Publicado em 22/09/2023 - Atualizado em 18/01/2024 09:23
PRODUTIVIDADE EM ALTA
NOS DEBATES
Duas mesas redondas do Rio Construção Summit desta quarta, 20/09, debateram a importância da produtividade na indústria da construção. A primeira com Danny Murguia, pesquisador associado da Universidade de Cambridge - Laing O'Rourke Centre for Construction Engineering and Technology, e a seguinte com o professor e empresário Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, diretor da Produtime, entre outros representantes do setor.
O pesquisador peruano Murguia, que tem extenso trabalho também no Reino Unido, garantiu que as medições são fundamentais para o aumento da produtividade. “É preciso termos esses dados coletados também no Brasil para sabermos o que está acontecendo nos canteiros de obra. Desenvolver melhor as métricas é um dos caminhos. Essas informações serão usadas para novos insights nas áreas de planejamento, projetos e custos”.
Murguia discutiu o tema com Fernanda Tauffenbach, sócia de Infraestrutura e Projetos de Capital da Deloitte, engenheira que trabalha há mais de 16 anos no setor. A implantação da produtividade pode reduzir de 10% a 30% os custos de engenharia de uma obra. E em casos de projetos de um ciclo de vida grande, como uma rodovia, a redução de custos seria de 5% a 10%, segundo pesquisa apresentada pela executiva.
Já o mediador da mesa, Rogério Suzuki, diretor da VisttaS Consultoria, comentou sobre a possível influência da inteligência artificial nos processos de melhoria da produtividade na construção e lembrou que cabe a todos buscar soluções para o aumento da produtividade desta indústria.
No segundo painel, Melhoria da Produtividade na Construção Civil: um Desafio do Setor, Ubiraci Espinelli, que deu entrevista exclusiva para a Carta da Indústria no mês passado, aprofundou o tema. “A produtividade é a eficiência do processo e o uso da medição é essencial para melhorar esse quadro em uma empresa de construção. Mas a questão é como medir. Na macroeconomia, o PIB é o indicador. Temos que desenvolver indicadores setoriais que sirvam de referência para avaliar quanto se gasta”.
Os especialistas concordam que os indicadores variam muito, mas que são essenciais para as tomadas de decisão. Foram apresentados os cases das construtoras Tenda e Tarjab. Alexandre Millen, diretor regional da Tenda, contou que o processo padronizado de construção alavanca a produtividade da empresa, que é especializada em moradias populares. “Para nós, produtividade é sobrevivência. Precisamos ter o menor custo possível; fazemos imóveis padrão de dois quartos, usando a mesma metodologia construtiva em dez estados. Construímos de 15 mil a 20 mil unidades por ano”.
Já a Tarjab, que é ao mesmo tempo uma incorporadora, uma construtora e o braço de vendas, tem peculiaridades. “Como conciliar os três objetivos das empresas? O projeto tem que atender às três expectativas, incluindo os ganhos de produtividade desde o início do planejamento”, ressaltou o diretor técnico, Sérgio Domingues.
Mão de obra qualificada
Todos os participantes da mesa criticaram a situação da mão de obra na construção, tanto pela escassez como pela falta de qualificação. Roberto da Cunha, mediador do debate e assessor do Fórum Setorial da Construção Civil da Firjan, lembrou o grande apagão de profissionais qualificados de 2014 e disse que ele está se repetindo agora. “Só que o contexto atual é diferente do crescimento setorial que experimentamos no período no período de 2017 a 2013. Hoje o nível de atividade está aquém do passado, estamos com um estoque de trabalhadores de um terço a menos, no entanto o apagão atual de mão de obra sentido pelas empresas se deve a fatores mais críticos: baixa atratividade por novos profissionais e pela indisponibilidade de mão de obra devido ao envelhecimento da população. O problema ficou mais complexo e deve ser respondido, em parte, pelo adoção de processos de produção mais industrializados”, atestou.
“O caminho para a construção é a formação de operários e gestores. É preciso reter os bons profissionais para evitar que mudem de profissão. O líder desse processo é o gestor, o construtor”, acrescentou Ubiraci. Para se alcançar a produtividade, o professor acredita na importância de mais interação entre os agentes da cadeia. “Pré-fabricados sozinhos não resolvem o problema. A gestão da produtividade precisa ser encarada como algo muito sério. Não é uma boa vontade. É urgente medir, ter métricas”. Espinelli propõe uma meta de aumento de produtividade na construção de 4% ao ano. Em dez anos, seria alcançado um avanço de 50%.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE, demonstrou que 50% da produtividade depende da mão de obra e os outros 50% fazem parte do entorno, tanto dentro como fora da empresa. “O gestor tem que saber gerir. Além disso, as taxas de juros e a tributação dos financiamentos influenciam o resultado de uma construção”, ponderou. Ana Maria vê na discussão da Reforma Tributária no Congresso Nacional uma oportunidade para se resolver distorções.