Publicado em 13/06/2023 - Atualizado em 18/01/2024 09:26
CONHEÇA OS CINCO
DISTRITOS FLORESTAIS DO ESTADO
Floresta plantada pode beneficiar indústrias, trazer investimentos e proteger o meio ambiente
Fomentar a silvicultura, recuperar áreas degradadas, ajudar na remoção de carbono, gerar emprego e renda são objetivos da ação do governo estadual para implementar distritos florestais no Rio de Janeiro. O estado importa cerca de 90% dos produtos madeireiros utilizados na indústria por não dispor de uma base florestal consolidada. O Rio possui apenas cerca de 30 mil hectares de florestas plantadas com fins comerciais, o que corresponde a 0,5% do seu território. O estudo do Potencial Energético e de Remoção de CO2 das Florestas Plantadas nos Distritos Florestais, lançado na Firjan e elaborado pelo Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG/Coppe – UFRJ) e parceiros, prevê o plantio de 100 mil hectares (o equivalente a 100 mil campos de futebol) até 2039 nos distritos, o que chegaria a remoções de 7,1 milhões de toneladas de CO2 em 2035.
Mas o potencial de área plantada é ainda três vezes superior. Dos cinco distritos previstos, dois ficam na região Norte, um no Noroeste Fluminense, um na região Serrana/Centro-Norte e o outro no Médio Paraíba. Eles foram escolhidos por terem áreas degradadas que poderão ser recuperadas. Com uma soma total de 600 mil hectares, os distritos possuem 324 mil ha com potencial de plantio para silvicultura.
“Vejo a implantação desses distritos com muito otimismo. É de suma importância para o desenvolvimento do estado como um todo. Especificamente no Sul Fluminense, temos grandes áreas não mais cobertas por mata nativa e que não se prestam à pecuária de grande qualidade. São mais adequadas ao plantio do eucalipto. Isso trará um círculo virtuoso, com emprego, renda, revenda de máquinas, caminhões, tratores, implementos agrícolas. Tudo vai impulsionar o comércio local e gerar tributos para o estado”, analisa Henrique Nora Jr., presidente da Firjan Sul Fluminense e também do Sindicato da Indústria de Cerâmica para Construção e Olaria do Médio Vale do Paraíba (Sindicer-MVP).
A madeira poderá ser usada em diversos setores industriais, como o moveleiro e papel e celulose, e ainda como energia. Nora aponta que a indústria de cerâmica e outras geralmente usam madeira como combustível. As cerâmicas aproveitam o resíduo de madeira, vindo de embalagens de grandes empresas como a CSN, a automobilística e a de cervejas. Outras empresas buscam resíduos fora do estado. “O ciclo da madeira na cadeia da indústria é muito grande, nada se perde. Quando é lixo para uma empresa, é usado em outras”, destaca Nora.
Norte Fluminense
Um estudo feito pela Embrapa a pedido do Porto do Açu no ano passado identificou 263 mil hectares de áreas degradadas no Norte e Noroeste Fluminense e Sul do Espírito Santo. Desse total, quase a metade fica em Campos dos Goytacazes. A ideia é estimular a produção de eucaliptos e, assim, atrair empresas para a produção de carvão vegetal, aço verde e celulose. A reserva Caruara, maior unidade privada dedicada à preservação de restinga do Brasil, mantida pelo Porto do Açu, em São João da Barra, atuaria como berçário de mudas. A iniciativa vem ao encontro do projeto de distritos florestais do governo do estado. A expectativa dos empresários é que haja incentivos fiscais específicos para a indústria florestal.
"Essa é mais uma enorme riqueza a ser explorada no Norte Fluminense, ao lado de outras iniciativas sustentáveis como a energia solar, eólica offshore e de hidrogênio, que contam com diversos projetos em Campos, Macaé e São João da Barra. A criação de incentivos fiscais em comunhão com a agenda verde e as necessárias obras de infraestrutura, principalmente a EF-118 ligando o Porto ao Centro-Oeste do país, nos traz a perspectiva de que a região tem tudo para ser protagonista em questões como integração energética e sustentabilidade", ressalta Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte Fluminense.
Noroeste e Centro-Norte
Na Região Noroeste, há 97.845 hectares mapeados para um distrito florestal em áreas de Itaperuna, Laje do Muriaé, Miracema, Santo Antônio do Pádua e São José de Ubá, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). “O desenvolvimento da silvicultura é um importante pleito da Firjan para alavancar a indústria fluminense e promover o crescimento econômico do estado, principalmente no interior. Vamos transformar áreas degradadas em regiões de grande produtividade, visando a sustentabilidade e a geração de bioenergia. O licenciamento ambiental simplificado será um importante estímulo para a atividade”, avalia José Magno Hoffmann, presidente da Firjan Noroeste.
