Publicado em 09/11/2023 - Atualizado em 18/01/2024 09:25
INCLUSÃO E DIVERSIDADE
NOS TEATROS FIRJAN SESI
A cultura como expressão artística e também instrumento de transformação social e ambiental
Ao oferecer uma programação de espetáculos que buscam provocar reflexões sobre a atualidade, discutindo aspectos de diversidade e inclusão, os seis Teatros Firjan SESI – Centro, Jacarepaguá, Caxias, Macaé, Campos e Itaperuna – chegam ao último trimestre de 2023 com casas cheias.
“Os Teatros Firjan SESI se firmaram não apenas como pontos de fruição e distribuição de cultura, de identidade cultural, mas principalmente como focos de experiência. Especificamente depois da pandemia, o que as pessoas mais precisam é voltar a ter essas experiências agradáveis, exponenciais e positivas com outras pessoas. Só a cultura consegue trazer toda a potencialidade dessas experiências”, acredita Leonardo Edde, presidente do Conselho Empresarial de Indústria Criativa da Firjan.
A reabertura de dois Teatros Firjan SESI – Itaperuna e Macaé, fechados desde a pandemia – e a retomada da programação do Centro após breve reforma – traz também benefícios para o desenvolvimento econômico e social em todo o estado, aponta Edde. “Quando um teatro é reaberto, todo o entorno volta a se movimentar. A Firjan apoia a cadeia produtiva da cultura, parte da Indústria Criativa, que foi um dos setores mais prejudicados ao longo da pandemia e que agora começa a se recuperar, levando música, teatro, dança e outras manifestações artísticas para outras regiões fluminenses”, diz Edde.
Edital 2024
A diversidade da programação segue critérios há muito estabelecidos pela Firjan SESI. Espetáculos que entram em rede, percorrendo diferentes unidades, são escolhidos em editais, como o que abre inscrições neste mês de novembro de 2023. O Edital Firjan SESI 2024 de artes cênicas (teatro, circo e dança), artes visuais, música e literatura selecionará 70 projetos para compor a grade de programação do próximo ano. Além desses, há projetos escolhidos por curadoria artística, que visam fortalecer reflexão, consciência crítica e educação permanente sem estarem necessariamente ligados a entretenimento.
Os temas de diversidade e inclusão não obedecem a uma agenda, esclarece Antenor Oliveira Neto, coordenador de Cultura e Educação da Firjan SESI. “Entendemos a cultura não apenas como expressão artística, mas também como instrumento de transformação social e ambiental, com reflexões sobre o combate ao racismo, sexismo e etarismo. A inclusão e a diversidade são pautas permanentes, por isso não datamos a programação para abordar racismo apenas no dia da Consciência Negra, nem tampouco do tema LGBTQIAPN+ no dia 28 de julho”.
Shows de músicos conhecidos, como Paulinho Moska, Luciana Mello e Ana Cañas; e o monólogo “O pior de mim”, da atriz Maitê Proença, estão percorrendo o circuito de teatros.
“Queremos levar para o interior os grandes nomes que ficariam restritos à capital se não tivéssemos essa rede de teatros. Mas sempre garantimos o espaço para talentos de cada região. Também existe o cuidado em adequar a escolha do espetáculo à vocação do território. Quem vai ao teatro do Centro carioca quer sair do trabalho e relaxar, pode entrar apenas por curiosidade, sem a mesma escolha do que sai de casa no fim de semana para assistir a uma peça. Tem dado certo. As atrações vêm esgotando todas as bilheterias em todas as casas”, acrescenta Oliveira.
