
Publicado em 22/12/2025 - Atualizado em 22/12/2025 15:40
FUTURO DE
ANGRA 3
Governo deve decidir em breve se finaliza a obra de usina em Angra dos Reis. Estudo do BNDES aponta que conclusão é a opção mais econômica
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu caminho para a tomada de decisão sobre o futuro de Angra 3, no Sul do estado do Rio de Janeiro. Estudo realizado pelo banco com essa finalidade constata que a conclusão da terceira usina nuclear é a opção mais econômica e benéfica para o Brasil, se comparada ao cancelamento da obra. A Firjan considera que a retomada da obra é vital para o estado do Rio de Janeiro tendo em vista seu potencial para geração de emprego e renda.
Abandonar o projeto pode custar até R$ 25,97 bilhões, enquanto a previsão para a conclusão é de R$ 23,9 bilhões, de acordo com estudo do BNDES, que calculou também que o empreendimento parado custa cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. O estudo do BNDES destaca ainda que a energia nuclear tem papel importante na transição para uma matriz elétrica mais limpa e segura no Brasil.
Agora, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que solicitou essa avaliação ao BNDES, deve decidir em breve se conclui ou não a usina no estado do Rio. Caso a decisão seja pelo término da obra, opção amplamente defendida pela Firjan desde 2015 quando a obra parou, o governo federal vai definir a estrutura de financiamento e o modelo de participação privada.
O relatório do BNDES indica três cenários possíveis: conclusão de Angra 3 com participação de um sócio privado, mantendo o acordo entre a Axia Energia (ex-Eletrobras) e a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar); conclusão integral com recursos públicos, da União e da ENBPar ou abandono definitivo da obra, com detalhamento de custos e impactos para o setor nuclear.

“Angra 3 é uma peça-chave para garantir segurança energética e estabilidade no sistema elétrico, especialmente em um momento em que o Brasil precisa diversificar sua matriz e reduzir riscos de intermitência”, afirma Antonio Carlos Vilela, 2º vice-presidente da Firjan CIRJ.
Para Vilela, também presidente do Conselho Empresarial de Energia Elétrica da Firjan, a decisão de concluir Angra 3 “é mais que uma escolha de investimento, é um compromisso com o futuro energético, ambiental e industrial do Rio de Janeiro e do país”.
Apesar de todos esses benefícios, o avanço do projeto exige enfrentar desafios que hoje travam sua retomada. Há questões financeiras e de governança que demandam soluções estruturadas antes que a construção possa ser retomada com segurança. Entre elas, destaca-se a necessidade de um modelo de negócios que garanta previsibilidade de custos, atratividade para parceiros privados — caso essa seja a opção escolhida — e sustentabilidade de longo prazo. Além disso, é essencial resolver pendências contratuais e operacionais acumuladas ao longo dos anos em que a obra permaneceu suspensa. Sem organizar esses fatores, corre-se o risco de novos atrasos, revisões orçamentárias e incertezas para o setor elétrico, de acordo com Tatiana Lauria, especialista em estudos de Infraestrutura na Firjan.

Mais emprego e renda
“A conclusão de Angra 3 representa um passo estratégico para transição energética no Brasil, garantindo a segurança energética, a competitividade industrial e a sustentabilidade na matriz elétrica brasileira”, afirma Tatiana, ao justificar a continuidade de Angra 3, uma luta antiga da federação por uma energia limpa, de alta qualidade, confiável e estável.
O Rio de Janeiro abriga a cadeia nuclear brasileira e hoje a energia nuclear no estado é a segunda principal fonte da matriz elétrica estadual: as usinas Angra 1 e Angra 2, com potência combinada de 2.000 MW, abastecem mais de 40% da energia elétrica consumida no estado. Com a conclusão de Angra 3, essa participação sobe para cerca de 70% do consumo estadual, fundamenta a federação.
“Historicamente, defendemos a conclusão da obra de Angra 3 por todos esses benefícios. A Firjan faz posicionamentos públicos, utilizando artigos, e articulação institucional e econômica, mostrando para o governo por que a indústria é a favor e como a usina é importante para o Rio de Janeiro. O estado tem as condições necessárias e uma oportunidade enorme para transformar o Brasil numa potência do mercado nuclear pacífico, que traz muita inovação”, explica Tatiana Lauria.
Além disso, o fato de a energia nuclear não oscilar e funcionar 90% do ano, é bastante importante para os data centers que o mundo inteiro precisa e o Rio de Janeiro pode abrigar. Além da conclusão das obras de Angra 3, a Firjan também defende a retomada do projeto de construção de oito novas usinas nucleares, no Plano Nacional de Energia até 2050 e a expansão da vida útil de Angra 1 e sua extensão de operação até 2044.

