duas mulheres pesquisadores em um laboratório

LUGAR DE MULHER
É TAMBÉM NA CIÊNCIA


Cada vez mais os Institutos da Firjan SENAI valorizam a presença feminina em pesquisas de diversas áreas

 

Nicolis Araújo, 35 anos, pesquisadora no Instituto SENAI de Inovação em Química Verde (ISI QV), tem uma paixão pela ciência que vem da infância. "Via filmes de invasão na Terra, que sempre têm aquele cientista que ajuda a salvar o mundo. Ficava fascinada". Primeiro pensou em fazer medicina, mas a vocação a direcionou para a Engenharia Química na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Trabalhou dois anos na exploração de petróleo em projetos onshore. "Era líder de projeto em campo, com vários homens ao redor".

 

Sua trajetória a levou para a Universidade Federal de Maringá (PR), onde pesquisou a influência de agrotóxicos na água. "Foi muito bacana para eu sair um pouco do campo da engenharia e entrar no da pesquisa. Percebi que gostava muito disso", relata Nicolis.

 

Em 2014, iniciou o mestrado em Engenharia Mecânica no Instituto Militar de Engenharia (IME), já no Rio de Janeiro, com foco em mísseis que produzem menos fumaça. "Voltei para minha infância, quando sonhava em trabalhar com foguetes". Em seguida, fez doutorado no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), estudando combustíveis verdes para foguetes e satélites.

 

Na Firjan, começou no Instituto SENAI de Tecnologia (IST) Química e Meio Ambiente em 2022, onde trabalhou com circularidade dos plásticos, executando um projeto para 13 empresas, entre elas Braskem, Eletropaulo, Grupo Boticário e Greenpeople.

 

Nicolis Araújo, no ISI QV: a pesquisadora lidera projetos de hidrogênio verde nos institutos da Firjan e ainda atua em outros estudos (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Mais espaço para mulheres

 

A trajetória de Nicolis, que conseguiu realizar o sonho de criança, se confunde com a de outras cientistas dos ISIs da Firjan. Todas oferecendo o seu melhor para o futuro da ciência, que cada vez mais se abre para as mulheres. Nos Institutos SENAI de Inovação, elas encontram um espaço para desenvolver suas potencialidades, sem preconceitos de gênero, raça ou idade. Essa diversidade contribui para a inovação e a melhoria dos projetos desenvolvidos.

 

Para Carla Pinheiro, presidente do Conselho Empresarial de Mulheres da Firjan, essa deveria ser a regra, não exceção. “Quando a gente deixa as mulheres de fora da ciência, da tecnologia, da matemática, de todas essas carreiras, a gente está eliminando um potencial de mais de 50% da população de contribuir para a inovação, para as pesquisas e descobertas”, sustenta ela, questionando se a cura do câncer não estaria na mente de uma criança da periferia, sem oportunidade de ocupar esse lugar, principalmente as meninas.

 

“Quando a gente deixa essas meninas de fora dessas carreiras, a gente está perdendo um potencial gigantesco de implementar melhorias, descobertas, inovações e novas tecnologias em nossas empresas”, acrescenta Carla.

 

Mulheres líderes

 

No ISI QV, Nicolis atua em quatro projetos: estudo de AVC, esquizofrenia, mastite (inflamação na glândula mamária das vacas que pode causar prejuízos para os produtores de leite) e economia circular para reutilizar mangueiras automotivas em solados de botas de equipamentos de proteção individual (EPI). Ela também lidera projetos de hidrogênio verde em todos os laboratórios da Firjan. "Estudo hidrogênio verde com paixão. Energia e combustíveis são temas de que eu gosto muito", reforça ela.

 

Camila Linhares, também do ISI QV, onde lidera projetos como o desenvolvimento de tecnologia para transformar resíduos plásticos (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Da mesma forma, Camila Linhares, 31 anos, também pesquisadora no ISI Química Verde, começou sua jornada na ciência durante a infância, movida por uma curiosidade incessante. “Perguntava o porquê de todas as coisas. Depois, fui incentivada por uma professora a cursar Química, mas comecei com Geologia, na graduação da UFRJ, e fiz ao mesmo tempo o Pós-Ensino Médio em Química, no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). Depois, me transferi para a Faculdade de Química”.

