O professor e pesquisador da Coppe/UFRJ Marcos Cavalcanti

NÃO HÁ GESTÃO ESTRATÉGICA
SEM TECNOLOGIA


A gestão estratégica é fundamental para o sucesso de qualquer negócio. Por isso, a Firjan IEL passou a oferecer em seu portfólio para líderes um curso para quem precisa se atualizar sobre as últimas tendências em gestão. O curso foi desenvolvido em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), e para falar mais sobre esse tema, convidamos o professor e pesquisador Marcos Cavalcanti.

 

A integração entre a teoria e a prática é capaz de alavancar e garantir destaque para aqueles que concorrem no mercado competitivo e hiperdinâmico da atualidade. Nesta entrevista exclusiva para a Carta da Indústria, o pesquisador, que é coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie), também da Coppe/UFRJ, fala sobre mudanças, erros e pontos mais importantes de uma Gestão Estratégica de Negócios, nome desse curso que foi lançado no estande da federação no evento RH Rio 2024.

 

CI: Qual seria sua definição de uma gestão estratégica de negócios na atualidade?   
Marcos Cavalcanti: O que caracteriza o mundo em que vivemos é que ele é hiperdinâmico, hiperconectado e complexo. Hoje não tem praticamente nenhum tipo de negócio que esteja fora da internet, não participando da rede. Então, pequeno ou grande, se o empresário não está na rede, ele não está fazendo negócio. A gestão estratégica de negócio hoje passa necessariamente pelo uso de ferramentas tecnológicas. Ele não precisa ser nenhum gênio da informática, mas precisa usar ferramentas e tecnologias para poder gerenciar e tocar sua empresa.

 

CI: Qual a importância dessa gestão para os empresários e como isso se relaciona com as mudanças do mercado?    
Marcos Cavalcanti: A gestão estratégica do século 21 não é a mesma do século 20. Antes você se reunia uma vez por ano, fazia um planejamento, definia metas e um ano depois se reunia novamente para ver o que tinha acontecido. Hoje já é uma questão da complexidade, é uma gestão dos negócios de uma forma dinâmica, hiperconectada e complexa. Então o empresário, não importa o tamanho da empresa, não pode ser aquela pessoa que não acompanha o dia a dia do negócio, ele precisa estar revendo essa estratégia o tempo inteiro.  

 

CI: O que mudou hoje quando falamos de gestão estratégica? O que entrou e o que perdeu peso?   
Marcos Cavalcanti: Ontem, você tinha que ter todas as pessoas e as tecnologias dentro da sua empresa. Você tinha o arquivo com as notas fiscais guardado dentro da empresa, e todas as pessoas trabalhavam para você com carteira assinada. No século 21, isso acabou. Você bota tudo na nuvem. As pessoas que contribuem para o seu trabalho não necessariamente têm carteira assinada com você; às vezes, trabalham em tempo parcial ou são terceirizadas, como alguém que entrega um produto ou instala um ar-condicionado.

 

A gestão do seu negócio não é mais intramuros, ela envolve pessoas e instituições que ultrapassam as fronteiras da sua organização. São mudanças essenciais que tornam mais complexa a gestão e indispensável o uso de tecnologia. Hoje o ambiente organizacional é muito mais conectado com o mundo exterior, seja do ponto de vista dos clientes, dos fornecedores e até dos próprios colaboradores.

 

Marcos Cavalcanti no lançamento do curso: "Queremos juntar o mundo do pensamento, do estudo das tendências, e o mundo da prática" (Fotos: Vinícius Magalhães/Firjan)

 

CI: Pode falar um pouco sobre a importância dessa união entre o empresarial e o acadêmico e como o mundo teórico dos negócios pode fortalecer e ajudar empresários a colocarem suas ideias em prática?   
Marcos Cavalcanti: Sempre houve uma grande separação entre a teoria e a prática, né? Nosso trabalho sempre foi juntar esses dois mundos. Não acredito em teoria desligada da realidade ou prática desconectada do pensamento filosófico para o entendimento sobre para onde o mundo está caminhando.

 

Quando organizamos o curso de Gestão Estratégica de Negócios, trouxemos profissionais com um pé na pesquisa, nas tendências e nas novidades, e pessoas que também conhecem o dia a dia dos negócios. O curso foi organizado com esse foco: estimular que os participantes tragam seus problemas para a construção de uma consultoria e treinamento ao mesmo tempo. Você aprende a teoria e aplica imediatamente.

 

Não é mais possível fazer gestão num mundo hiperconectado e hiperdinâmico sem usar tecnologia. O problema é que a oferta de tecnologia é enorme e, às vezes, você gasta dinheiro com tecnologia que não serve para nada. Queremos juntar o mundo do pensamento, do estudo das tendências, e o mundo da prática nessa experiência.



