

Publicado em 30/04/2025 - Atualizado em 30/04/2025 14:52
CRÉDITO PARA A
INDÚSTRIA INOVAR
O Plano Mais Produção, um conjunto de soluções do governo federal para viabilizar o financiamento da Nova Indústria Brasil (NIB), conta com recursos de mais de R$ 500 bilhões para projetos de neoindustrialização entre 2023 e 2026. Para explicar como esses recursos estão sendo aplicados, a Carta da Indústria conversa, com exclusividade, com João Paulo Pieroni, superintendente de Desenvolvimento Produtivo e Inovação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele fala com entusiasmo sobre inovação, produtividade, sustentabilidade, dos protagonismos do BNDES em relação à indústria, à saúde e à educação, além da divulgação, ainda este ano, de linhas de financiamento que podem atender a indústria fluminense.
CI: Qual a importância de uma política industrial para o desenvolvimento e o crescimento do país?
João Paulo Pieroni: A política industrial é fundamental para direcionar os esforços que as diferentes políticas públicas em prol da indústria fazem, seja do ponto de vista regulatório fiscal, do financiamento ou dos objetivos estabelecidos. É um grande farol que organiza tanto o setor público quanto ajuda o privado a tomar decisões. Ainda mais no contexto geopolítico em que a gente vive, a reindustrialização é fundamental na maior parte dos países.
CI: A Nova Indústria Brasil enfrenta obstáculos para transformar recursos em resultados?
João Paulo Pieroni: A NIB é organizada a partir de missões, com metas e diferentes políticas. No que tange ao financiamento, a NIB criou uma política de estado – portanto, não só do governo atual: o Plano Mais Produção, inspirado no Plano Safra. Ele uniu todas as instituições financeiras federais: BNDES, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (BASA), além da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). São mais de R$ 500 bilhões num horizonte de 2023 a 2026. O BNDES tem uma liderança no âmbito do plano, e estimou ainda em 2023 um valor de R$ 250 bilhões de apoio à NIB – cujas operações têm a devida transparência no painel dedicado ao plano.
O plano se divide em quatro eixos de linhas voltadas a uma indústria mais inovadora, digital, verde, produtiva e exportadora. Do total previsto, o BNDES já aprovou R$ 196 bilhões até março, em 149 mil operações. No Rio de Janeiro, foram aprovados R$ 2,6 bilhões em 2.237 operações. A indústria foi o segmento que mais cresceu em crédito no banco em 2024, comparada com infraestrutura, agropecuária, comércio e serviços.
CI: Recentemente, você disse que as metas de 2026 e 2033 da NIB são desafiadoras, mas possíveis. Pode dar exemplos de metas desafiadoras e o que deve ser feito para que se tornem possíveis?
João Paulo Pieroni: Na missão 2, sobre saúde, a meta é ampliar a produção nacional de medicamentos, equipamentos e materiais para o SUS, com objetivo de que, até 2026, 50% das nossas necessidades sejam produzidas no Brasil. Hoje está em torno de 43%, e a meta para 2033 é de 70%. É um desafio, mas trabalhamos nessa direção. Uma segunda meta é a participação de biocombustíveis na matriz brasileira. O BNDES vem apoiando novas plantas de produção de etanol, por exemplo, e fez uma chamada pública para combustíveis avançados para aviação e navegação.


CI: Como a educação profissional pode responder às demandas da Nova Indústria Brasil (NIB)?
João Paulo Pieroni: Como dissemos, o programa NIB é para uma indústria que tenta ser mais inovadora, verde e exportadora, então a educação profissional pode ser moldada para atender a uma indústria que está buscando, por exemplo, mais tecnologias de inteligência artificial, buscando se digitalizar muito mais nos seus processos produtivos. A educação profissional precisa ter essas características, que a gente chama de habilitadoras, em especial para atender à demanda dessa nova indústria.
CI: BNDES e Finep oferecem um pacote de apoio financeiro e institucional para atração, implantação ou expansão de centros de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) no Brasil. Qual o objetivo dessa chamada pública de R$ 3 bilhões?
