Vista aérea de FPSO no mar azul sinalizando produção de petróleo offshore

NORTE FLUMINENSE:
ÓLEO E GÁS E MUITAS INDÚSTRIAS


Região reivindica melhorias nos acessos viário, ferroviário e aeroportuário para escoar produção e melhorar a logística

 

A economia do Norte Fluminense, que tem como principal riqueza o mercado de energia com destaque para a produção de petróleo e gás, está se diversificando. A indústria responde por 47,7% do PIB regional ou R$ 35,4 bilhões. Um segmento também expressivo é o Polo Cerâmico de Campos dos Goytacazes, que reúne 112 empresas. A melhoria da infraestrutura viária, ferroviária e aeroportuária é um desafio para o crescimento da região, que reúne importantes cidades como Campos dos Goytacazes e Macaé, além de outros sete municípios.

 

Entre as iniciativas desenvolvidas pela Representação Regional Norte Fluminense da federação, destaca-se um trabalho para melhorar a qualidade dos produtos cerâmicos. “Estamos atuando muito forte com a unidade móvel da Firjan SENAI, que tem um laboratório para ensaio de materiais e testes de qualidade, além de investirmos na capacitação do ceramista. Realizamos também visitas técnicas com empresários ao Centro de Referência em Construção Civil da Firjan SENAI SESI Tijuca e ao Polo Cerâmico de Três Rios”, detalha Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte.

 

Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte, atua pela melhoria da infraestrutura da região para ampliar o potencial econômico local (Foto: Paula Johas)

 

Sobre a diversificação da economia local, Siqueira se orgulha de apontar que o Norte está se moldando para o setor portuário e de produção de soja. “Em julho, embarcamos pelo Porto do Açu a primeira remessa de soja produzida na região de Macaé. Foi a primeira colheita para exportação. Foram vendidas para a Rússia 300 toneladas de soja, aproximadamente 5 mil sacas. O navio, no entanto, zarpou com 28 mil toneladas de soja, a maioria vinda do Centro-Oeste do país”, conta Siqueira.

 

Desafios em infraestrutura

 

Para ampliar o potencial, é necessário melhorar o acesso ao Porto do Açu, que ainda não possui uma estrada de ferro que chegue até o terminal para fazer a ligação com outras regiões. Um pleito relevante da Regional é a EF-118, a ferrovia Rio-Vitória, cuja primeira etapa, ainda sem data para iniciar, prevê a ligação entre Vitória e Anchieta, no Espírito Santo, até o porto. A etapa futura vai abranger a ligação com o Centro-Oeste para facilitar o transporte de grãos.

 

“Temos feito um trabalho junto ao governo federal nesse sentido. Com a devolução da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), o trecho de Campos está inoperante. Se for reativado, depois seria apenas fazer a ligação para o Açu”, explica Siqueira.

 

 

A ligação rodoviária pleiteada para o Porto do Açu é a futura RJ-244. Hoje, para chegar ao porto, os caminhões usam a Estrada dos Ceramistas, seguindo um decreto municipal que tirou o tráfego pesado de dentro de Campos. Mas a via também não é a ideal. A RJ-244 ligará a BR-101 ao Açu. O projeto chegou a ser incluído no programa Pacto RJ, do governo do estado, mas não foi implementado ainda.

 

A BR-101 é o principal acesso à Região Norte Fluminense. Foi duplicada em alguns trechos, mas faltam outros importantes como o próximo a Macaé e também a Casimiro de Abreu, o que impacta diretamente a mobilidade e a logística. A Regional faz reuniões periódicas cobrando providências da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Arteris Fluminense, concessionária da BR-101 (trecho de Niterói até a divisa com o Espírito Santo). Uma ação positiva foi a duplicação de um trecho dentro de Campos, após solicitação da prefeitura e da Regional.

 

“O trecho que falta ser duplicado é de pouco mais de 30 km, entre Rio Dourado, distrito de Casimiro de Abreu, e Macaé. Em 2020, a Arteris pediu para devolver a concessão, mas continua operando e renegocia com o governo federal um novo contrato. Falta o aval do Tribunal de Contas da União. Para a Regional é interessante ter o prosseguimento da concessão. Uma nova licitação atrasaria de dois a quatro anos o processo de melhoria das estradas”, avalia Gualter Scheles, coordenador da Comissão Municipal da Firjan em Macaé.

 

Outra prioridade é a Estrada do Contorno de Campos, necessária para tirar o trânsito pesado da cidade. A estrada seria feita pela concessionária. “A gente persegue com muito vigor a parte de infraestrutura, fundamental para a região. A liberação do contrato da Arteris Fluminense vai trazer desenvolvimento, emprego, dar celeridade nesse processo. Ela atende à região como um todo. É muito importante”, analisa Siqueira.

