Publicado em 22/02/2024 - Atualizado em 12/03/2024 10:09
INDÚSTRIA INVESTE
EM ENERGIA SOLAR
Transição energética: empresas fluminenses obtém rápido retorno do investimento
Já pensou em ter uma economia de 90% na conta de energia da sua indústria? Pois é o que a Cerâmica São José, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, terá daqui a um ano e meio, com o investimento que fez em painéis solares. Na fase inicial, a economia gerada é de aproximadamente 50% na conta de luz e arca com as parcelas do financiamento feito em abril de 2022 para adquirir 324 placas solares. A média da geração mensal é de 18 mil kW.
“A sustentabilidade é um dos focos principais desse nosso projeto. A parte ambiental e a social são os nortes da empresa. Conseguimos gerar toda energia que consumimos e isso agrega muito valor à marca. A implantação dos módulos e da usina solar custou R$ 600 mil. Como as cerâmicas são indústrias que têm uso intensivo de energia, o diferencial competitivo da energia solar é significativo”, conta Paulo Kássel Pessanha, diretor Industrial da cerâmica, que é associada ao Sindicato dos Ceramistas de Campos. Em Campos, mais de um terço do total de cerâmicas (45) já instalaram usinas solares.
A indústria do estado do Rio de Janeiro vem trilhando o caminho do uso de energias limpas e sustentáveis. A tendência é mais empresas de vários segmentos aderirem à ideia, já que a descarbonização e a transição energética são uma pressão da sociedade e, inclusive, fazem parte do escopo da política industrial lançada pelo governo federal, em janeiro deste ano, a Nova Indústria Brasil.
O estado do Rio apresenta alguns destaques em energia solar. Campos tem mais de 10 mil usinas solares instaladas em residências, pontos comerciais e industriais (10.208). A soma já supera a de 10 capitais brasileiras, como Vitória (ES), Recife (PE) e Curitiba (PR). Os dados são da Firjan, a partir de informações da Aneel.
Já a capital lidera o Ranking Municipal de Capacidade Instalada de Geração Distribuída Fotovoltaica, elaborado pela Firjan, a partir de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). São 215 mil kW na capital, seguida por Campos, com 62 mil kW, e Niterói, com 51 mil kW. Os dados são de 2 de fevereiro deste ano.
Investimentos na Baixada
Na Baixada Fluminense, os investimentos também são expressivos. Marcelo Pimenta, sócio e gestor da Água Mineral Hidrata, de Magé, viu na energia solar uma forma de economizar e preservar o meio ambiente. “Toda indústria busca soluções para reduzir os custos, ainda mais no mercado atual, com tantas modificações pós-pandemia. Quem tem uma área disponível e um consumo que valha a pena, está instalando placas solares. Já trabalhamos com o meio ambiente e estamos cercados de verde. A qualidade e a quantidade da água dependem de como está a superfície. Usar a placa é uma forma de emitir menos CO2”, garante.
Desde março de 2022, a Hidrata possui 94 placas solares e uma geração que consegue superar todo o consumo da empresa em meses do verão. Pimenta economiza em média R$ 8 mil por mês. O investimento total para colocar os painéis foi de R$ 255 mil, pagos com recursos próprios e financiamento pelo Pronampe, a juros de 6% ao ano. O empresário espera terminar de pagar no fim deste ano.
Mercado em alta
Na outra ponta do negócio, está a Solar Ambiental, empresa de Duque de Caxias, há cinco anos especializada na instalação de usinas solares em residência, comércio e indústria. Entre seus clientes estão empresas de vários segmentos, como alimentício, metalurgia e logística. Lorena Ramos, gerente comercial da Solar, comprova o crescimento desse mercado: “Tem crescido principalmente pela questão da redução dos gastos que podem ser usados para outro tipo de investimento nas empresas. É uma economia significativa. Mas a maioria dos projetos ainda é para uso residencial”, informa.
Lorena diz que, com a economia na conta, o consumidor consegue pagar o investimento em apenas três anos, em média. O exemplo que ela usa é o de uma pequena usina, com 56 módulos, ao custo de cerca de R$ 100 mil. Há diversas linhas de crédito bancárias que parcelam o serviço, complementa.