 

Camila trabalhou em diferentes ambientes, desde a indústria até a pesquisa acadêmica, passando pelo laboratório de catálise na UFRJ. No ISI QV, lidera projetos como o desenvolvimento de tecnologia para transformar resíduos plásticos.

 

"A pesquisa visa transformar plástico em gás liquefeito de petróleo (GLP), com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), para atender uma empresa do Sul do país. O cliente gostou tanto do nosso trabalho que voltou para um segundo projeto", destaca Camila.

 

Talita Goulart, no ISI Inspeção e Integridade, se sente realizada quando participa do desenvolvimento de produtos para pequenas empresas (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Foco na pequena empresa

 

Já a pesquisadora Talita Goulart, 29 anos, do Instituto SENAI de Inovação (ISI) Inspeção e Integridade, também da Firjan, se sente realizada ao auxiliar pequenas empresas com projetos significativos. Sua trajetória na ciência começou no Ensino Médio, com interesse em química e matemática, levando-a a cursar Engenharia Química. Fez mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), destacando a participação em um projeto de desenvolvimento de biomaterial para implantes em casos de osteoporose. Atualmente cursa doutorado na Coppe/UFRJ, desenvolvendo nanopartículas para liberação de agentes terapêuticos.

 

“Na Firjan, trabalho desde 2021 em pesquisa de materiais e de inspeção. Gosto muito da área de materiais em geral. Fico realizada quando participo do desenvolvimento de produtos para pequenas empresas. Recentemente, desenvolvi um produto sustentável para uma empresa na área de construção civil, um produto de biomassa”, conta Talita.

 

Por outro lado, Luciana Escobar, 40 anos, pesquisadora do ISI Sistemas Virtuais de Produção (ISI SVP) da Firjan, desde criança gostava de pesquisar, mas achava que ser cientista envolvia apenas química e biologia, áreas que não lhe interessavam. Encontrou seu caminho na ciência da computação. Estudou na Universidade Veiga de Almeida, em Cabo Frio. Anos depois, já com uma filha pequena, retomou os estudos e fez mestrado no Cefet, especializando-se em algoritmos na área de inteligência artificial (IA). Atualmente, cursa doutorado em Engenharia de Sistemas Complexos no IME. Em 2021, entrou para a Firjan, onde gerencia três projetos.

 

Luciana Escobar é pesquisadora do ISI Sistemas Virtuais de Produção, onde já atuou em projetos como o desenvolvimento de algoritmos de manutenção preditiva (Foto: Arquivo Pessoal) 

 

Um dos projetos de destaque de Luciana foi para uma empresa de óleo e gás, onde desenvolveu algoritmos de manutenção preditiva (técnicas para detecção e análise de falhas comuns em máquinas) para gerar alertas sobre problemas nos equipamentos. "Esse trabalho rendeu frutos. A empresa ficou satisfeita e está chamando para novos desafios", ressalta ela.

 

Mais homens que mulheres

 

No mundo da ciência, Nicolis ainda observa maior participação de homens do que mulheres: “Desde a graduação, a maioria dos líderes é homem”. Ela acredita que a partir do momento em que mais bolsas de pesquisa forem liberadas para as mulheres, elas vão conseguir ter mais tempo para pesquisar e publicar artigos.

 

A realidade está mudando. Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2022, as brasileiras eram maioria (58%) entre os bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e entre os estudantes de mestrado e doutorado.

 

Talita Goulart observa que, embora tenha havido um crescimento da participação feminina na ciência, “ainda não está na velocidade ideal”. Ela destaca que “na engenharia química, durante a graduação, via um número semelhante de mulheres e homens. Porém, em cargos mais altos, a igualdade ainda está em desenvolvimento”.

 

Talita observa que foram criadas algumas políticas para incentivar a participação feminina. “Por exemplo, há programas do CNPq em que os editais valorizam projetos que contenham mulheres na pesquisa, aumentando a nota no critério de avaliação. Isso ainda é recente, mas é um bom começo para a valorização feminina”.