

Publicado em 30/05/2025 - Atualizado em 06/06/2025 08:59
MUITO ALÉM
DAS ARMAS
GPS, Internet e drones são tecnologias desenvolvidas para uso militar, que hoje estão no dia a dia das pessoas
Você sabia que a indústria de defesa e segurança contribui para inovações no desenvolvimento de equipamentos médicos de precisão? Essa é apenas uma das competências dessa indústria que vai muito além da fabricação de armas. O setor, que promove inovação e competitividade, representa 4,78% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e emprega cerca de 2,9 milhões de pessoas, sendo 1,6 milhão empregos diretos e 1,3 milhão indiretos, segundo o Ministério da Defesa.
“A indústria de defesa e segurança tem um vasto potencial. Ela desenvolve tecnologias de ponta, que impactam diversos setores da sociedade e da economia, o que chamamos de tecnologias duais, para uso militar e civil”, informa Carlos Erane de Aguiar, 1º vice-presidente da Firjan e presidente do Conselho Empresarial de Defesa e Segurança da federação.

Fundador da Condor Tecnologias Não Letais, Erane complementa que, além das soluções para a defesa, a indústria contribui para inovações em áreas como inteligência artificial, telecomunicações, monitoramento por satélite, sistemas de comunicação e até mesmo no setor de agricultura e saúde, com o desenvolvimento de equipamentos médicos de precisão.
O empresário cita alguns exemplos de tecnologias para uso militar que hoje estão no dia a dia das pessoas: o Sistema de Posicionamento Global (GPS), a Internet e, mais recentemente, os drones.
“Os drones, que inicialmente foram desenvolvidos para missões de reconhecimento e ataques militares sem a presença direta de tropas em áreas de risco, hoje são utilizados em setores como agricultura, entrega de mercadorias, filmagens aéreas e monitoramento ambiental”, explica.
Simulador da Firjan SENAI opera no Exército
O primeiro de quatro Simuladores de Procedimentos de Motorista (SPM) do blindado Guarani concluído em março pela Firjan SENAI está operando em Cascavel (PR) com sucesso. A informação é do General de Divisão Tales Eduardo Areco Villela, diretor de Fabricação do Exército Brasileiro, que considera que a parceria desenvolvida com os Institutos SENAI permitiu avançar de forma muito segura e objetiva no desenvolvimento técnico do projeto.


O segundo simulador, previsto para ser entregue em novembro, ficará em Santa Maria (RS); o terceiro vai para Campinas (SP) e o quarto será instalado em Uberlândia (MG). Os locais escolhidos são cidades-chave que concentram um grande número de Guaranis, que poderão ser explorados 20 horas por dia.
“O objetivo do SPM é treinar motoristas para a viatura Guarani, que é um veículo blindado de transporte de pessoal e amplamente utilizado pelo Exército Brasileiro nas mais diversas operações”, explica o general Villela, ressaltando que já há pelo menos 600 veículos Guaranis em uso no Exército Brasileiro, com previsão de mais entregas ao longo dos anos. Em todo o país, o número de viaturas com plataformas Guarani deve chegar a 1.300.
Segundo o general, a importância do simulador se traduz na redução de treinamentos com a viatura real, na economia de combustível e no menor desgaste de componentes, aumentando a disponibilidade da viatura. Sem contar que se trata de conhecimento nacional que vai ser internalizado no Exército. “A propriedade intelectual é nossa. Somos donos do pacote técnico”, comemora, ao enfatizar que a parceria com a Firjan SENAI é bastante profícua.
“A Firjan SENAI tem um enorme potencial na área de simulação. Estamos bastante satisfeitos com a qualidade dos profissionais e das competências. Atualmente, o retorno de quem está utilizando o simulador é o mais positivo possível”, complementa.
Segundo o General, o grande diferencial está no resultado da simulação, que incorporou cenários adaptados à nossa realidade, seja em terrenos urbanos ou cenários off road, que foram criados pelos especialistas da Firjan SENAI, incluindo cidades com o perfil de ruas e casas do Brasil.
