RJ: EXPANSÃO FERROVIÁRIA
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Em 1854, graças ao empenho do empresário José Evangelista de Souza – que já construíra um estaleiro em Niterói, canalizara as águas do Rio Maracanã para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, criara a companhia que fornecia gás para a capital, além de uma empresa de navegação no Amazonas –, o Brasil ganhou 14,5 quilômetros de sua primeira ferrovia, ligando o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à localidade de Fragoso, hoje, Raiz da Serra, em Magé, na Baixada Fluminense. Depois de receber o título de Barão de Mauá do imperador Pedro II, José Evangelista continuou a investir na malha ferroviária nacional, abrindo a Central do Brasil e estradas de ferro em São Paulo. 

 

Até 1900, a malha ferroviária brasileira chegou a 15 mil quilômetros. No entanto, a queda dos preços internacionais do café, principal exportação do país, reduziu o interesse no modal a partir de 1928. Linhas de passageiros foram desmobilizadas, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Hoje, caminhões são responsáveis pelo transporte de 62% das cargas no Brasil; porém, há pelo menos cinco anos, as ferrovias brasileiras registraram significativo aumento no transporte de minérios, combustíveis e grãos.  

 

Planos de recuperação ou de expansão da malha ferroviária não faltam. Há projetos de exploração turística, como o que liga a cidade fluminense de Três Rios a Cataguases, em Minas Gerais, que pode iniciar as operações do primeiro trecho ainda este ano, e a implantação de um trem de alta velocidade para passageiros, o chamado trem-bala, que faria a ligação das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo em cerca de 1h30. O cronograma da TAV Brasil, que em fevereiro obteve outorga da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para operar e explorar a linha por 99 anos, prevê o início das viagens em 2032. 

 

“Como o prazo de concessão é muito extenso, pode ser que haja atrasos, mas tenho o sonho de ver esse trecho e tantos outros projetos, como os turísticos e principalmente os de carga, concretizados. Um novo modal que alivie a ponte aérea Rio-São Paulo é fundamental para os dois maiores centros econômicos do país. Mas a realidade do transporte público é muito precária, com operadoras em processo de devolução de concessão, como a Supervia, que é um problema sério”, analisa Mauro Viegas Filho, presidente do Conselho Empresarial de Infraestrutura da Firjan.

 

Momento de otimismo

 

Os impasses jurídicos em torno das concessões e a falta de infraestrutura de segurança pública em diversos trechos de ferrovias também prejudicam o interesse na expansão da malha ferroviária. Mesmo assim, o momento é de otimismo, aponta Viegas. “Não há por que desanimar. O Porto de Açu terá ligação de seu terminal à EF-118, que fará a ligação do Rio a Vitória, passando por Anchieta, no Espírito Santo. A MRS, que renovou a concessão para operar 1,6 mil quilômetros de ferrovias por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, vai instalar um polo intermodal em Queimados, na Baixada Fluminense. São iniciativas que contribuirão para o escoamento de produção e a logística no território do Rio”, complementa Viegas.

 

 

Foto: Divulgação MRS
Foto: Divulgação MRS

 

Isaque Ouverney, gerente de Infraestrutura da Firjan, salienta que os prazos de implantação dos projetos de expansão ferroviária podem se estender. Afinal, a implantação de uma ferrovia é mais demorada do que a abertura de uma estrada de asfalto: “Existem projetos estratégicos para dinamizar o setor portuário fazendo a conexão com as ferrovias, com a recuperação de trechos que estão desativados, como o que ligaria o porto de Angra dos Reis, no Sul Fluminense, a Minas Gerais. São investimentos fundamentais para a atração de novos negócios e de novas indústrias”, acredita Ouverney.

 

Metrô Rio chegará à Gávea e à Praça XV

 

No tocante ao modal para passageiros, o Rio de Janeiro possui a segunda maior malha ferroviária do Brasil, principalmente pelo transporte urbano, que requer avanços. Entre os investimentos em infraestrutura apontados na Agenda Firjan de Propostas para um Brasil 4.0 estão a melhoria da infraestrutura metroviária e ferroviária, beneficiando a mobilidade urbana metropolitana pela expansão da Linha 2 do Metrô Rio – ligando as estações Estácio e Carioca e a conclusão da estação Gávea da Linha 4. O trecho na Zona Sul, com uma estação em frente à Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), é considerado viável e rentável, com um movimento previsto de 55 mil passageiros por dia. A estação, que deveria ter ficado pronta para a Olimpíada de 2016, teve as obras paralisadas em 2015. Outro pleito da Firjan envolve a construção da Linha 3 do Metrô, entre Niterói e São Gonçalo.

 

Washington Reis, secretário estadual de Transportes, diz que a população carioca pode ficar tranquila, pois as obras na Gávea devem ser concluídas ainda este ano, com previsão de início de operação imediata. Já a ampliação da Linha 2, no trecho entre Praça XV e Estácio, é também prioridade para a Secretaria. A obra já tem traçado desenhado e está no planejamento de execução do governo do estado, com projeto conceitual avançado e pré-orçamento estimado.

 

Composição da linha 1 do metrô na Estação Central do Brasil | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Composição da linha 1 do metrô na Estação Central do Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 

"Os desafios dos transportes públicos são muitos, e a expansão da rede metroviária é um dos nossos focos. Vemos o sistema como um todo, onde se interligam metrô, barcas, trens e linhas de ônibus. Somente nos primeiros meses de gestão, implementamos a Tarifa Social no metrô, beneficiando mais de 500 mil passageiros, que pagam apenas R$ 5 com o Bilhete Único Intermunicipal. Estamos avançando para desatar o imbróglio da estação Gávea, além de buscar referências e apoio de potências mundiais com êxito na área de transportes. A população do estado pode ficar tranquila, que estamos trabalhando com muito afinco para melhorar a capacidade de atendimento e a qualidade do deslocamento de todos", reforça Reis.

 

Transporte de cargas pela ligação do Açu 

 

No tocante ao transporte de cargas, a conexão ferroviária de 41 Km do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense, com a malha nacional vai gerar “uma enorme oportunidade de desenvolvimento industrial, geração de emprego e renda” na região, além de contribuir para a reindustrialização do estado do Rio, acredita João Braz, diretor de Terminais e Logística do Porto do Açu. Atualmente em fase de detalhamento do projeto de engenharia, que tem prazo de conclusão de 18 meses, o trecho prevê investimentos de R$ 610 milhões. 

 

“O Açu, que é o único porto totalmente particular do país, obteve a primeira autorização privada para construção de uma ferrovia no estado do Rio de Janeiro. O início dessa obra está condicionado à construção da ponte ferroviária sobre o Rio Paraíba do Sul, prevista na extensão do Corredor Centro-Leste. Em paralelo, estamos em tratativas com o governo federal para que definam os investimentos públicos a serem usados nessa extensão, levando a ferrovia até São João da Barra e possibilitando a conexão do porto”, informa Braz.

 

Segundo ele, a conexão ferroviária do Açu permitirá a movimentação de 16 milhões de toneladas/ano, sendo 8 milhões de toneladas de grãos. “A previsão é que, em 2035, o Açu receba cerca de 26 milhões de toneladas pela ferrovia. O Açu é atualmente o principal vetor de desenvolvimento e atração de negócios do Sudeste brasileiro, tendo colocado o Rio de Janeiro no mapa nacional do agronegócio”, destaca.