ícones trazendo conceitos de industrialização da construção civil 4.0

AS VANTAGENS DA
INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO


Processos permitem ganhar tempo, reduzir custos e manter qualidade, mas tributação precisa ser revisada

 

Elevar a produtividade, assegurar desempenho da edificação e a sustentabilidade são objetivos da construção industrializada, que será um dos temas em destaque no Rio Construção Summit 2025. Os resultados são redução de prazo da obra, de desperdícios e melhoria da qualidade. É dessa forma que a Tenda consegue erguer quatro apartamentos em um só dia. Também é assim que a Dimensional antecipou em dois meses a entrega do novo prédio administrativo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído pelo fogo. 

“Construir mais em menor prazo, com custos previsíveis, sem comprometer a qualidade e a sustentabilidade, são desafios da construção civil, que sofre com um problema crônico de produtividade e de desperdícios”, analisa Marcelo Kaiuca, presidente do Fórum Setorial da Construção Civil da Firjan. 

Ele ressalta algumas práticas que passaram a ser utilizadas, como a racionalização dos processos construtivos, a mecanização nos canteiros e a digitalização da construção. Também destaca a padronização da modulação e do número de repetições, trazendo competitividade financeira ao empreendimento.

 

 

“A logística do canteiro deve ser considerada para otimizar as distâncias de movimentação dos materiais na obra e locais de armazenagem, pensando em uma linha de produção, como ocorre em uma indústria”, reforça Kaiuca, que também é vice-presidente da Firjan.

 

Na opinião de Kaiuca, é importante disseminar o conceito de industrialização, que nasce no projeto e no planejamento. Ele faz questão de apontar processos construtivos considerados industrializados: “O de alvenaria modular estrutural e o de vedação, por serem racionalizados, sem perdas e com materiais de qualidade e certificados”. 

Obra antecipada 

A Dimensional Engenharia, que atua no mercado imobiliário e de infraestrutura, atendendo clientes públicos e privados, também considera a industrialização uma forma de realizar obras mais rápidas e baratas, com maior impacto social e melhor do ponto de vista ambiental. 

Segundo Vinicius Benevides, diretor Operacional da Dimensional e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ), seu trabalho obedece a três horizontes na utilização de tecnologia: gestão de dados, projeto e construção. 

Benevides apresenta como exemplo a construção da nova sede administrativa do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído por um incêndio. A entrega foi antecipada em dois meses em relação ao prazo contratual, graças ao uso da construção modular off-site (fora do canteiro da obra) e à gestão de projeto. 

 

A construção civil é digitalizada desde as primeiras fases do projeto, passando por toda a gestão da obra, com monitoramento e acompanhamento de cada etapa

 

Em gestão de dados, projetos e obras, a construtora adota, em larga escala, a metodologia BIM (Building Information Modeling). “O BIM é um gêmeo virtual da construção. Com todas as informações necessárias para a construção, o maior objetivo desse processo é projetar, coordenar, comunicar, colaborar, mitigar erro e antever problemas no projeto. O maior impacto do BIM na nossa experiência é no tempo de projetar – com economia de uns 20% do tempo de projeto –, além de economizar cerca de 3% de custo de construção com retrabalhos e não conformidade”, aponta. 

Em projeto e execução, a Dimensional fomenta o ecossistema de startups na construção civil através do investimento em um fundo de venture capital focado em PropTechs e ConstruTechs. 

“Em gestão de projeto, temos investido e incentivado o uso de tablets nas obras para diminuir o custo com impressão e uso do papel, mas nem todos os funcionários utilizam. Sendo assim, os projetos são impressos com QR Codes para permitir a visualização da versão atualizada da planta”, afirma. 

O drone, outra ferramenta empregada pela Dimensional, é usado para mapeamento e acompanhamento visual – através de fotos e vídeos das obras – e levantamentos topográficos dos terrenos de forma mais acelerada. Ele cria um modelo tridimensional, com nuvem de pontos dos terrenos obtida a partir da captação, por meio de um laser scanner 3D. 

Entre os sistemas construtivos industrializados, duas tecnologias são uma aposta para o futuro: Light Steel Frame e o Wood Frame. “No caso do steel frame, são perfis metálicos leves que formam um quadro, um pórtico desse perfil metálico, e que são revestidos com placas cimentícias para poder fazer uma construção a seco e mais industrializada”, explica. Eles chegam na obra pré-cortados e pré-dobrados, depois é feita a vedação com as placas cimentícias, esclarece Benevides, acrescentando que, no final, vira um canteiro de montagem e não um canteiro de obras. 

Tributação da construção 

Essas vantagens da industrialização no setor, no entanto, sofrem com um entrave significativo: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os produtos industrializados que chegam aos canteiros de obras. A tributação encarece a construção, chegando a inviabilizar os investimentos em tecnologias construtivas que poderiam contribuir para a modernização do setor. 

