Trabalhadores em indústria do Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo

CORTE, COSTURA E TECNOLOGIA
EM NOVA FRIBURGO


Fevest 23, maior feira de lingerie, praia e fitness do Brasil, mostrará o diferencial das empresas locais para ganhar o mercado internacional  

 

Com produção de mais de 300 milhões de peças de lingerie, moda praia e fitness por ano, 35% da produção nacional, o Polo de Moda de Nova Friburgo está se preparando para novos desafios: voltar a ter participação relevante no mercado externo e aumentar a competitividade frente a gigantes internacionais, como os chineses. Um ponto de partida é a Fevest 23, de 9 a 11 de agosto, que volta a ser uma feira de negócios, sem vendas a varejo.  

  

“A Fevest tem 32 anos e entendemos que deve resgatar suas origens, voltando a ser uma feira de negócios. Os expositores são associados ao sindicato e nosso foco são visitantes lojistas nacionais, grandes magazines e compradores”, destaca Gustavo Moraes, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sidvest-NF).  

  

A expectativa é grande e 70% dos estandes foram vendidos no dia do lançamento. No início de julho, já havia 110 expositores inscritos.  

 

 

Balanço do Polo Industrial da Moda Íntima de Nova Friburgo

 

Comércio exterior  

Na Fevest haverá uma mesa-redonda com a participação de representantes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), da Agência de Promoção de Comércio Exterior (Apex) e da Firjan Internacional, para discutir os desafios dos empresários do Polo de Moda para exportar. Além disso, os estandes dessas instituições estarão abertos para tirar dúvidas sobre comércio exterior.   

  

O objetivo do sindicato também é criar um programa de qualificação para comércio exterior com trilhas que serão formatadas junto à Firjan SENAI e à Firjan Internacional. No Polo de Nova Friburgo, já houve consórcios de exportação, principalmente nos anos 1980 e 1990, com destino aos EUA e Europa. Atualmente o volume de exportação é pequeno.  

  

As vendas externas fluminenses do setor de moda íntima, de praia e fitness atingiram seu maior valor em 2004, registrando US$ 12 milhões, segundo levantamento da Firjan. No comparativo entre 1997 e 2022, o estado do Rio de Janeiro exportou menos 38%. Enquanto em 1997 as vendas externas totalizaram US$ 11,3 milhões, ano passado ficaram na casa de US$ 7 milhões.   

 

Confecção na capital da moda íntima, Nova Friburgo /RJ
O Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo quer reconquistar espaço no mercado internacional (Foto: Divulgação /Sindvest)

 

Competitividade  

O Polo de Moda de Friburgo está sendo penalizado pela entrada dos produtos chineses vendidos a valores muito baixos. “A concorrência é extremamente desleal. Se não houver por parte do governo federal a criação de uma barreira de proteção, corre o risco de a nossa indústria ir se acabando. Ainda mais com o Custo Brasil, fica difícil ser competitivo”, alerta Moraes.  

  

A Firjan, junto de outras instituições, enviou carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pedindo a revisão de recentes legislações relativas ao comércio eletrônico internacional, com maior destaque para a portaria do Ministério, que isenta principalmente plataformas estrangeiras do pagamento do imposto de importação para remessas enviadas a pessoas físicas de valor até US$ 50, desde que aderidas ao programa Remessa Conforme. Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da federação, também entregou a carta a Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no início de julho.  

  

O Sindvest espera que o governo federal taxe os produtos chineses para que eles cheguem ao Brasil a preços semelhantes aos produzidos aqui. Moraes teme que a política das empresas chinesas de anunciar nacionalização dos produtos seja para “inglês ver”. Ele lembrou que, no passado, marcas estrangeiras traziam camisas para terem apenas a gola e a etiqueta colocadas no Brasil e taxadas como produto nacional.  

  

“Se o consumidor tiver que pagar um imposto alto, vai enfraquecer a compra digital dos sites chineses. Os magazines são os que mais estão sofrendo e fechando muitas lojas. Em parceria com a Firjan, o Mercado Livre está tentando ajudar a indústria fluminense, com capacitações para promover a venda digital e enfrentar a concorrência externa”, analisa Moraes.  

