Linha de montagem da Jaguar Land Rover (Foto: Fernanda Freixosa/Divulgação))

O POLO AUTOMOTIVO
TRANSFORMOU O SUL FLUMINENSE


 

Desenvolvimento na veia. Assim, Henrique Nora Jr., presidente da Firjan Sul Fluminense, caracteriza a importância do Polo Automotivo para a região. Desde 1996, com a instalação da Volkswagen Caminhões e Ônibus, até hoje são cinco montadoras, Stellantis, Nissan, Hyundai e Jaguar Land Rover, e 23 fornecedores, chamados de sistemistas. O Sul Fluminense conta com mais de 10 mil empregos formais ligados a essa indústria, 37,5% do total no estado e praticamente o mesmo percentual da capital (37,6%), segundo dados do Mapeamento do Setor Automotivo do Estado do Rio de Janeiro, elaborado pela Firjan.

 

A geração de postos de trabalho que não existiriam sem o Polo é apenas uma das facetas da transformação da região. A indústria automotiva elevou também o salário médio local, a qualificação profissional e a abertura de novos estabelecimentos. Para manter o desenvolvimento da indústria e todos esses impactos positivos, há 10 anos o grupo de empresas do setor criou o Cluster Automotivo do Sul Fluminense, um fórum de discussão para cooperação e promoção de competitividade. 

 

Salário médio no setor automotivo do estado do Rio por região fluminense
Tabela extraída do Mapeamento do Setor Automotivo do Estado do Rio de Janeiro, elaborado pela Firjan

 

“O Cluster foi criado com a estrutura da Firjan Sul Fluminense, que sempre deu todo apoio ao segmento. A indústria automobilística, de alta tecnologia, emprega muita mão de obra qualificada, mais que a média do mercado. Aonde chega, traz o desenvolvimento. É uma consequência inevitável. E os salários também são acima da média”, ressalta. Com pessoal mais qualificado e mais bem remunerado, o perfil de consumo na região também muda, incentivando comércio e serviços, como restaurantes, hotéis e opções de lazer. “É toda uma cadeia, um ciclo que vem junto”, complementa Nora, citando especialmente os municípios de Itatiaia, Porto Real, Quatis e Resende.

 

Oscar Neto, presidente do Cluster Automotivo e diretor de Operações da Jaguar Land Rover, avalia que, nestes 27 anos, houve um avanço significativo: “O polo é o segundo maior em número de empresas e contribuiu diretamente para um grande crescimento da economia dos municípios da região. O comércio e o ensino se desenvolveram para qualificar a mão de obra”. Cursos oferecidos pela Firjan SENAI, Uerj e Instituto Federal de Tecnologia são exemplos. 

 

Participação dos trabalhadores do setor automotivo por escolaridade no estado do Rio
Tabela extraída do Mapeamento do Setor Automotivo do Estado do Rio de Janeiro, elaborado pela Firjan

 

A sinergia entre a indústria, as universidades e a Firjan SENAI foi importante para adequar a grade curricular e facilitar os estágios. Muitos profissionais começaram no setor a partir de um estágio. É o caso do especialista de Facilities Samir Pereira, de 41 anos, que começou como estagiário na antiga PSA, em 2004. Contratado para a área de gestão de frota de veículo, ficou na PSA até 2013. Logo depois, foi para Nissan, onde está até hoje.

 

“Para mim, abriu um leque. Antes trabalhava no comércio. O ambiente corporativo é totalmente diferente, com salário melhor e muitos benefícios. As mais de 20 multinacionais na região atraem profissionais de outras cidades e países. Comprei uma casa, um carro na época, mas agora tenho um veículo como benefício”, conta Samir, que fez faculdade de Sistema de Informação em Resende, onde mora. 

 

Trabalhadores na linha de montagem da VW Caminhões e Ônibus, Cluster Automotivo Fluminense
Linha de montagem da Volkswagen Caminhões e Ônibus (Foto: Divulgação)

 

Articulação

O Cluster definiu como objetivo ser referência em mobilidade e em desenvolvimento regional em 2030. Para isso, possui uma pauta de reivindicações, entregue em maio a secretários estaduais e a parlamentares durante reunião na Firjan. “Atingimos o objetivo de fortalecer o canal de comunicação com o governo. Entre as principais reivindicações estão a diminuição do preço da energia, a implantação de um mercado livre para o gás, que já existe em outros estados, assim como a liberação dos créditos acumulados de ICMS, como forma de incentivar projetos de interesse comum da indústria e do governo”, destaca Neto. Em relação à energia, o Cluster sugere a redução da alíquota de ICMS sobre a tarifa, além da intensificação dos programas de eficiência energética e do combate às ligações clandestinas. Ampliar o acesso das indústrias ao mercado livre de energia através da redução de encargos e subsídios é outra demanda.