Energia compartilhada
O movimento que está sendo feito pelos empresários em busca de energia limpa está de acordo com a Nova Indústria Brasil. “Essa nova política industrial quer influenciar na ampliação do uso da energia limpa, no fortalecimento das práticas de eficiência energética e no desenvolvimento e domínio tecnológico das cadeias produtivas das fontes renováveis. O programa tem impacto direto na competitividade com produtos estrangeiros e na geração de emprego e renda. Na cadeia como um todo, a pequena e a média indústria que usar energia solar ou outra renovável estará mais habilitada para fornecer seus produtos para as grandes empresas”, avalia Tatiana Lauria, especialista em Energia da Firjan. O programa federal prevê corte de 30% na emissão de gás carbônico do PIB industrial até 2033 e juros a partir de 6,15% ao ano, para financiar projetos de descarbonização da indústria.
Outro segmento que optou pela energia solar, após fazer uma ampla pesquisa, foram panificadores ligados ao Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Município do Rio de Janeiro (Rio+Pão). Só que a opção adotada em conjunto por dez panificadores foi a energia solar distribuída compartilhada. É aquela que pode ser gerada por uma usina e ser consumida por empresas ou residências, em até outros municípios, desde que sejam da mesma concessionária (Light ou Enel). Com apoio técnico oferecido pela Firjan, o grupo começou a usar esse tipo de energia em novembro de 2023. A geração vem da Genial Solar, que possui parques em Vassouras, no Sul Fluminense. A economia total do projeto é de R$ 240 mil ao ano.
Uma das empresas beneficiadas é a Padaria Flor da Tijuca, comandada por Fernanda Hipólito, que preside o Rio+Pão. “Um desconto considerável na conta de luz e com investimento zero! Essa é a grande oportunidade desse projeto. Com auxílio de vários profissionais da Firjan e da empresa de energia, escolhemos essa opção”, destaca. Segundo Fernanda, há outros empresários interessados em formar um grupo para aderir à energia solar compartilhada. Para isso, é preciso que a Genial disponibilize outro parque solar e, em seguida, que a Light faça as adequações no local.
O mais importante para o Rio+Pão foi a oportunidade de despertar o desejo de se associar a quem não está na instituição. “A união dos associados gera a força. Essa é a função dos sindicatos: levar benefícios para os associados. Iniciativas assim ajudam a pagar as contas e a manter o sindicalismo”, garante Rogério Dutra Rabelo, sócio-proprietário da Pão & Companhia – Copacabana – Arcoverde e vice-presidente do Rio+Pão, que aderiu à iniciativa.
O projeto pode ser levado para sindicatos de outros setores também. “O importante é usar o potencial da Firjan, a assessoria fornecida para fazer a diferença nos negócios e no sindicato. Assim, desenvolve-se o município, o estado e o país”, incentiva Fernanda. O projeto tem parceria também do Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado do Rio de Janeiro (Sindistal). A Firjan auxilia as indústrias a avaliarem qual a melhor maneira de fazer a transição energética, usando novas fontes como a solar.
Evandro de Freitas Junior, presidente do Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Rio de Janeiro (Sindistal), destaca as vantagens da energia solar fotovoltaica para indústria e para o meio ambiente. “Trata-se de uma fonte de energia não poluente, ou seja, limpa e renovável, e que representa uma aposta das empresas em práticas de sustentabilidade. O potencial de economia para as empresas, claro, depende do consumo, da tarifa e de outros quesitos, que podem ser identificados e previstos através de um estudo prévio de compensação. Antigamente o custo de instalação afugentava, mas esse cenário mudou. Agora o retorno do investimento, inclusive até mesmo em residências, chega em bem menos tempo”, explica.
Capacitação
Para quem pretende trabalhar ou empreender nesse mercado, a Firjan SENAI possui cursos voltados para a área, no Centro de Referência em Construção Civil, na Tijuca. Um deles é o Técnico em Sistemas de Energia Renovável, que oferece formação completa.