TRANSFORMAÇÕES REFLETEM
NO FUTURO DO TRABALHO


A digitalização da economia, a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos e as mudanças na matriz energética vêm se refletindo em transformações no mundo do trabalho, como aponta o Report de Macrotendências 2023/2024, elaborado pelo Lab de Tendências da Casa Firjan. Uma das grandes mudanças está na tecnologia, com a otimização de processos de maneira mais autônoma a partir da democratização da inteligência artificial generativa. Para manter a relevância diante de tantas mudanças, empresas e profissionais precisam adquirir cada vez mais novos saberes e modos de trabalhar. 

 

É o caso do setor de joias, que, após o mercado automobilístico, foi o segundo a se apropriar do desenho e impressão 3D. Assim como ocorre com as autopeças, que precisam de impressão fina, o processo de elaboração de joia também utiliza essa tecnologia. Mais de 90% do setor já aderiu a esse processo de criação, que possibilita maior flexibilidade e diminui o custo com os erros de modelagem. A empresa Art’Lev, localizada na capital, adotou esse processo em 100% da sua produção e consegue ter uma visão do produto final, sem perdas com molduras em metal.

 

“Conseguimos ter uma amostra do produto real, sem que esse produto tenha sido fabricado. É possível vender a peça antes de ela ter sido produzida. Esse processo só tem a avançar, com todos os mecanismos tecnológicos que enriquecem a jornada do produto, experimentando o consumo virtual, com exposição a custo baixo”, avalia Carla Pinheiro, proprietária da Art’Lev e presidente do Sindicato das Indústrias de Joalheria e Lapidação de Pedras Preciosas do Estado do Rio de Janeiro (Sindijoias).

 

Olhando para o futuro, Carol Fernandes, coordenadora do Lab de Tendências da Casa Firjan, reflete sobre o papel das novas ferramentas de inteligência artificial. “Muitos acham que a tecnologia vai ocupar parte das vagas do mercado de trabalho e outros pensam que ela vai funcionar como uma ferramenta colaborativa, reduzindo o tempo em processos burocráticos. A Inteligência Artificial Generativa pode criar textos, vídeos e muito mais. Por outro lado, as máquinas precisam ser alimentadas e reguladas pelos humanos, o que cria outras frentes de trabalho”, pondera Carol, que ainda levanta a questão da propriedade intelectual: ”de quem é a autoria de uma criação feita em conjunto por humanos e máquinas?”

 

 

 

Assessoria de Inovação da Firjan

 

A inovação chegou à Olaria Vargem Alegre, em Pinheiral, no Sul Fluminense, através de um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), com apoio da Assessoria de Inovação da Firjan. A empresa, que atua no mercado de cerâmica de alvenaria desde 1938, implantou em 2014 uma estufa de secagem de tijolos automatizada que melhorou significativamente a qualidade do produto, reduziu o custo e ampliou a produção de 25 a 30%. 

 

“Vale ressaltar que nesse processo alimentamos o nosso forno com madeira reutilizada, que é descartada por outras indústrias ao nosso redor, acrescentando, portanto, um viés de sustentabilidade. Temos um fluxo de informação constante com os nossos colaboradores para discutir novas realidades do mercado, demandas por qualidade e outros pontos. Além disso, usamos as ofertas de cursos da Firjan SENAI”, salienta Henrique Nora Jr, sócio da olaria e presidente da Firjan Sul Fluminense e do Sindicato da Indústria de Cerâmica para Construção e Olaria do Médio Vale do Paraíba (Sindicer-MVP).

 

Outras tendências apontam para: automação, redes 5G e mais uso de dados para facilitar a tomada de decisão, além do impacto da economia digital nas empresas, com as criptomoedas e as NFTs. A Eneltec, de Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, é especializada em soluções tecnológicas, como internet das coisas (IoT) e indústria 4.0. “Com a implantação do 5G, a tendência é aumentar o escopo de clientes e o desenvolvimento dos produtos oferecidos. Nossa tecnologia permite o monitoramento instantâneo de gados e lavouras, trazendo eficiência e agilidade no controle de doenças”, explica Rodrigo Martins, sócio-fundador da Eneltec.

 

A tecnologia está sendo testada numa fazenda de Mato Grosso, onde foram colocados chips em gados para monitorar peso e temperatura dos animais; e numa plantação de milho, onde câmeras identificam se há alguma peste na lavoura. Outros usos acontecem numa indústria de laticínios, a fim de auferir em tempo real a medição do volume do leite; também num posto de combustíveis, na forma de um programa de recompensas que estimula o consumo de etanol, menos nocivo ao meio ambiente.

 

Transformação digital impulsiona vendas

 

Já a expansão dos negócios da Altec, de Cordeiro, no Centro-Norte Fluminense, foi apoiada pela engenharia de processos digitais, em busca de tendências e inovações tecnológicas. A empresa fabrica equipamentos, instalações industriais e plantas de processamento de materiais para os segmentos de siderurgia, mineração, pedreira, cimenteira, entre outros. Os engenheiros utilizam tecnologia de ponta para a criação de equipamentos e produtos modernos. 

 

De acordo com Mauro Alvim, diretor da Altec, a empresa foca na busca por profissionais que estejam alinhados com o mercado digital. Dessa forma, consegue expor seus produtos para possíveis clientes de outros estados por meio de canais nas redes sociais. “O meio digital também contribui para a retenção de talentos. Tudo isso contribuiu para que alcançássemos projetos maiores, mais modernos e eficientes", pontua Alvim, que é presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Nova Friburgo (Sindmetal CN).

 

A dificuldade de reter profissionais é outro tema do Report de Macrotendências. “Os jovens não procuram só salários, querem saber sobre o modelo de trabalho. Muitos optam pelo remoto, buscam mais qualidade de vida e horários e formatos mais flexíveis”, relata Carol. A pesquisadora explica que a sociedade está pensando mais em bem-estar e saúde. Sustentabilidade, ESG, responsabilidade das ações da empresa sobre o planeta são outros tópicos de destaque. 

 

A partir da pandemia, a Panificação Flor da Tijuca, na capital, precisou rever seu processo de produção e venda. Os pães artesanais precisaram ser reformulados para manter a característica, com um período de validade maior. O segundo passo foi inserir o negócio no mundo digital. Atualmente 70% das vendas são feitas por meio on-line. Nos canais digitais, a padaria conta com um avatar, que apresenta os produtos do dia. E o cliente, de casa, consegue saber a hora que sai o pão fresquinho do forno. 

 

“O meio digital foi se aperfeiçoando. Tive a necessidade muito grande de buscar mais conhecimento. Estamos crescendo e aperfeiçoando a equipe. Sou varejo, sou panificação, adoro gente, mas também consigo manter atendimento on-line”, destaca Fernanda Hipólito, dona da Flor da Tijuca e presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Município do Rio de Janeiro (Rio+Pão).