Publicado em 03/10/2024 - Atualizado em 04/10/2024 09:50
NORTE FLUMINENSE:
ÓLEO E GÁS E MUITAS INDÚSTRIAS
Região reivindica melhorias nos acessos viário, ferroviário e aeroportuário para escoar produção e melhorar a logística
A economia do Norte Fluminense, que tem como principal riqueza o mercado de energia com destaque para a produção de petróleo e gás, está se diversificando. A indústria responde por 47,7% do PIB regional ou R$ 35,4 bilhões. Um segmento também expressivo é o Polo Cerâmico de Campos dos Goytacazes, que reúne 112 empresas. A melhoria da infraestrutura viária, ferroviária e aeroportuária é um desafio para o crescimento da região, que reúne importantes cidades como Campos dos Goytacazes e Macaé, além de outros sete municípios.
Entre as iniciativas desenvolvidas pela Representação Regional Norte Fluminense da federação, destaca-se um trabalho para melhorar a qualidade dos produtos cerâmicos. “Estamos atuando muito forte com a unidade móvel da Firjan SENAI, que tem um laboratório para ensaio de materiais e testes de qualidade, além de investirmos na capacitação do ceramista. Realizamos também visitas técnicas com empresários ao Centro de Referência em Construção Civil da Firjan SENAI SESI Tijuca e ao Polo Cerâmico de Três Rios”, detalha Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte.
Sobre a diversificação da economia local, Siqueira se orgulha de apontar que o Norte está se moldando para o setor portuário e de produção de soja. “Em julho, embarcamos pelo Porto do Açu a primeira remessa de soja produzida na região de Macaé. Foi a primeira colheita para exportação. Foram vendidas para a Rússia 300 toneladas de soja, aproximadamente 5 mil sacas. O navio, no entanto, zarpou com 28 mil toneladas de soja, a maioria vinda do Centro-Oeste do país”, conta Siqueira.
Desafios em infraestrutura
Para ampliar o potencial, é necessário melhorar o acesso ao Porto do Açu, que ainda não possui uma estrada de ferro que chegue até o terminal para fazer a ligação com outras regiões. Um pleito relevante da Regional é a EF-118, a ferrovia Rio-Vitória, cuja primeira etapa, ainda sem data para iniciar, prevê a ligação entre Vitória e Anchieta, no Espírito Santo, até o porto. A etapa futura vai abranger a ligação com o Centro-Oeste para facilitar o transporte de grãos.
“Temos feito um trabalho junto ao governo federal nesse sentido. Com a devolução da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), o trecho de Campos está inoperante. Se for reativado, depois seria apenas fazer a ligação para o Açu”, explica Siqueira.
A ligação rodoviária pleiteada para o Porto do Açu é a futura RJ-244. Hoje, para chegar ao porto, os caminhões usam a Estrada dos Ceramistas, seguindo um decreto municipal que tirou o tráfego pesado de dentro de Campos. Mas a via também não é a ideal. A RJ-244 ligará a BR-101 ao Açu. O projeto chegou a ser incluído no programa Pacto RJ, do governo do estado, mas não foi implementado ainda.
A BR-101 é o principal acesso à Região Norte Fluminense. Foi duplicada em alguns trechos, mas faltam outros importantes como o próximo a Macaé e também a Casimiro de Abreu, o que impacta diretamente a mobilidade e a logística. A Regional faz reuniões periódicas cobrando providências da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Arteris Fluminense, concessionária da BR-101 (trecho de Niterói até a divisa com o Espírito Santo). Uma ação positiva foi a duplicação de um trecho dentro de Campos, após solicitação da prefeitura e da Regional.
“O trecho que falta ser duplicado é de pouco mais de 30 km, entre Rio Dourado, distrito de Casimiro de Abreu, e Macaé. Em 2020, a Arteris pediu para devolver a concessão, mas continua operando e renegocia com o governo federal um novo contrato. Falta o aval do Tribunal de Contas da União. Para a Regional é interessante ter o prosseguimento da concessão. Uma nova licitação atrasaria de dois a quatro anos o processo de melhoria das estradas”, avalia Gualter Scheles, coordenador da Comissão Municipal da Firjan em Macaé.
Outra prioridade é a Estrada do Contorno de Campos, necessária para tirar o trânsito pesado da cidade. A estrada seria feita pela concessionária. “A gente persegue com muito vigor a parte de infraestrutura, fundamental para a região. A liberação do contrato da Arteris Fluminense vai trazer desenvolvimento, emprego, dar celeridade nesse processo. Ela atende à região como um todo. É muito importante”, analisa Siqueira.