 

Tecnologia aplicada na indústria da moda íntima de Nova Friburgo /RJ
Indústria do Polo de Nova Friburgo aplica tecnologia em seus processos produtivos (Foto: Divulgação / Sindvest)

 

Panorama e tendências  

Os alunos da Firjan SENAI de Nova Friburgo foram desafiados a buscar formas criativas para as empresas fluminenses vencerem a concorrência externa. “A arte foi apontada como a grande arma das indústrias. Trabalhar o design brasileiro, mostrando o que temos de único e singular. Os 14 projetos dos Novos Talentos serão apresentados na Fevest 23. As histórias de Friburgo e das fábricas pioneiras fazem parte das criações”, conta Milena Cariello, coordenadora de Educação Profissional da Firjan SENAI Espaço Moda de Nova Friburgo. 

 

Nova Friburgo e outras 10 cidades das regiões Centro-Norte e Serrana possuem mais de 3 mil indústrias do setor de moda registradas, sendo 57% MEI e 37% microempresas. Friburgo vende sua produção de moda para o Brasil todo, através de grandes centros de distribuição. O Norte e o Nordeste compram mais peças coloridas. Já o Sul dá preferência à cartela clássica, nudes. E o Sudeste, consome em grande parte, a moda fitness e a praia, de acordo com Milena. 

  

Dono da Bree Intimates, uma fábrica de lingerie que persiste há 46 anos, o presidente do Sindvest-NF fala sobre as tendências da moda atual. “Como produtor, percebo que a lingerie virou uma peça que não é mais para ficar escondida. Isso está muito forte no mercado. Mais renda, mais tule em peças elaboradas para aparecerem. Para todos os tamanhos do PP ao plus size”, revela Moraes. 

 

Na modelagem, as peças menores têm tido mais procura. Já os fabricantes locais têm que adaptar os sutiãs à modelagem da União Europeia e dos EUA. Lá o bojo é de um tamanho e o coz de outro para se adaptarem ao corpo da mulher. Na opinião de Milena, o Polo tem feito um trabalho forte, crescendo muito nos setores de moda praia, pós-praia e fitness. “Além de ser a capital da moda íntima, também já é um grande produtor da fitness, com look muito urbano. A estamparia é quase um cartão postal, mostra recortes e a essência do Brasil. No setor de lingerie vejo muita força nos produtos da linha funcional para pós-maternidade, gestação, pós-cirúrgico e pós-mastectomia. Não só a lingerie sensual”, destaca ela. 

  

Os tecidos são altamente tecnológicos e na linha fitness criam mais compressão para evitar celulite. O tecido absorve rapidamente o suor e o expele. Nos tecidos digitais, é possível personalizar a impressão da estampa. A principal tendência é de mais tecnologia na confecção. Hoje todo o risco (molde) é feito no computador, e as salas de corte são todas automatizadas. As máquinas de costura também são modernas e eletrônicas. Possuem programação de ponto e corte da linha, mas precisam de alguém para operar. As confecções costumam usar um programa nacional ou um alemão. 

  

“Mas é preciso muito trabalho manual para fazer o encaixe do molde com as peças e para operar as máquinas de costura. A indústria de confecção é 100% dependente de mão de obra. A região de Nova Friburgo emprega 28 mil pessoas, entre trabalhadores diretos e indiretos, sendo que 80% são mulheres. Possuímos a menor taxa de desemprego feminino no Brasil”, declara Moraes. 

  

Para se preparar para costurar com tecnologia, a Firjan SENAI oferece um leque de cursos como técnico em vestuário e produção de moda, além de formar o jovem aprendiz. “A escola tem a escuta ativa para o empresário. Estimula o jovem a pensar na costura como profissão, deslumbrando o mundo digital. E temos o SENAI Lab da Moda, onde o aluno faz impressão 3D e corte a lazer”, indica Milena.