IA ACELERA
PRODUÇÃO E DECISÕES

Cada vez mais, empresas de pequeno, médio e grande porte utilizam a IA para criar produtos, otimizar ações e analisar dados para tomada de decisões estratégicas

O Smart Screens nasceu para ser os olhos e o cérebro do operador, promovendo mais segurança e maior produtividade. Essa é a essência do projeto de peneiramento Inteligente da Vale, implantado em Carajás (PA), em dezembro de 2024, um exemplo do que a inteligência artificial (IA) pode proporcionar nos processos de produção, melhorando também a eficiência operacional, diminuindo erros de execução, além de analisar o desempenho dos sistemas e reduzir custos.

"O modelo matemático e a câmera foram colocados no Smart Screens para interpretar a granulometria do minério, fino ou grosso, e determinar o aumento ou diminuição da vazão na peneira, reduzindo, assim, a exposição do operador ao risco em um ambiente hostil, com barulho e projeção de material”, explica Leandro Luz, project manager na Vale, cuja solução implantada recentemente ainda será objeto de mensuração de resultados.

Peneira de minério de ferro Inteligente da Vale, no Pará. IA melhora eficiência operacional. (Foto: Divulgação)

Mas, mesmo com potencial para transformar a maneira como as empresas elaboram suas estratégias, a partir de previsões precisas baseadas em dados, a inteligência artificial continua despertando dúvidas sobre como essa tecnologia pode realmente ajudar no dia a dia das companhias. Para mostrar como isso tudo é viável e fundamental, a Firjan IEL realiza jornadas e trilhas sobre o tema para a indústria com o objetivo de desmistificar, quebrar, tangibilizar de forma lúdica o que é a IA e como a melhoria de processos pode ser aplicada com essa tecnologia.

O gerente da Vale, que participou da jornada da Firjan IEL em 2024, disse que o evento foi uma excelente troca de experiência. Na ocasião, Leandro Luz apresentou cases da companhia para os participantes e reconheceu que aprendeu muito com outros palestrantes.

Leandro Luz evidencia que a inteligência artificial tem muito a acrescentar no nosso dia a dia e, por isso, é preciso perder o medo de falar sobre ela, desde que sejam observadas algumas questões para a implementação da tecnologia, como garantir qualidade dos dados, em conformidade com regulamentações e princípios éticos.

“Para avaliar a eficiência da IA, empresas devem definir objetivos claros e começar com projetos-piloto. É essencial analisar o retorno sobre investimento (ROI) e garantir a qualidade dos dados utilizados. Investir em capacitação da equipe ajuda na adoção e interpretação dos resultados. Questões éticas e de transparência precisam ser consideradas para evitar vieses. Estudar casos de sucesso de outras empresas pode ajudar na tomada de decisão. Com esses cuidados, a IA pode ser uma grande aliada na inovação e na produtividade”, ensina o gerente.

Mais automação

Carol Fernandes, coordenadora do Lab de Tendências da Casa Firjan, aponta que, no campo da produção, a inteligência artificial facilita e expande a automação". “Estamos vendo isso nas indústrias, nos processos produtivos, nos quais ela oferece melhoria da operação, com mais eficiência, diminui o erro de execução, de custos e analisa o desempenho na planta fabril, onde a IA está sendo aplicada”.

A inteligência artificial impacta também nas instituições financeiras, oferecendo experiências personalizadas para os clientes, automação das tarefas operacionais, automação de tarefas, análise de dados em tempo real, projeção de cenário, e na gestão, oferecendo novas ferramentas, acrescenta Carol.

“A IA facilita a troca de informação entre os setores, permitindo o acompanhamento de fluxos, o apoio à gestão de pessoas, e a otimização da logística. Isso ocorre porque ela realiza análises amplas de dados, favorece o uso inteligente de rotas, melhora a gestão de demandas, contribui para a segurança e torna esses processos mais ágeis e eficientes,"diz a coordenadora da Casa Firjan.

De qualquer forma, Carol lembra que é preciso haver pessoas analisando as informações a fim de alcançar um resultado mais positivo. ""Estamos em um momento de grande transformação, impulsionado por um ciclo tecnológico acelerado. A inteligência artificial amplia as possibilidades ao facilitar o acesso rápido a dados e insights, permitindo que os usuários tomem decisões mais ágeis e estratégicas. Ainda assim, é fundamental contar com pessoas qualificadas para analisar essas informações e lidar com questões mais complexas e contextuais".

Processos mais ágeis

Lucas Bertoloto, gestor de Tecnologia da Informação (TI) da Ferragens 3F Brasil, em Nova Friburgo, Região Centro-Norte do estado, também acredita que a IA é um divisor de águas. A empresa do setor mecânico produz fechaduras, cadeados e algumas linhas de ferragens.  

Fábrica da 3F, em Friburgo, utiliza IA nos processos (Foto: Divulgação)

"No momento em que é possível colocar uma ferramenta que seja o teu braço, ela pode ajudar e muito, principalmente, na nossa era em que tudo é corrido e todos precisam de informação para ontem, e a produtividade é cobrada cada vez mais. O problema é que as pessoas, muitas vezes, não estão preparadas para utilizá-la porque não sabem como dar o comando exato, o prompt”, disse Bertoloto, que também participou de evento de IA da Firjan IEL.

A IA pode ajudar na tomada de decisões até mesmo para a escolha de uma ferramenta. "Recentemente, incluí tudo o que eu precisava para ela comparar as ferramentas existentes. E a IA me deu cinco opções e disse qual a melhor para as minhas necessidades”.