Capacitação de mão de obra
O estado tem recursos acadêmicos e cursos de excelência da Firjan SENAI que podem formar os profissionais, além de todas as instituições nucleares, como a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep). O foco está nos segmentos de metalmecânica, soldagem, caldeiraria, eletroeletrônica, refrigeração e climatização. Os cursos técnicos contemplarão as áreas de logística, automação industrial, eletromecânica e mecânica.
Hoje, a Firjan SENAI Angra dos Reis e a Casa Firjan já atuam em parceria com a Eletronuclear, oferecendo programas de aprendizagem, projetos de inovação e serviços tecnológicos com os Institutos SENAI de Tecnologia. Além disso, a Firjan SENAI e a Nuclep firmaram um protocolo para avaliar a viabilidade de instalar uma unidade da Firjan SENAI na Nuclep, em Itaguaí, com oferta de cursos técnicos em áreas industriais e tecnológicas.
Tecnologia nuclear na medicina, agricultura e segurança alimentar
Para Inaya Lima, professora da Engenharia Nuclear da COPPE/POLI - UFRJ, o Rio de Janeiro, “com sua infraestrutura robusta, instituições estratégicas, base industrial de defesa e a liderança político-legislativa, reúne todas as credenciais para firmar-se não apenas como a Capital Nacional do Petróleo, mas como a Capital Nacional da Energia Nuclear”.

O Rio de Janeiro, um dos mais importantes centros urbanos do país, também é um polo de excelência em aplicações pacíficas das radiações ionizantes, avalia a pesquisadora. A tecnologia nuclear, em sua abrangência multidisciplinar, vai muito além da geração de energia. Suas contribuições se estendem de forma decisiva a áreas vitais como a medicina, a agricultura e a segurança alimentar, desempenhando papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico e na inovação científica.
Na área da saúde, o uso de radioisótopos tem viabilizado diagnósticos precisos e tratamentos eficazes de doenças como câncer e problemas de tireoide. Eles são versões instáveis de átomos que emitem radiação para se estabilizar. No setor de alimentos, a irradiação tem se mostrado uma ferramenta eficaz na conservação e esterilização de frutas, grãos e produtos cárneos. Já na agricultura, técnicas nucleares têm sido aplicadas com sucesso em soluções sustentáveis para o controle biológico de pragas e o melhoramento genético de cultivares.
No campo da inovação, observa a docente, o surgimento de startups de base tecnológica nuclear, muitas oriundas da própria UFRJ, desenvolvem soluções em dosimetria personalizada, diagnóstico por imagem, segurança operacional e análise de risco. No entanto, a fragilidade do ecossistema de apoio à inovação nuclear tem comprometido a continuidade desses empreendimentos.
A ausência de editais específicos para tecnologias nucleares, somada à escassez de incubadoras e fundos especializados geram um ciclo de alta mortalidade para iniciativas que, embora tecnicamente sólidas, não encontram espaço de aplicação ou fontes sustentáveis de fomento, lamenta Inaya.
O Brasil detém domínio completo do ciclo do combustível nuclear, desde a mineração do urânio até o enriquecimento isotópico, a fabricação de elementos combustíveis e o desenvolvimento de reatores de pesquisa, energia e propulsão naval.
O setor nuclear brasileiro enfrenta obstáculos importantes que comprometem sua expansão sustentável. Entre eles, Inaya destaca a regulação desatualizada; a burocracia e a lentidão nos trâmites regulatórios; a instabilidade nos investimentos públicos; a falta de diálogo efetivo com a sociedade; e a ausência de apoio efetivo à inovação e ao empreendedorismo tecnológico.
Atuação da Firjan no polo nuclear
O Rio de Janeiro é o principal polo nuclear do país, com as usinas Angra 1 e Angra 2, a Fábrica de Combustível Nuclear em Resende (INB), a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a Nuclep, a Base Naval de Submarinos Nucleares, a sede do Instituto de Engenharia Nuclear e o Instituto de Radioproteção e Dosimetria.
Para impulsionar a energia nuclear, a Firjan atua ativamente no regulatório-institucional, por meio da elaboração de notas técnicas, contribuições estratégicas e ações que evidenciam a relevância do setor para o desenvolvimento nacional; se posiciona a favor da conclusão de Angra 3 e no desenvolvimento da cadeia produtiva desse mercado por entender que contribui com a segurança energética e tem impactos econômicos positivos para o país.
Além disso, a Firjan busca modernizar e discutir formas eficientes de agilizar o licenciamento ambiental; incentivar e ampliar a formação de profissionais na área nuclear; elaborar um Plano Nacional Nuclear de longo prazo que traga estabilidade para o setor, integrando indústria, academia, centros de pesquisa e financeiros, transformando o Brasil em um protagonista internacional nesse mercado.