 

No âmbito federal, um dos pleitos é contra a isenção de Imposto de Importação para caminhões elétricos, uma vez que a VW produz esse tipo de veículo em Resende. Nota da Firjan divulgada sobre o assunto, no final de maio, defende medidas que podem ser tomadas de forma rápida e com retorno imediato. “Estamos pressionando o governo desde 2019, já entramos com processo junto ao Gecex (Grupo Executivo de Comércio Exterior). Estamos perdendo venda de produtos nacionais e garantindo a mão de obra na China”, critica Marco Saltini, vice-presidente da Firjan CIRJ e diretor de Relações Institucionais da Volkswagen Caminhões e Ônibus.

 

Na área de logística, duas pautas importantes: a duplicação da BR-393, entre Sapucaia e Barra do Piraí; e a melhoria da Rodovia Saturnino Braga (RJ-155), no trecho Barra Mansa-Angra dos Reis, como alternativa à BR-116. “Não adianta investir para o futuro, levar recursos para produzir veículos mais tecnológicos híbridos, elétricos, se a infraestrutura não está preparada, se o estado não possui políticas de incentivo”, acrescenta Oscar Neto.

 

Nesses 10 anos, o Cluster submeteu muitos pleitos aos governos estadual e federal em prol do desenvolvimento socioeconômico sustentável e da inovação tecnológica do setor. “Conquistamos várias ações, principalmente no que se refere à infraestrutura. Redes e estações de energia foram melhoradas; malhas rodoviárias, criadas para abastecer e escoar produção no polo e nas cidades ao redor; recebemos ações em pautas de segurança pública e tráfego intermunicipal; e parcerias com instituições facilitaram a qualificação da mão de obra”, detalha Neto. 

 

LINHA DO TEMPO DAS MONTADORAS

1996 – Volkswagen Caminhões e Ônibus

2001 – Peugeot-Citroen (Stellantis)

2014 – Nissan

2015 – Hyundai

2016 – Jaguar Land Rover

 

Incentivo

A capacidade instalada do polo é de 480 mil veículos por ano, mas a produção atual está em 40% desse total, cerca de 180 a 190 mil produtos. “A crise da falta de semicondutores persiste em menor escala no mundo devido ao rompimento da cadeia. A expectativa é regularizar ainda em 2023. Como os volumes de produção caíram muito, a demanda é menor”, pontua Saltini.

 

Para tentar impulsionar as vendas de veículos, o governo federal lançou um pacote de incentivos aos carros populares, ônibus e caminhões, que começou a valer neste mês de junho, no dia 6. A Medida Provisória 1.175, estabelece que, por quatro meses, compradores de carros populares poderão ter descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil (de 1,6% a 11,6% do preço), seguindo critérios: social (preço mais baixo), ambiental (carros que poluem menos) e densidade industrial (predominância de geração de empregos na indústria brasileira e uso de peças nacionais). No caso de ônibus e caminhões, o desconto varia de R$ 36,6 mil a R$ 99,4 mil e será usado para a renovação da frota com mais de 20 anos. O grau de poluição do veículo também será considerado.

 

O programa é custeado por créditos tributários, descontos concedidos pelo governo aos fabricantes no pagamento de tributos futuros. Está prevista a utilização de R$ 700 milhões em créditos para a venda de caminhões, R$ 500 milhões para carros e R$ 300 milhões para vans e ônibus. As medidas poderão acabar mais cedo, caso seja atingido o crédito de R$ 1,5 bilhão antes de quatro meses, o que é provável, porque a procura estava sendo bem elevada logo nas primeiras semanas.

 

Antonio Sergio Martins Mello, diretor de Relações Institucionais da Stellantis América do Sul e representante do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Sinfavea) na Firjan, considera a MP positiva por estabelecer mecanismo de desconto patrocinado na aquisição de veículos sustentáveis por pessoas físicas e jurídicas. 

 

“Demonstra a preocupação do governo com o nível de atividade da indústria automobilística, a capacidade de consumo da sociedade e a necessidade de renovação de frota de caminhões. Além disso, movimenta o mercado, estimula a concorrência e pode vir a melhorar o perfil de segurança e impacto ambiental do transporte rodoviário de carga”. O presidente do Cluster acredita que a MP vai estimular a economia nacional, visto que o segmento é responsável por empregar mais de 1 milhão de pessoas e contribuir com uma grande fração do PIB do país. As empresas do polo VW Caminhões & Ônibus, Nissan e Stellantis serão diretamente beneficiadas pelos créditos tributários gerados pelas vendas durante o período do programa; já as demais do Cluster Automotivo poderão se beneficiar da economia circular promovida pela medida.

 

A expectativa de reativação do mercado também é compartilhada por Saltini: “A medida é bastante positiva, principalmente por estimular ganhos ambientais e eficiência operacional”. 

 

Maquinário da linha de montagem da Jaguar Land Rover em Itatiaia
Linha de montagem da Jaguar Land Rover (Foto: Fernanda Freixosa/Divulgação))