Viatura anfíbia 100% nacional
Esse primeiro simulador 100% nacional, desenvolvido por Institutos SENAI de Tecnologia e Inovação para o Exército brasileiro, treina os motoristas da viatura blindada Guarani para as rotinas e para situações atípicas, como acidentes, sinistros, pneu furado, problemas hidráulicos e elétricos, entre outros, de acordo com Bruno Xavier, coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Firjan SENAI.
“Essa foi a primeira das quatro unidades dessas viaturas anfíbias que serão entregues pela Firjan SENAI até 2027 para as Forças Armadas. O desenvolvimento exclusivamente nacional dos simuladores traz a grande vantagem estratégica de não dividir a tecnologia com ninguém”, afirma Xavier.
Os equipamentos são multipropósitos, servem tanto para transporte de tropas ou combate, quanto para uso civil, como no apoio a desastres naturais.
“Os Institutos SENAI fazem soluções específicas, altamente personalizadas para as empresas, com todas as especificidades necessárias, como nesse caso para a viatura blindada sobre rodas Guarani, incluindo as partes mecânica, elétrica, de automação e de software”, afirma o coordenador de Pesquisa. O tanque pesa mais de 10 toneladas e pode chegar à velocidade de 100 quilômetros por hora.
Feira de Defesa
Com o objetivo de apresentar soluções tecnológicas dos setores de defesa e segurança, a Firjan participou da Feira de Defesa e Segurança da América Latina, a LAAD Defence & Security 2025, principal exposição do setor na América Latina. Em abril, a federação, em parceria com o SENAI CETIQT, mostrou a oferta de serviços tecnológicos e pesquisa aplicada da Rede de Institutos de Inovação e Tecnologia da Firjan SENAI SESI para os setores de defesa e segurança no Riocentro.
Os Institutos de Tecnologia e Inovação da Firjan SENAI SESI desenvolvem também para o setor de Defesa novas tendências e novos materiais, como serviços voltados para defesa biológica, ciência de dados e Inteligência Artificial (IA) e protótipos de simuladores de alta complexidade do submarino Tupi.
“A Firjan SENAI SESI acredita na ciência, tecnologia e inovação e como isso impulsiona o progresso da indústria em diversas áreas essenciais para o país, garantindo um futuro mais seguro, mais sustentável e mais avançado. Isso reflete o compromisso da instituição com o desenvolvimento de solução tecnológica de ponta para o setor de defesa”, analisa Carla Giordano, gerente Regional de Pesquisa e Serviços Tecnológicos na Firjan SENAI SESI.
Marco tecnológico para fardas
Um exemplo é o novo Conjunto Camuflado Alto Desempenho, um Produto Estratégico de Defesa (PED) desenvolvido para o Exército Brasileiro pelo Instituto de Inovação em Biossintéticos e Fibras da Firjan SENAI SESI, em cooperação com as indústrias têxteis e de confecção nacionais.
“A alta tecnologia empregada no uniforme incorpora funcionalidades essenciais para os militares, como acabamento antimicrobiano, proteção contra infravermelho, alta solidez, proteção solar e tecnologia antivetores, muitas dessas aplicadas por meio de nanotecnologia no tecido. Esse projeto reafirma a capacidade da Rede SENAI de desenvolver soluções inovadoras para o setor de Defesa e Segurança”, esclareceu Renata Monteiro, engenheira têxtil e especialista em Projetos Estratégicos de Defesa e Segurança do instituto.
Tecnologia e inovação
O Condor Drop é outro bom exemplo de como a indústria armamentista empresta sua tecnologia para o desenvolvimento de inovações.


“É um drone desenvolvido pela nossa empresa no Brasil, que utiliza exclusivamente cargas não letais fumígenas e não tem nada parecido no mundo. A uma distância segura, as forças de defesa e segurança são capazes de dispersar um distúrbio à distância, sem necessidade de confronto temporal, com extrema precisão e eficácia, sem causar perda de vidas e danos permanentes, dentro do que a ONU convencionou chamar de Uso Proporcional da Força”, explica Carlos Erane.
