

Publicado em 08/07/2025 - Atualizado em 08/07/2025 15:51
SEM FERROVIA,
MAIS PROBLEMAS
Com tráfego intenso de caminhões, Campos tem mobilidade urbana prejudicada
O interesse é imenso para que a construção da Estrada de Ferro 118 (EF-118), que conectará o Rio de Janeiro a Vitória, saia do papel e vire realidade. Uma obra grandiosa e anseio dos setores industriais e comerciais, além dos governos federal, estadual e municipais para conectar os principais polos econômicos do Sudeste ao Porto do Açu, no Norte Fluminense. Além disso, terá como consequência desafogar o trânsito pesado de caminhões, principalmente, nas áreas urbanas de Campos dos Goytacazes, o maior município do interior fluminense em número de habitantes e em extensão territorial.
Faz falta uma rede ferroviária de cargas cortando o estado do Rio de Janeiro e facilitando o acesso e a logística até o Porto do Açu, o maior complexo portuário e industrial privado de águas profundas da América Latina, localizado em São João da Barra, no Norte Fluminense. Com infraestrutura integrada, competitiva e sustentável, o porto-indústria exerce forte influência econômica sobre o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, com potencial para gerar empregos, atrair investimentos e impulsionar o desenvolvimento socioeconômico de toda a região.
A construção da EF-118 é vista como infraestrutura essencial para fortalecer a competitividade do Brasil, especialmente no Sudeste, impactando portos, indústrias e cidades. “Além de conectar os portos do estado às principais rotas ferroviárias do país, a EF-118 permitirá a atração de novos investimentos, especialmente nos setores siderúrgico, petroquímico, naval e logístico. A ferrovia vai criar oportunidades de novos negócios ao longo do traçado, impulsionando a geração de empregos e fomentando o crescimento de polos industriais e logísticos,” avalia Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte Fluminense.
No estudo Propostas Firjan para um Brasil 4.0 – Norte Fluminense – 2025- 2028, ficam claros os entraves relacionados à logística e mobilidade nos transportes na região. Apesar da localização privilegiada, a cidade de Campos sofre com as principais vias de acesso sucateadas e sem condições de atender ao volume de tráfego em direção ao Porto do Açu. A solução seria a construção da EF-118, que ligará os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, mas é uma obra com previsão de licitação apenas para o primeiro trimestre de 2026.
No fim de junho, o presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano Alves, entregou para o governador Cláudio Castro uma carta de intenções com um conjunto de propostas voltadas à melhoria do ambiente de negócios e da competitividade do Estado do Rio de Janeiro, que destaca a importância das articulações com o governo federal para tirar do papel as obras da EF-118.
Em 2021, a Firjan publicou o documento “Rio Canteiro de Obras”, destacando obras de infraestrutura prioritárias para o estado, que foram majoritariamente incorporadas ao Pacto RJ, do Governo do Rio de Janeiro. Para a região Norte Fluminense, foram inseridas, entre outas, as obras de acessos ao Porto do Açu e ao Distrito Industrial de Campos.
Siqueira enfatiza que a EF-118 é uma alternativa importante que diminuirá a dependência do transporte rodoviário, além de proporcionar um fluxo de cargas, de forma mais ágil e sustentável. Além disso, os trens não enfrentam congestionamentos, como os caminhões, desta forma, apresentando um menor índice de acidentes.
O intenso tráfego de caminhões com destino ao Porto do Açu tem gerado impactos na mobilidade urbana e na infraestrutura viária de Campos dos Goytacazes e de municípios vizinhos. Veículos pesados percorrem longas distâncias, cruzando diversas cidades das Regiões Norte e Noroeste Fluminense, o que contribui para o desgaste de vias e para o aumento da poluição, o que poderia ser amenizado com a implantação da EF-118.


A concessionária Arteris Fluminense informa que a praça de pedágio mais movimentada da BR-101, em Campos, manteve praticamente o mesmo tráfego de veículos pesados de janeiro a maio de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Foram, ao todo, 657.138 caminhões circulando na rodovia nestes meses de 2024 e 656.306 no mesmo período de 2025. Essas informações foram obtidas pela Carta da Indústria, via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Polícia Rodoviária Federal.