João Paulo Pieroni: Um dos objetivos é atrair centros de PD&I das multinacionais para o Brasil, além de apoiar a expansão dos centros já existentes no país. Para isso, há linhas de crédito mais incentivadas do BNDES, da Finep, baseadas na taxa TR, cerca de 2% ao ano. Há ainda recurso não-reembolsável, especialmente da Finep, para a atração e retenção dos pesquisadores que vão atuar nesses centros de PD&I.
CI: O BNDES pretende criar novos centros de competência, com altos investimentos. Mas não seria uma alternativa potencializar estruturas já existentes, e até criar uma rede de excelência conectada, como as redes do Instituto SENAI e a Fraunhofer, da Alemanha?
João Paulo Pieroni: Essa agenda está mais com a Finep, que vem tentando reforçar essas estruturas já existentes. O BNDES apoiou em mais de R$ 1 bilhão a expansão de todos os Institutos de Inovação do SENAI do país, há alguns anos, com inspiração no modelo da Fraunhofer.
CI: Atualmente, qual a estratégia do BNDES para o fortalecimento da indústria e da inovação no Brasil? Poderia falar também sobre o setor audiovisual?
João Paulo Pieroni: A estratégia do banco está calcada nos pilares da NIB e em ações específicas, como a da área de saúde. Já na transição energética, por exemplo, para se fazer a bateria elétrica são necessários minerais críticos como o lítio, e o Brasil tem reservas enormes ainda pouco aproveitadas. Então, o BNDES lançou um fundo para apoiar a pesquisa, a exploração e a transformação desses minerais para agregar valor na cadeia industrial.
Quanto à agenda de audiovisual, retomamos com força no BNDES, que é o gestor do Fundo Setorial do Audiovisual, o FSA. Desde o ano passado, temos novamente o programa para apoiar a produção e a distribuição de obras, além da interiorização das salas de cinema. A primeira boa notícia foi a da Conspiração Filmes, coprodutora de “Ainda Estou Aqui”. Há ainda uma carteira de audiovisual de cerca de R$ 150 milhões para ser aprovada este ano.
CI: Durante um encontro em janeiro na Firjan, foi decidido que o BNDES e a federação firmarão parcerias para a promoção das linhas de financiamento disponíveis para alavancar a inovação nas indústrias, em especial nas pequenas e médias. Já existe uma previsão para isso ocorrer?
João Paulo Pieroni: Vamos apresentar o BNDES e todas as suas linhas de financiamento para o setor. Para empresas que faturam menos de R$ 80 milhões por ano, com projetos abaixo de R$ 20 milhões, o BNDES tem uma rede de mais de 75 bancos credenciados, que repassam o nosso custo para as micro, pequenas e médias empresas.
CI: Como o BNDES pode contribuir para a neoindustrialização, principalmente no Complexo Industrial da Saúde, no Rio de Janeiro? Tem uma previsão de quando o país conseguirá cumprir as metas da missão 2?
João Paulo Pieroni: A meta é de 70% de nacionalização para 2033 e 50% para 2026. O Rio tem muitas instituições-âncoras de referência na saúde, como a Fiocruz, o Into e o Instituto Nacional do Coração, além de boas universidades. Isso é muito propício para alavancar mais investimentos em saúde, mas houve infelizmente uma perda da representatividade do Rio nessa indústria.
Do polo de multinacionais farmacêuticas, muitas saíram para Minas Gerais e Goiás, que dão mais incentivos fiscais. E ainda há a questão da violência. Mas o Rio tem condições de atrair investimentos, focados nas empresas parceiras da Fiocruz e dos hospitais de referência.
CI: Qual o papel da Firjan na parceria com o BNDES?
João Paulo Pieroni: Contamos muito com a Firjan e com as federações de indústria para serem parceiras, seja no diagnóstico das necessidades do estado ou na difusão dessas informações das linhas de financiamento para empresas. A Firjan já tem papel central de grande parceira para nos ajudar a construir as melhores políticas.