Para Bertoloto, a principal vantagem da IA é a agilidade: diminui o tempo de resposta para quem sabe utilizar. A preocupação que não se deve perder de vista, no entanto, é a questão com a segurança, para não expor dados de terceiros. De qualquer forma, é preciso sempre haver um olhar humano. “Na minha opinião, não existe nada tão criativo quanto a inteligência humana", complementa.

Relatório de IA

O Relatório de Inteligência Artificial, produzido, em 2023, pelo Núcleo de Pesquisa Estratégica da Casa Firjan, um Lab de Tendências, aponta os impactos da IA generativa em empresas que desenvolvem inovações a partir dessa tecnologia e ganham cada vez mais valor do mercado. A Michelin é um exemplo de empresa que implementa IA. O objetivo é detectar falhas e imperfeições nos pneus.

O report apresenta ainda os primeiros passos para a aplicação da IA: acompanhar debates e inovações do mercado; analisar como outras empresas do setor estão implementando essa tecnologia; experimentar ferramentas gratuitas ou que demandem pouco investimento; estruturar as fontes de dados da empresa e avaliar como as IAs podem atuar sobre elas; definir os objetivos estratégicos que a empresa almeja com a aplicação da IA; estimular a capacitação dos funcionários para lidar com as novas tecnologias; identificar possíveis parcerias que possam colaborar com a inovação do seu negócio e desenvolver parâmetros éticos da relação entre os humanos e as máquinas.

Eficiência operacional

Seguindo esse caminho, Vinicius Ferreira Cunha, diretor da Art Pão Panificadora, em Nova Friburgo, conta que a trilha da Firjan IEL foi fundamental para ampliar a própria visão sobre o potencial da inteligência artificial de forma prática e estratégica dentro da empresa. 

Padaria Art Pão participou de Trilha da Firjan IEL sobre IA (Foto: Divulgação)

“Por meio dos conteúdos apresentados, compreendi como a IA pode ir muito além da automação operacional e se tornar uma aliada na tomada de decisões, no relacionamento com o cliente e na otimização de processos”, destacou.  

De acordo com o diretor, durante a trilha, identificaram-se oportunidades reais de aplicação de IA nos setores de atendimento, marketing e controle de estoque, por exemplo, com o uso de ferramentas que permitem prever demandas, personalizar ofertas e analisar dados em tempo real.  

“Isso nos permitiu construir uma abordagem mais eficiente, orientada por dados e com foco em resultados concretos”, avaliou Cunha. O empresário, de 36 anos, foi taxativo ao afirmar que a trilha fortaleceu a cultura de inovação dentro da equipe, que passou a enxergar a IA como uma ferramenta acessível, estratégica e integrável à realidade da empresa. “Sem dúvida, foi um divisor de águas no nosso processo de transformação digital”, enfatizou.

A imersão foi decisiva para provocar reflexões estratégicas e gerar mudanças práticas na condução da empresa, explicou o diretor da Art Pão. Segundo ele, a partir das discussões e experiências compartilhadas, foram implementadas melhorias na organização dos setores, com foco em eficiência operacional e na definição de processos mais claros e mensuráveis.

“Também adotamos uma nova abordagem no relacionamento com a equipe, com mais escuta ativa, alinhamento de propósito e incentivo à cultura de inovação. Um dos pontos mais impactantes foi a criação de rotinas de análise de indicadores de desempenho e o uso mais consciente da tecnologia como aliada na gestão”, complementou.

Na avaliação de Cunha, a introdução de ferramentas com apoio da IA otimizou o tempo de resposta, reduziu falhas operacionais e aumentou a assertividade nas decisões. Além de engajar mais a equipe com os novos fluxos, o que contribuiu para maior produtividade e organização.

Jornadas da Firjan IEL

Com suas jornadas e trilhas, a Trilha de Transformação digital: Inteligência Artificial, da Firjan IEL, cria uma estratégia para a indústria assumir o papel fundamental de sair do discurso da inovação e entrar de forma estratégica na prática da Inteligência Artificial, ajudando a empresa a entender a importância e viabilidade da IA em seu cotidiano.

Em outubro, a Firjan IEL tem a previsão de lançar a que terá oito dias de workshops. Essa  trilha proporciona aos participantes uma reflexão sobre os benefícios da utilização de ferramentas de inteligência artificial no contexto do seu negócio, construindo um plano de implementação adequado às necessidades e à realidade da sua empresa.

Em março, foi realizado um treinamento, em Nova Friburgo. O workshop estratégico apresentou conceito e prática da inteligência artificial para um grupo de 40 pessoas de 19 empresas. A imersão de um dia identificou e alinhou os processos das companhias à lógica da IA, além de conectar os líderes, os coordenadores e gerentes das áreas estratégicas de cada empresa.

"A Firjan IEL promove essa imersão para aproximar a inteligência artificial da realidade das empresas e mostrar, de forma prática e acessível, como ela pode impulsionar a melhoria de processos. Trazemos metodologias e exemplos reais para ajudar cada negócio a identificar os indicadores e aplicar a IA de maneira estratégica. A Firjan IEL estrutura um plano de ação inicial para que a empresa possa aplicar a IA de forma mais assertiva", resume.

As áreas de impacto da inteligência artificial, segundo o Relatório da Firjan IEL são: produção, finanças, gestão, logística, trabalho, educação, sustentabilidade, cidades, construção, mobilidade, saúde, alimentação, vestuário, comunicação e artes

O desafio da inteligência artificial tem sido discutido também em podcasts do Lab de Tendências, produzido pela Casa Firjan. Não deixe de ouvir os episódios #74, #71 e #70.