“Isso deverá ser mitigado pela reforma tributária, mas ela tem um horizonte de 10 anos para estar totalmente implementada. Então, a gente não pode esperar esse tempo todo para destravar a industrialização da construção no Brasil. É preciso adotar medidas para equiparar pelo menos a tributação das construções com metodologias construtivas à da tradicional”, sugere o executivo da Dimensional, que destaca a importância da parceria com a Firjan para discutir e cuidar da questão. 

“A tributação tem que ser estudada caso a caso, para ver se as economias que a empresa tem com a velocidade da obra e otimização da mão de obra compensam esse custo maior de investir em uma tecnologia industrializada. Isso pode inviabilizar diversos empreendimentos e aumentar o caminho para essas tecnologias serem utilizadas em larga escala no Brasil”, argumenta Benevides.

 

 

Quatro apartamentos em um dia

 

A linha de montagem da Tenda, incorporadora voltada para habitação de interesse social, com foco no programa “Minha Casa, Minha Vida”, utiliza tecnologia construtiva para que cada uma de suas 17 fábricas produza 100 apartamentos por mês ou 1.200 por ano. No total, as fábricas entregam mais de 20 mil unidades a cada ano. 

Presente em nove estados das regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, a empresa produz apartamentos de até R$ 350 mil para famílias com renda de até 10 salários mínimos. Alexandre Millen, diretor Regional da Tenda, destaca que a operação deve ter escala, produtividade, continuidade e repetitividade. 

“Se não buscar soluções construtivas que propiciem reduzir custo, não consegue participar desse mercado de habitação de interesse social, que é muito inflexível em elasticidade de preço”, ensina Millen. 

Em um único dia, a Tenda constrói quatro apartamentos de dois quartos, sala, cozinha, área de serviço e banheiro, numa planta padrão do mercado que atende à maioria das famílias. A construtora possui jogo de formas de alumínio que são fixadas umas ao lado das outras, como se fosse um Lego, o que propicia montar todas as paredes e lajes dos apartamentos. 

Caminhões e uma bomba jogam concreto nessas formas de alumínio – que possuem telas de aço e as partes elétrica e hidráulica embutidas – como se estivessem enchendo uma forma de bolo. 


 

Apartamentos em construção pela Tenda, com uso da industrialização: produtividade máxima (Foto: Divulgação)


 

Entre as tecnologias aproveitadas pela empresa, a metodologia BIM é uma das que fazem mais sucesso, presente em 100% dos projetos desenvolvidos na Tenda. Mas a metodologia de gestão Lean Construction também é bastante considerada. Ela permite controlar cronograma, planejar e fazer acompanhamento em campo, contribuindo para uma construção enxuta. “Ela otimiza cada etapa para que eu construa com o mínimo de recurso e com a máxima produtividade possível”, enfatiza Millen, acrescentando que o drone é utilizado para fazer monitoramento das obras e marketing. 

“Quando comecei a metodologia construtiva de parede de concreto há 10 anos, tinha 50 funcionários concretando quatro apartamentos por semana. Hoje, são 25 funcionários para concretar quatro apartamentos por dia, de segunda a sábado. O ganho de produtividade é de 12 vezes”, avalia. 

Capacitação profissional 

Nesse caminho da construção industrializada, há muitas oportunidades para profissionais especializados. A Dimensional, por exemplo, sinaliza a necessidade de conhecimento cada vez mais profundo da metodologia BIM. E no canteiro de obra é necessário, segundo Benevides, a presença de profissionais que dominem principalmente as tecnologias de construção a seco, como Light Steel Frame, incluindo o drywall, que já é aplicado em larga escala. 

A Firjan SENAI promove cursos de Sistemas Construtivos Industrializados voltados para a qualificação de profissionais especializados no setor. A escola também oferece os cursos profissionalizantes de Alvenaria Estrutural; Alvenaria Racionalizada de Vedação; Parede de Concreto Moldado in Loco; Instalação de Drywall; Light Steel Framing; Argamassa Projetada; Gesso Projetado; Pintura Airless; Eletricidade Predial Industrializada; Hidráulica Predial Industrializada; Lean Construction; Automação Predial, bem com possui um portfólio amplo na metodologia BIM e Técnico em Edificações. 

Para industrializar a construção, as empresas do setor precisam atender a alguns requisitos técnicos, seguindo a Norma de Desempenho nas Edificações, visando garantir três pilares: segurança, habitabilidade e sustentabilidade. O Laboratório de Materiais e Sistemas Construtivos da Firjan SENAI realiza ensaios, tanto na obra quanto no laboratório. O espaço oferece serviços de análises e ensaios técnicos em câmara acústica, e em breve serão inaugurados na unidade laboratórios para ensaios de resistência e de reação a fogo, que vai avaliar a resistência da parede e dos materiais usados.

 

Roberto da Cunha, consultor de Educação Profissional da Firjan SENAI, explica que a industrialização tende a mudar o perfil do setor. “Em relação à mão de obra, o setor historicamente sempre foi utilizado dentro de uma visão de política social voltada para a absorção de mão de obra de baixa qualificação, em vez de uma política industrial. Isso passa a mudar com o processo de produção industrializado”.