando a amizade dava o aval para um acordo, já que não havia essa agilidade e qualidade de informação.

 

Os dados em tempo real permitem saber o andamento das vendas instantaneamente em todos os pontos. O sistema, com análise inclusive da inteligência artificial, informa, por exemplo, o que está sendo vendido ou não, oferecendo a oportunidade de realizar mudanças ágeis sem ter que esperar o fechamento do mês para fazer uma correção.

 

A extensa bagagem começou com o trabalho em pequenas empresas de cosméticos em Nova York, no início da carreira, antes de trabalhar com o pai num projeto temporário, em 2004, mas que já dura 20 anos. Nesse período, fez vários cursos e mentorias e passou por várias áreas da empresa, como montagem de loja e desenvolvimento de produtos.

 

A empresa já estabelecida e consagrada, fundada no Rio em 1870 e adquirida pelo economista inglês Christopher Freeman em 1994, ganha também com a energia e a inovação da empresária, se mantendo superpresente no mundo digital, como no TikTok. Nos últimos anos, segundo a diretora, a indústria investe bastante no espaço virtual, em vídeos e em mídias diferentes para não ficar ultrapassada.

 

Jairo, da Carbon Engenharia

 

Jairo, da Carbon Engenharia
Jairo lidera indústria metal mecânica no Sul Fluminense (Foto: Vinícius Magalhães)

 

Jairo Rodrigues começou a trabalhar, aos 16 anos, com o pai na Task Power, fundada em 1997. Hoje, aos 39 anos, sem o pai, já falecido, o empresário é CEO da indústria metal mecânica, especializada em serviços de usinagem, torneira e solda. Com o aço carbono como principal matéria-prima, a empresa, situada em Volta Redonda, no Sul Fluminense, mudou o nome para Carbon Engenharia.

 

“Nós somos uma empresa de engenharia, desenvolvemos equipamentos, toda a parte de engenharia que usa o aço como matéria-prima. Construímos galpões, casas, equipamentos, todo um processo de engenharia, sempre tendo o aço carbono como ponto focal. Essa é a nossa expertise”, esclarece, lembrando que entrou no negócio como estagiário em 2002 e foi gradativamente conquistando espaço.

 

A empresa venceu os mais diversos desafios com as duas gerações, que encontraram um ponto de equilíbrio. “Meu pai, com uma gestão mais antiga, mais conservadora, com mais pé no chão; e eu querendo transformações rápidas, com tecnologia, inovação e muita ambição. Pessoas com uma idade um pouco mais avançada acabam sendo avessas ao risco. E quando se é jovem, se permite errar, aprender e se recuperar. Você acaba tendo tempo e disposição para correr riscos calculados”, avalia.  

 

Para Jairo Rodrigues, que é diretor da Firjan e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, Automotivas, de Informática e de Material Eletroeletrônico do Médio Paraíba e Sul Fluminense (Metalsul), o elemento humano é uma das principais dificuldades na atualidade.  

 

Formado em Administração, Rodrigues se considera um faminto por conhecimento. Hoje se atualiza buscando cursos especializados, com focos específicos, como gestão empresarial, finanças, gestão de pessoas, eficiência operacional, vendas, liderança e marketing, além de áreas de informática.

 

O CEO ressalta ainda que houve uma transformação digital muito grande. Ele explica que os equipamentos da empresa são de comandos numéricos computadorizados, praticamente não possui mais equipamentos manuais. É tudo por gestão de software, o que aumenta a eficiência produtiva, reduz o desperdício e aumenta a produtividade.

 

“A inteligência artificial, por exemplo, auxilia na tomada de decisão e na eficiência dos projetos. A gente hoje tem toda a gestão dos nossos acervos técnicos digitalizada e na nuvem. No passado, isso era tudo feito com papel e caneta. Tinha algumas salas na fábrica só de arquivo e acervo técnico”, lembra ele.