Únicos teatros locais ativos
Os Teatros Firjan SESI de Itaperuna e Macaé são as únicas salas teatrais em funcionamento dos dois municípios. Para José Magno Vargas Hoffmann, presidente da Firjan Noroeste Fluminense, a devolução do equipamento cultural traduz “toda a resiliência da federação”, ao retomar as atividades depois da paralisação ao longo da pandemia. “Esta reabertura por si só já é de grande importância pois este é o único teatro de Itaperuna. O significado ainda é maior depois que enfrentamos o período mais sombrio dessa geração. A cultura é parte fundamental da nossa existência e também da economia, e, por isso, devolver esse equipamento cultural é um enorme presente para a sociedade, marcando os 30 anos de atuação da Firjan SESI em nossa região", afirma Hoffman.
Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte Fluminense, destaca a reabertura do teatro de Macaé pela contribuição para o desenvolvimento da Indústria Criativa e por movimentar a economia da região. Um dos trunfos da Firjan SESI, diz ele, é a diversidade da programação. “Trazemos à região artistas de relevância nacional e internacional, dividindo o mesmo palco com artistas locais”.
Questões de gênero, identidade e outras
Desde o primeiro semestre, as temáticas identitárias dominaram os espetáculos e até exposições nos Teatros Firjan SESI, como a mostra Mercedes Baptista – A dama negra da dança, na reabertura do Teatro Firjan SESI Campos, com fotografias, figurinos e prêmios da primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, introdutora da dança afro no Brasil e da participação de dançarinos com formação clássica nas escolas de samba cariocas. Também chegou ao palco do Teatro Firjan SESI Centro a premiada peça Macacos, de Clayton Nascimento, que aborda episódios de racismo através de relatos de parentes de jovens negros presos ou mortos por policiais no Brasil.
Contemplados pelo Edital de Cultura Firjan SESI, O grande dia, de André Lemos, trata da complexidade da masculinidade negra, enquanto Amor e outras revoluções, de Tati Villela, reflete sobre as experiências afetivas de duas mulheres negras. O musical Benjamim, o palhaço negro, de Isaac Belfort, celebra a vida e a obra de Benjamim de Oliveira, um dos mais célebres artistas circenses do país. São exemplos de espetáculos que circularam pela rede de teatros.
Três peças infantis contempladas pelo Edital de Cultura Firjan SESI tratam da importância da cultura africana e do protagonismo negro: Kawó, o rei chama, Galinha d’Angola e O pequeno herói negro.
As angústias e o deslocamento social da mulher contemporânea são outros temas recorrentes nas peças que foram encenadas este ano, entre elas a irreverente reflexão sobre o machismo, assédio, consentimento e violência de gênero: King Kong Fran, de Rafaela Azevedo e Pedro Bricio, que esteve no Teatro Centro e em novembro faz uma minitemporada em Jacarepaguá.
Já a ópera funk Marielle presente, de André Lemos, conta a trajetória da vereadora Marielle Franco, assassinada há cinco anos. Leci Brandão – Na palma da mão, de Leonardo Bruno, celebra a vida e a obra da sambista. Observações sobre autoimagem, crenças limitantes e padrões de beleza estão em Exagerado, espetáculo inspirado nas músicas de Cazuza, criado pela Movimento Companhia de Dança. Já questões de gênero também foram levadas aos palcos em peças como Manifesto Transpofágico, de Renata Carvalho, que apresenta o corpo travesti como um experimento, e Céu de Framboesa, show das drags Sara Lola e Nina Paola sobre temas do universo LGBTQIA+. Em Três maneiras de tocar no assunto, Leonardo Netto analisa a homofobia.
Em cartaz no teatro do Centro, a peça O avesso da pele, de temática racial, baseada no romance de Jefferson Tenório, ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura 2021.
Ainda em novembro no Teatro Centro, um olhar moderno sobre um clássico de 400 anos, Julius Caesar – Vidas Paralelas, de William Shakespeare, aborda as relações de poder da trama original em um novo contexto: os ensaios de uma companhia teatral que prepara a montagem da peça. Com dramaturgia e direção de Gustavo Gasparani, o espetáculo, que comemora 35 anos do grupo carioca Cia de Atores, foi contemplado pelo Edital de Cultura Firjan SESI.
Acompanhe a programação clicando aqui.