Denny Murguia, Fernanda Tauffenbach e Rogério Suzuki no Rio Construção Summit (Above Studio)

PRODUTIVIDADE EM ALTA
NOS DEBATES


Duas mesas redondas do Rio Construção Summit desta quarta, 20/09, debateram a importância da produtividade na indústria da construção. A primeira com Danny Murguia, pesquisador associado da Universidade de Cambridge - Laing O'Rourke Centre for Construction Engineering and Technology, e a seguinte com o professor e empresário Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, diretor da Produtime, entre outros representantes do setor.

 

O pesquisador peruano Murguia, que tem extenso trabalho também no Reino Unido, garantiu que as medições são fundamentais para o aumento da produtividade. “É preciso termos esses dados coletados também no Brasil para sabermos o que está acontecendo nos canteiros de obra. Desenvolver melhor as métricas é um dos caminhos. Essas informações serão usadas para novos insights nas áreas de planejamento, projetos e custos”.

 

Murguia discutiu o tema com Fernanda Tauffenbach, sócia de Infraestrutura e Projetos de Capital da Deloitte, engenheira que trabalha há mais de 16 anos no setor. A implantação da produtividade pode reduzir de 10% a 30% os custos de engenharia de uma obra. E em casos de projetos de um ciclo de vida grande, como uma rodovia, a redução de custos seria de 5% a 10%, segundo pesquisa apresentada pela executiva.

 

Já o mediador da mesa, Rogério Suzuki, diretor da VisttaS Consultoria, comentou sobre a possível influência da inteligência artificial nos processos de melhoria da produtividade na construção e lembrou que cabe a todos buscar soluções para o aumento da produtividade desta indústria.

 

No segundo painel, Melhoria da Produtividade na Construção Civil: um Desafio do Setor, Ubiraci Espinelli, que deu entrevista exclusiva para a Carta da Indústria no mês passado, aprofundou o tema. “A produtividade é a eficiência do processo e o uso da medição é essencial para melhorar esse quadro em uma empresa de construção. Mas a questão é como medir. Na macroeconomia, o PIB é o indicador. Temos que desenvolver indicadores setoriais que sirvam de referência para avaliar quanto se gasta”.

 

Ubiraci Espinelli: "Temos que desenvolver indicadores setoriais que sirvam de referência" (Foto: Above Studio)

 

Os especialistas concordam que os indicadores variam muito, mas que são essenciais para as tomadas de decisão. Foram apresentados os cases das construtoras Tenda e Tarjab. Alexandre Millen, diretor regional da Tenda, contou que o processo padronizado de construção alavanca a produtividade da empresa, que é especializada em moradias populares. “Para nós, produtividade é sobrevivência. Precisamos ter o menor custo possível; fazemos imóveis padrão de dois quartos, usando a mesma metodologia construtiva em dez estados. Construímos de 15 mil a 20 mil unidades por ano”.

 

Já a Tarjab, que é ao mesmo tempo uma incorporadora, uma construtora e o braço de vendas, tem peculiaridades. “Como conciliar os três objetivos das empresas? O projeto tem que atender às três expectativas, incluindo os ganhos de produtividade desde o início do planejamento”, ressaltou o diretor técnico, Sérgio Domingues.

 

Mão de obra qualificada

 

Todos os participantes da mesa criticaram a situação da mão de obra na construção, tanto pela escassez como pela falta de qualificação. Roberto da Cunha, mediador do debate e assessor do Fórum Setorial da Construção Civil da Firjan, lembrou o grande apagão de profissionais qualificados de 2014 e disse que ele está se repetindo agora. “Só que o contexto atual é diferente do crescimento setorial que experimentamos no período no período de 2017 a 2013. Hoje o nível de atividade está aquém do passado, estamos com um estoque de trabalhadores de um terço a menos, no entanto o apagão atual de mão de obra sentido pelas empresas se deve a fatores mais críticos: baixa atratividade por novos profissionais e pela indisponibilidade de mão de obra devido ao envelhecimento da população. O problema ficou mais complexo e deve ser respondido, em parte, pelo adoção de processos de produção mais industrializados”, atestou.

 

“O caminho para a construção é a formação de operários e gestores. É preciso reter os bons profissionais para evitar que mudem de profissão. O líder desse processo é o gestor, o construtor”, acrescentou Ubiraci. Para se alcançar a produtividade, o professor acredita na importância de mais interação entre os agentes da cadeia. “Pré-fabricados sozinhos não resolvem o problema. A gestão da produtividade precisa ser encarada como algo muito sério. Não é uma boa vontade. É urgente medir, ter métricas”. Espinelli propõe uma meta de aumento de produtividade na construção de 4% ao ano. Em dez anos, seria alcançado um avanço de 50%.

 

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE, demonstrou que 50% da produtividade depende da mão de obra e os outros 50% fazem parte do entorno, tanto dentro como fora da empresa. “O gestor tem que saber gerir. Além disso, as taxas de juros e a tributação dos financiamentos influenciam o resultado de uma construção”, ponderou. Ana Maria vê na discussão da Reforma Tributária no Congresso Nacional uma oportunidade para se resolver distorções.