Publicado em 23/06/2023 - Atualizado em 18/01/2024 09:14
O POLO AUTOMOTIVO
TRANSFORMOU O SUL FLUMINENSE
Desenvolvimento na veia. Assim, Henrique Nora Jr., presidente da Firjan Sul Fluminense, caracteriza a importância do Polo Automotivo para a região. Desde 1996, com a instalação da Volkswagen Caminhões e Ônibus, até hoje são cinco montadoras, Stellantis, Nissan, Hyundai e Jaguar Land Rover, e 23 fornecedores, chamados de sistemistas. O Sul Fluminense conta com mais de 10 mil empregos formais ligados a essa indústria, 37,5% do total no estado e praticamente o mesmo percentual da capital (37,6%), segundo dados do Mapeamento do Setor Automotivo do Estado do Rio de Janeiro, elaborado pela Firjan.
A geração de postos de trabalho que não existiriam sem o Polo é apenas uma das facetas da transformação da região. A indústria automotiva elevou também o salário médio local, a qualificação profissional e a abertura de novos estabelecimentos. Para manter o desenvolvimento da indústria e todos esses impactos positivos, há 10 anos o grupo de empresas do setor criou o Cluster Automotivo do Sul Fluminense, um fórum de discussão para cooperação e promoção de competitividade.
“O Cluster foi criado com a estrutura da Firjan Sul Fluminense, que sempre deu todo apoio ao segmento. A indústria automobilística, de alta tecnologia, emprega muita mão de obra qualificada, mais que a média do mercado. Aonde chega, traz o desenvolvimento. É uma consequência inevitável. E os salários também são acima da média”, ressalta. Com pessoal mais qualificado e mais bem remunerado, o perfil de consumo na região também muda, incentivando comércio e serviços, como restaurantes, hotéis e opções de lazer. “É toda uma cadeia, um ciclo que vem junto”, complementa Nora, citando especialmente os municípios de Itatiaia, Porto Real, Quatis e Resende.
Oscar Neto, presidente do Cluster Automotivo e diretor de Operações da Jaguar Land Rover, avalia que, nestes 27 anos, houve um avanço significativo: “O polo é o segundo maior em número de empresas e contribuiu diretamente para um grande crescimento da economia dos municípios da região. O comércio e o ensino se desenvolveram para qualificar a mão de obra”. Cursos oferecidos pela Firjan SENAI, Uerj e Instituto Federal de Tecnologia são exemplos.
A sinergia entre a indústria, as universidades e a Firjan SENAI foi importante para adequar a grade curricular e facilitar os estágios. Muitos profissionais começaram no setor a partir de um estágio. É o caso do especialista de Facilities Samir Pereira, de 41 anos, que começou como estagiário na antiga PSA, em 2004. Contratado para a área de gestão de frota de veículo, ficou na PSA até 2013. Logo depois, foi para Nissan, onde está até hoje.
“Para mim, abriu um leque. Antes trabalhava no comércio. O ambiente corporativo é totalmente diferente, com salário melhor e muitos benefícios. As mais de 20 multinacionais na região atraem profissionais de outras cidades e países. Comprei uma casa, um carro na época, mas agora tenho um veículo como benefício”, conta Samir, que fez faculdade de Sistema de Informação em Resende, onde mora.
Articulação
O Cluster definiu como objetivo ser referência em mobilidade e em desenvolvimento regional em 2030. Para isso, possui uma pauta de reivindicações, entregue em maio a secretários estaduais e a parlamentares durante reunião na Firjan. “Atingimos o objetivo de fortalecer o canal de comunicação com o governo. Entre as principais reivindicações estão a diminuição do preço da energia, a implantação de um mercado livre para o gás, que já existe em outros estados, assim como a liberação dos créditos acumulados de ICMS, como forma de incentivar projetos de interesse comum da indústria e do governo”, destaca Neto. Em relação à energia, o Cluster sugere a redução da alíquota de ICMS sobre a tarifa, além da intensificação dos programas de eficiência energética e do combate às ligações clandestinas. Ampliar o acesso das indústrias ao mercado livre de energia através da redução de encargos e subsídios é outra demanda.