CI: Na sua opinião, quais são os maiores desafios enfrentados pelos empresários do Rio de Janeiro?    
Marcos Cavalcanti: Acho que tem alguns problemas especificamente do Rio de Janeiro. O problema da segurança afeta os negócios, desde funcionários que não chegam no trabalho ou chegam atrasados por algum acontecimento, até roubo de mercadoria e ameaças que impedem a continuação dos negócios.

 

Além disso, existem tecnologias que podem acabar com determinados negócios ou, se bem usadas, alavancar os negócios. A inteligência artificial pode impactar todos os setores, desde a manutenção do ar-condicionado até quem exporta joias. Se não usar a tecnologia, a competição tende a ficar mais cada vez mais acirrada.

 

Hoje a tecnologia permite que você trate cada cliente segundo as necessidades dele. Não de uma maneira massificada, mas de uma maneira personalizada. Existem várias entidades, como a Firjan SENAI, que oferecem assessoria em tecnologia. Basta o empresário se informar e reservar um tempo para entender essas opções.

 

CI: E quais as maiores falhas? Como podem ser evitadas?   
Marcos Cavalcanti: Uma das maiores é a dificuldade de delegar. O empresário fica muito tomado com os problemas do dia a dia e, quando delega, o profissional não é capacitado. Então essa escolha de quem são as pessoas que vão trabalhar na empresa deve ser feita com muito cuidado. Uma reclamação que acontece muito é a falta de comprometimento do pessoal. Se na hora de contratar, você contrata olhando só o currículo e não o brilho nos olhos, aquele trabalho não vai ter um bom desempenho e o empresário está colocando em risco todo o negócio dele.

 

CI: Quais aspectos da gestão do conhecimento e da inovação são essenciais para a gestão estratégica de negócios?    
Marcos Cavalcanti: Gestão das pessoas. A gestão do conhecimento ajuda justamente a adequar a estratégia do negócio, quais as competências essenciais que eu preciso ter para fazer o meu negócio ir para frente e como eu a identifico nas pessoas. A tecnologia iguala as empresas, mas as pessoas é que fazem a diferença.

 

CI: O senhor poderia explicar como a gestão do conhecimento pode ser uma ferramenta poderosa no impulsionamento e competitividade das empresas?    
Marcos Cavalcanti: Hoje, as cinco maiores empresas do mundo são intensivas em conhecimento. A gestão efetiva da matéria-prima, dos recursos financeiros e da mão de obra ajuda pouco no processo de construção de valor. O que é essencial, independentemente do tipo de negócio, é o conhecimento, que é o principal fator para se criar qualquer coisa. Com isso, você aprende com o seu negócio, agrega valor, perde menos tempo e é mais efetivo, o que está diretamente relacionado com a capacidade de gerenciar informação e conhecimento.

 

Empresas que não fazem gestão do conhecimento acabam gerenciando coisas desimportantes que têm pouco impacto no resultado final do negócio. A gestão do conhecimento ajuda desde a escolha do profissional certo até o gerenciamento de clientes, matéria-prima e fornecedores. Não é à toa que a gestão do conhecimento se transformou em uma ciência fundamental na administração das organizações. É essencial identificar quem tem o conhecimento necessário para fazer o negócio avançar e gerenciar esse conhecimento de maneira adequada. No fundo, a gestão do conhecimento é o principal fator para o sucesso e a competitividade de qualquer empresa.

 

CI: Quais são os principais objetivos do curso "Gestão Estratégica de Negócios", e como ele pode beneficiar os empresários, incluindo os de pequeno porte?   
Marcos Cavalcanti: O objetivo principal foi unir o mundo concreto do dia a dia dos negócios com o que tem de mais moderno do ponto de vista da tecnologia e das tendências tecnológicas, de uma maneira acessível ao empresário, seja ele pequeno ou médio. Nossa ideia foi juntar pessoas que têm vivência e experiência nesses dois aspectos e fazer um curso que de fato contribua de uma maneira compreensível e útil para o empresário.

 

CI: Como a parceria entre Firjan IEL e Coppe/UFRJ contribui para a relevância e a qualidade do conteúdo do curso?   
Marcos Cavalcanti: A Firjan tem uma grande rede de empresários, conhecimento dos problemas concretos das empresas, e a Coppe tem muito conhecimento de tecnologia. Então, é óbvio que esses dois mundos têm que dialogar. Cada um traz competências e conhecimentos complementares. Sou muito otimista com essa parceria e espero que seja de longo prazo, porque esses dois mundos precisam se falar. É uma fertilização mútua. Quanto mais a gente interagir, mais vamos nos tornar organizações melhores.