A Estrada dos Ceramistas, que liga a BR-101 ao distrito de Goytacazes, em Campos, em direção ao Farol de São Tomé, é outra obra impactante para a infraestrutura do Norte Fluminense. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) anunciou a retomada das obras no final de agosto. Ela tinha sido suspensa, após o Tribunal de Contas da União questionar o contrato, mas o TCU já liberou a construção. Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, entregou, em 19/06, uma carta ao governador Cláudio Castro solicitando a retomada da obra e ressaltando a relevância da estrada para escoar a produção do Polo Ceramista.
Uma importante bandeira da Comissão Municipal da Firjan em Macaé, a representação local da Regional Norte, é a preparação do Aeroporto de Macaé para receber aviões comerciais. O primeiro pleito foi a concessão do aeroporto para a iniciativa privada, o que já aconteceu. A concessionária Zurich Airport Brasil mantém uma pista ativa, enquanto constrói outra para receber aviões de código C, como o Embraer 195. A reforma contempla também um terminal de passageiros.
A Comissão de Macaé ressalta a relevância do aeroporto para locomoção das pessoas que trabalham na Bacia de Campos e vem acompanhando as obras, contando inclusive com um representante da Zurich nas reuniões. “A previsão é ter a pista homologada em 2025 e é provável que no primeiro semestre volte a ter voos comerciais. Certamente haverá demanda porque a cidade está muito pujante economicamente”, diz Gualter Scheles.
Capacitação em Óleo & Gás
O coordenador da Comissão de Macaé ressaltou que a Petrobras está cada vez mais próxima da Firjan. “A Petrobras, a maior empresa do mercado de petróleo e gás, está de volta à nossa Comissão, o que é importantíssimo. Em 2024, estamos comemorando os 50 anos da descoberta de petróleo na Bacia de Campos, que foi fundamental para o país e para a nossa região. As empresas estão com muitos investimentos e estão contratando”.
A necessidade de capacitar os moradores macaenses para trabalhar no mercado de óleo e gás uniu a prefeitura e a Comissão de Macaé e culminou com um convênio recente entre a Firjan SENAI e o poder público municipal. O reaquecimento da cadeia produtiva de óleo e gás desde 2023 fez as empresas demandarem mão de obra especializada. Foram oferecidas 800 vagas gratuitas em oito cursos, como Mecânico de Manutenção de Equipamentos Hidropneumáticos e Soldador de Aço Carbono. Os cursos, divididos em várias turmas, começaram em julho de 2024 e vão até dezembro de 2026, em Macaé.
Gualter Scheles destaca também o grande evento Macaé Energy realizado pela Firjan e pelo Sebrae, em junho deste ano, que apresentou o potencial de negócios para os mercados de petróleo, gás e novas energias. “Foi um golaço da Firjan, mostrando seu protagonismo neste segmento”.
Já um trabalho conjunto entre o Porto do Açu e a Firjan Norte desenvolve empresas da região para se tornarem fornecedoras, ampliando as chances de negócios locais. “Desde 2020, realizamos workshops e capacitação. As empresas começaram a entender o que precisavam melhorar para se tornar fornecedoras. Em 2023, fizemos uma rodada de negócios com mais de 100 empresas. E algumas já estão conseguindo contratos ou se cadastraram como fornecedoras”, conta Siqueira.
O setor da construção civil vem trabalhando fortemente na implementação das termelétricas GNA 1 e GNA 2, no Porto do Açu. Novas oportunidades estão sendo aguardadas com a liberação de obras do Minha Casa, Minha Vida pela Caixa, que vai aquecer a construção civil na região.
Inovação
Outro tema que vem merecendo a atenção é a inovação nas empresas. Em 2022, foi criado o Grupo de Trabalho de Inovação da Firjan Norte, que realizou quatro eventos reunindo companhias que são referência mundial em processo de inovação, além de startups e empreendedores locais, a fim de debaterem projetos e geração de novos negócios.
“Uma das lições é que inovar não precisa ser tão disruptivo assim. É preciso desmistificar a questão da inovação. Discutimos temas como acessar editais de inovação, tendências de inovação e futuro. E apresentamos startups para fazer a integração com as empresas e apresentar soluções inovadoras, como inovar um processo”, resume Siqueira.
Mulheres empresárias
A Firjan Norte foi a primeira Representação Regional da federação a ter um grupo de mulheres empresárias, que não só abre portas, mas redefine o futuro da liderança feminina em uma região de peso. Nos encontros mensais, o grupo criado em março de 2021 promove também diferentes tipos de capacitação. “Todas as mulheres que são líderes passam o aprendizado para suas lideradas e isso faz toda a diferença”, afirma Monalisa Crespo, coordenadora do Grupo Mulheres da Indústria do Norte Fluminense.
Entre as ações mais recentes destaca-se a Sessão de Negócios para Mulheres, realizada em Campos, em 26/09. Foi a primeira iniciativa desse tipo organizada pela Firjan. “As participantes já agendaram encontros para fechar novos contratos de prestação de serviços e venda de produtos. Foi realmente inovador. A demanda foi tão grande que já pediram outra sessão”, conta Monalisa.