Segundo o empresário, ao incentivar a produção de tecnologias de ponta, a indústria de defesa fortalece a capacidade industrial nacional e reduz a dependência de tecnologias estrangeiras, o que é crucial para a soberania nacional. “O setor também tem um papel importante nas exportações, contribuindo para o fortalecimento da balança comercial brasileira”, conclui.
Nova Indústria Brasileira
A Missão 6 da Nova Indústria Brasil (NIB), que coloca a inovação e a soberania tecnológica no centro de transformação da indústria do país, é um capítulo à parte para o setor. Carla Giordano traçou um paralelo dos objetivos da Firjan SENAI SESI com o programa de governo lançado em fevereiro de 2025, que conta com investimentos de R$ 112,9 bilhões.
“Compreendemos que é uma oportunidade estratégica para fortalecer a base industrial de defesa do país e impulsionar o desenvolvimento tecnológico. Essa iniciativa é essencial para ampliar o domínio brasileiro em tecnologias avançadas. Assim como inteligência artificial, sensor de alta precisão, comunicação segura e até monitoramento via satélite”, ressaltou a gerente da Firjan SENAI SESI.
Na visão da Condor, o programa também é visto como de extrema importância para o fortalecimento da indústria nacional de defesa e segurança e está alinhado com os objetivos da empresa.
“Acreditamos que esse tipo de iniciativa contribui diretamente para o avanço de tecnologias nacionais e cria novas oportunidades de negócios e parcerias entre empresas, governo e sociedade, além de fortalecer a posição do Brasil como líder em soluções de defesa no cenário global”, diz Erane.
Carla Giordano enfatiza que essas políticas bem estruturadas fortalecem não só a defesa do Brasil, mas também podem colocar o país numa condição mais relevante no contexto internacional de alta tecnologia.
“Um país que tem uma indústria de defesa desenvolvida, geralmente é um país que está nas mais altas posições do índice global de inovação, porque as tecnologias que são desenvolvidas no campo da defesa sempre têm uma aplicação muito mais ampla. Então, isso é de extrema importância e de extrema relevância para a indústria no país, é o motor da inovação”, pontua a especialista da Firjan.
Tributos e recursos
Ao comentar o que falta para o Brasil ser um grande exportador de tecnologia desse setor, o empresário foi taxativo na defesa de uma mudança no ambiente tributário e regulatório que existe hoje, que, para ele, não ajuda.
“Acima de tudo, é preciso compreender que um planejamento de defesa sólido depende de recursos orçamentários adequados. No Brasil, os investimentos em defesa representam apenas 1,1% do PIB, ficando aquém da média mundial de 2,3% e da média dos países BRIC, de 3,5%”, afirma Erane.
O Sindicato Nacional das Indústrias de Material de Defesa (Simde) iniciou uma mobilização para que sejam criados fundos soberanos para cada uma das Forças Armadas.
“O Brasil deve explorar fontes inovadoras e sustentáveis de financiamento. A criação de fundos soberanos com custeio permanente atrelado a atividades cotidianas é um caminho viável. Cada Força deveria ter seu próprio fundo nacional, a exemplo do Fundo Nacional de Segurança Pública”, afirma Frederico Aguiar, presidente do Simde, lembrando que esse fundo é custeado com parte da arrecadação da loteria esportiva, sendo um fundo soberano, não contingenciável e com arrecadação permanente.
Na opinião de Aguiar, outro aspecto fundamental é o papel das Forças Armadas como promotoras da tecnologia nacional. “Esses contratos permitem que as empresas invistam em inovação com segurança, sabendo que haverá um mercado garantido para seus produtos. Além disso, o fomento a indústrias que fabricam no Brasil fortalece nossa soberania, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros e garantindo que os empregos gerados permaneçam em nosso país”, justifica.