 

A Estrada dos Ceramistas, que liga a BR-101 ao distrito de Goytacazes, em Campos, em direção ao Farol de São Tomé, é outra obra impactante para a infraestrutura do Norte Fluminense. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) anunciou a retomada das obras no final de agosto. Ela tinha sido suspensa, após o Tribunal de Contas da União questionar o contrato, mas o TCU já liberou a construção. Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, entregou, em 19/06, uma carta ao governador Cláudio Castro solicitando a retomada da obra e ressaltando a relevância da estrada para escoar a produção do Polo Ceramista.

 

 

Uma importante bandeira da Comissão Municipal da Firjan em Macaé, a representação local da Regional Norte, é a preparação do Aeroporto de Macaé para receber aviões comerciais. O primeiro pleito foi a concessão do aeroporto para a iniciativa privada, o que já aconteceu. A concessionária Zurich Airport Brasil mantém uma pista ativa, enquanto constrói outra para receber aviões de código C, como o Embraer 195. A reforma contempla também um terminal de passageiros.

 

A Comissão de Macaé ressalta a relevância do aeroporto para locomoção das pessoas que trabalham na Bacia de Campos e vem acompanhando as obras, contando inclusive com um representante da Zurich nas reuniões. “A previsão é ter a pista homologada em 2025 e é provável que no primeiro semestre volte a ter voos comerciais. Certamente haverá demanda porque a cidade está muito pujante economicamente”, diz Gualter Scheles.

 

Capacitação em Óleo & Gás

 

O coordenador da Comissão de Macaé ressaltou que a Petrobras está cada vez mais próxima da Firjan. “A Petrobras, a maior empresa do mercado de petróleo e gás, está de volta à nossa Comissão, o que é importantíssimo. Em 2024, estamos comemorando os 50 anos da descoberta de petróleo na Bacia de Campos, que foi fundamental para o país e para a nossa região. As empresas estão com muitos investimentos e estão contratando”.

 

A necessidade de capacitar os moradores macaenses para trabalhar no mercado de óleo e gás uniu a prefeitura e a Comissão de Macaé e culminou com um convênio recente entre a Firjan SENAI e o poder público municipal. O reaquecimento da cadeia produtiva de óleo e gás desde 2023 fez as empresas demandarem mão de obra especializada. Foram oferecidas 800 vagas gratuitas em oito cursos, como Mecânico de Manutenção de Equipamentos Hidropneumáticos e Soldador de Aço Carbono. Os cursos, divididos em várias turmas, começaram em julho de 2024 e vão até dezembro de 2026, em Macaé.

 

 

Gualter Scheles destaca também o grande evento Macaé Energy realizado pela Firjan e pelo Sebrae, em junho deste ano, que apresentou o potencial de negócios para os mercados de petróleo, gás e novas energias. “Foi um golaço da Firjan, mostrando seu protagonismo neste segmento”.

 

Já um trabalho conjunto entre o Porto do Açu e a Firjan Norte desenvolve empresas da região para se tornarem fornecedoras, ampliando as chances de negócios locais. “Desde 2020, realizamos workshops e capacitação. As empresas começaram a entender o que precisavam melhorar para se tornar fornecedoras. Em 2023, fizemos uma rodada de negócios com mais de 100 empresas. E algumas já estão conseguindo contratos ou se cadastraram como fornecedoras”, conta Siqueira.

 

O setor da construção civil vem trabalhando fortemente na implementação das termelétricas GNA 1 e GNA 2, no Porto do Açu. Novas oportunidades estão sendo aguardadas com a liberação de obras do Minha Casa, Minha Vida pela Caixa, que vai aquecer a construção civil na região.

 

Inovação

 

Outro tema que vem merecendo a atenção é a inovação nas empresas. Em 2022, foi criado o Grupo de Trabalho de Inovação da Firjan Norte, que realizou quatro eventos reunindo companhias que são referência mundial em processo de inovação, além de startups e empreendedores locais, a fim de debaterem projetos e geração de novos negócios.

 

“Uma das lições é que inovar não precisa ser tão disruptivo assim. É preciso desmistificar a questão da inovação. Discutimos temas como acessar editais de inovação, tendências de inovação e futuro. E apresentamos startups para fazer a integração com as empresas e apresentar soluções inovadoras, como inovar um processo”, resume Siqueira.

 

Mulheres empresárias

 

A Firjan Norte foi a primeira Representação Regional da federação a ter um grupo de mulheres empresárias, que não só abre portas, mas redefine o futuro da liderança feminina em uma região de peso. Nos encontros mensais, o grupo criado em março de 2021 promove também diferentes tipos de capacitação. “Todas as mulheres que são líderes passam o aprendizado para suas lideradas e isso faz toda a diferença”, afirma Monalisa Crespo, coordenadora do Grupo Mulheres da Indústria do Norte Fluminense.

 

Entre as ações mais recentes destaca-se a Sessão de Negócios para Mulheres, realizada em Campos, em 26/09. Foi a primeira iniciativa desse tipo organizada pela Firjan. “As participantes já agendaram encontros para fechar novos contratos de prestação de serviços e venda de produtos. Foi realmente inovador. A demanda foi tão grande que já pediram outra sessão”, conta Monalisa.