No âmbito federal, um dos pleitos é contra a isenção de Imposto de Importação para caminhões elétricos, uma vez que a VW produz esse tipo de veículo em Resende. Nota da Firjan divulgada sobre o assunto, no final de maio, defende medidas que podem ser tomadas de forma rápida e com retorno imediato. “Estamos pressionando o governo desde 2019, já entramos com processo junto ao Gecex (Grupo Executivo de Comércio Exterior). Estamos perdendo venda de produtos nacionais e garantindo a mão de obra na China”, critica Marco Saltini, vice-presidente da Firjan CIRJ e diretor de Relações Institucionais da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Na área de logística, duas pautas importantes: a duplicação da BR-393, entre Sapucaia e Barra do Piraí; e a melhoria da Rodovia Saturnino Braga (RJ-155), no trecho Barra Mansa-Angra dos Reis, como alternativa à BR-116. “Não adianta investir para o futuro, levar recursos para produzir veículos mais tecnológicos híbridos, elétricos, se a infraestrutura não está preparada, se o estado não possui políticas de incentivo”, acrescenta Oscar Neto.
Nesses 10 anos, o Cluster submeteu muitos pleitos aos governos estadual e federal em prol do desenvolvimento socioeconômico sustentável e da inovação tecnológica do setor. “Conquistamos várias ações, principalmente no que se refere à infraestrutura. Redes e estações de energia foram melhoradas; malhas rodoviárias, criadas para abastecer e escoar produção no polo e nas cidades ao redor; recebemos ações em pautas de segurança pública e tráfego intermunicipal; e parcerias com instituições facilitaram a qualificação da mão de obra”, detalha Neto.
LINHA DO TEMPO DAS MONTADORAS
1996 – Volkswagen Caminhões e Ônibus
2001 – Peugeot-Citroen (Stellantis)
2014 – Nissan
2015 – Hyundai
2016 – Jaguar Land Rover
Incentivo
A capacidade instalada do polo é de 480 mil veículos por ano, mas a produção atual está em 40% desse total, cerca de 180 a 190 mil produtos. “A crise da falta de semicondutores persiste em menor escala no mundo devido ao rompimento da cadeia. A expectativa é regularizar ainda em 2023. Como os volumes de produção caíram muito, a demanda é menor”, pontua Saltini.
Para tentar impulsionar as vendas de veículos, o governo federal lançou um pacote de incentivos aos carros populares, ônibus e caminhões, que começou a valer neste mês de junho, no dia 6. A Medida Provisória 1.175, estabelece que, por quatro meses, compradores de carros populares poderão ter descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil (de 1,6% a 11,6% do preço), seguindo critérios: social (preço mais baixo), ambiental (carros que poluem menos) e densidade industrial (predominância de geração de empregos na indústria brasileira e uso de peças nacionais). No caso de ônibus e caminhões, o desconto varia de R$ 36,6 mil a R$ 99,4 mil e será usado para a renovação da frota com mais de 20 anos. O grau de poluição do veículo também será considerado.
O programa é custeado por créditos tributários, descontos concedidos pelo governo aos fabricantes no pagamento de tributos futuros. Está prevista a utilização de R$ 700 milhões em créditos para a venda de caminhões, R$ 500 milhões para carros e R$ 300 milhões para vans e ônibus. As medidas poderão acabar mais cedo, caso seja atingido o crédito de R$ 1,5 bilhão antes de quatro meses, o que é provável, porque a procura estava sendo bem elevada logo nas primeiras semanas.
Antonio Sergio Martins Mello, diretor de Relações Institucionais da Stellantis América do Sul e representante do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Sinfavea) na Firjan, considera a MP positiva por estabelecer mecanismo de desconto patrocinado na aquisição de veículos sustentáveis por pessoas físicas e jurídicas.
“Demonstra a preocupação do governo com o nível de atividade da indústria automobilística, a capacidade de consumo da sociedade e a necessidade de renovação de frota de caminhões. Além disso, movimenta o mercado, estimula a concorrência e pode vir a melhorar o perfil de segurança e impacto ambiental do transporte rodoviário de carga”. O presidente do Cluster acredita que a MP vai estimular a economia nacional, visto que o segmento é responsável por empregar mais de 1 milhão de pessoas e contribuir com uma grande fração do PIB do país. As empresas do polo VW Caminhões & Ônibus, Nissan e Stellantis serão diretamente beneficiadas pelos créditos tributários gerados pelas vendas durante o período do programa; já as demais do Cluster Automotivo poderão se beneficiar da economia circular promovida pela medida.
A expectativa de reativação do mercado também é compartilhada por Saltini: “A medida é bastante positiva, principalmente por estimular ganhos ambientais e eficiência operacional”.