Márcia Carestiato Sancho, presidente da Firjan Centro-Norte, está otimista com a possível implantação de um distrito florestal em Carmo, São Sebastião do Alto e Cantagalo. “Os benefícios vêm do fato de o estado do Rio importar cerca de 90% dos produtos madeireiros que são utilizados na indústria, tanto na moveleira como na de construção civil, e na questão da energia. Isso vai tornar o Rio mais capaz de produzir o que consome de madeiras, além de gerar impostos estaduais. Outro ponto importante é a geração de créditos de carbono para o mercado. É um grande acerto do governo”.
Seringueiras
A indústria pneumática também poderá se beneficiar, caso haja plantação de seringueira. “Para a Michelin e qualquer indústria pneumática é preciso importar matéria-prima do exterior. O mercado brasileiro atende apenas em torno de 40% da necessidade do setor, e o Rio de Janeiro possui uma produção incipiente, localizada em Silva Jardim. O maior produtor de borracha natural é São Paulo. Há ainda produções em Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo”, explica Pedro Souza, gerente de Insight e Research da Michelin, instalada no Sul Fluminense.
A atividade de produção de borracha traz vantagens socioeconômicas, segundo Souza. “É perene, por muitos anos, rica em mão de obra e emprega homens e mulheres. A atividade de sangria é de detalhe, de cuidado”, acrescenta.
Além disso, a borracha natural precisa de uma usina de processamento para transformá-la em GEB (Granulado Escuro Brasileiro), utilizado na fabricação de pneus. Porém, quase todas as usinas ficam em São Paulo, mas Souza explica que o investimento nesse tipo de fábrica não é grande, o que facilitaria a instalação do beneficiamento perto da plantação. É uma atividade simples, para lavar, cortar e assar a borracha em condições controladas. Os produtos também são usados em outras indústrias como as de artefatos, farmacêutica, preservativos e luvas.
“A seringueira é uma árvore de grande porte, que ajuda a recuperar a área degradada, enquanto outras matas crescem perto dela. A espécie tem um alto valor de captura de carbono, sendo a composição do látex majoritariamente carbono”, complementa Souza.
Nova legislação
A mudança na legislação, com a aprovação da Lei Estadual nº 9.972/23, é considerada por especialistas fundamental para o projeto dos distritos sair do papel. “O arcabouço legal existente praticamente proibia essa atividade econômica. As áreas a partir de 200 hectares precisavam de um estudo caro para ter o licenciamento. Com a nova lei, o governo estadual fará o licenciamento prévio dos distritos florestais. É a virada de chave. Assim, cada empresa que se instalar, precisará só de uma licença autodeclaratória. Isso vai atrair investidores”, explica Andrea Lopes, especialista em Sustentabilidade da Firjan e assessora do Conselho Empresarial de Meio Ambiente.
Telmo Borges, superintendente de Mudanças do Clima e Florestas da Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS), garante que o licenciamento será destravado, sem a perda do controle ambiental. “Está sendo instituído o Comitê de Gestão dos Distritos Florestais. O Inea está elaborando os documentos para o estudo do relatório ambiental simplificado (RAS) de cada distrito. Será contratada uma empresa para fazer o plano de desenvolvimento florestal, e o Sistema Estadual de Licenciamento Ambiental (Selca) ficará adequado à licença da silvicultura”, esclarece.
Meio ambiente
Os ganhos socioambientais também são relevantes. A silvicultura contribui para a descarbonização e ainda ajuda os empresários a se adaptarem à nova taxa ambiental da União Europeia, o Cbam (Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira). “Quando se planta floresta, durante todo o crescimento ela absorve o CO2 na atmosfera. É uma forma de mitigação que pode gerar crédito de carbono através da floresta plantada”, ressalta Andrea.
Além disso, se uma indústria quiser trocar a caldeira a gás natural por biomassa, terá insumo dentro do próprio território fluminense. “Ajuda a reduzir as emissões de efeito estufa, é carbono natural e não conta como emissão de gases de efeito estufa. Quando queima a madeira de reflorestamento no lugar de um fóssil, reduz 100% das emissões de CO2”, explica Andrea, lembrando ainda que, quando a indústria precisa buscar matéria-prima em outros estados, só o transporte por caminhão já emite uma grande quantidade de gases de efeito estufa.