Em Campos, a BR-101 segue sendo o principal eixo rodoviário, mas, sem uma definição clara sobre a construção de um novo contorno, rotas como a Estrada dos Ceramistas (RJ-238) acabam sendo utilizadas como alternativas, sobrecarregando vias que não foram projetadas para esse tipo de fluxo. A implantação do Contorno é uma obra essencial para retirar o tráfego pesado da área urbana e garantir mais segurança, fluidez e qualidade de vida à população local.
Segundo levantamento da Firjan, com base em dados do Ministério dos Transportes, Agência Nacional de Transporte Ferroviário (ANTF) e Conselho Nacional de Trânsito (Contran), um caminhão pode carregar 28 toneladas de carga, um vagão ferroviário médio, leva 100 toneladas ou cerca de 3,5 caminhões. Além disso, um trem costuma ter aproximadamente 100 vagões. Em relação ao movimento no porto, para carregar um navio Panamax, que pode transportar 65 mil toneladas, são necessários 2.320 caminhões ou 6,5 trens, aproximadamente.
Alternativas rodoviárias
No momento, sem a EF-118, a solução para desafogar o trânsito da cidade de Campos são melhorias na BR-101. A rodovia é conhecida por sua importância estratégica no transporte de mercadorias e passageiros.
A Firjan tem participado atenta e diretamente da busca de soluções para melhorias da BR-101. A relicitação do trecho da concessionária Arteris Fluminense tem a previsão para que ocorra em agosto. Com o atraso do leilão, anteriormente previsto para maio, as melhorias na BR-101 só começarão no final de 2025 ou início de 2026.
Como medida inicial para melhorar as condições da BR-101 na altura de Campos dos Goytacazes, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) propôs a implantação de faixas adicionais (multivias) ao longo do trecho. “A região concentra um alto índice de acidentes. No curto prazo, a ampliação da via pode salvar vidas, mas a solução definitiva é a construção do Contorno de Campos”, avalia Diogo Martins, especialista em Infraestrutura da Firjan. Campos já contou com um contorno rodoviário no passado, mas o crescimento urbano acabou incorporando a via ao tecido da cidade, tornando obsoleta sua função original.
O trânsito desordenado nas áreas urbanas de Campos tem contribuído para o aumento dos casos de atropelamentos, incluindo ocorrências com feridos e até vítimas fatais. Além disso, veículos vindos de Minas Gerais, que se utilizam da BR-356, rodovia que atravessa a área urbana de Campos, acabam agravando ainda mais os desafios de mobilidade e segurança viária no município.
Benefícios da ferrovia
Em comparação ao transporte rodoviário, a ferrovia é uma alternativa significativamente mais eficiente para o escoamento de cargas. “O modal ferroviário permite o transporte de grandes volumes, retirando das rodovias centenas de caminhões. Isso contribui não apenas para a redução na emissão de poluentes, mas, principalmente neste caso, para o alívio do tráfego pesado na malha urbana de Campos”, explica Diogo Martins. Ele destaca ainda que o transporte ferroviário é mais seguro e oferece maior previsibilidade nas entregas.
Em relação ao Porto do Açu, Martins acredita, que a ferrovia será mais um atrativo, uma vez que haverá redução do custo operacional, o que é bom para o comércio exterior, para a movimentação de carga e para o setor produtivo e a indústria em geral.
Em maio, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, da qual a Firjan participou, o secretário Nacional do Ministério dos Transportes, Leonardo Cezar Ribeiro, confirmou que a estrada EF-118 será construída. “Estamos aqui para tirar a EF-118 do papel. Essa realidade é possível, por estarmos fazendo uma política pública no setor ferroviário com aporte de recursos por parte do governo federal”.
Ribeiro lembrou que a ferrovia vai ser construída do zero, e em qualquer país, isso é um grande desafio. “Temos que considerar a dimensão ambiental e a econômica e, num primeiro momento, não há receita para isso. O ente privado, que vencer o leilão, vai construir a ferrovia em parceria com o poder público. É uma ferrovia fundamental para o país e prioritária no nosso Plano Nacional de Logística.”
Foto de capa: César Ferreira/Divulgação