Publicado em 11/12/2024 - Atualizado em 11/12/2024 12:27
EMPRESAS DO RIO
MAIS PRODUTIVAS
Programa do governo federal desenvolvido pela Firjan SENAI e outras instituições traz retornos de curto prazo para as indústrias
Uma empresa de quase meio século de existência pode carregar vícios de mercado e metodologias antigas, muitas vezes difíceis de mudar? Atento à necessidade de atualização constante, Leandro de Souza Soares, presidente e proprietário da Gráfica Bandeirantes, de Volta Redonda, no Sul Fluminense, foi buscar no programa Brasil Mais Produtivo (B+P), do governo federal, as respostas para suas indagações. Os resultados significativos vieram quase que de imediato.
“Após cerca de quatro meses de trabalho, a gráfica obteve aproximadamente 14% de ganho. Com melhorias do processo, temos disponibilidade de aumento das vendas, melhoria da qualidade e eliminação de desperdício. E tudo com os mesmos funcionários, com os mesmos materiais, simplesmente mudando o processo”, revela Soares.
A Gráfica Bandeirantes é uma das indústrias atendidas este ano pela Firjan SENAI no âmbito do B+P, por meio de consultoria e aperfeiçoamento profissional.
“Depois da consultoria, temos metas claras e estamos alinhados com a estratégia que antes não existia na empresa. Além disso, hoje todos os status dos serviços, como urgência ou atrasos, são identificados por placas. Com a nova organização e capacitação dos funcionários, a empresa produziu 17 vezes mais durante a eleição deste ano. Tive um faturamento em 45 dias maior do que mais que um ano de serviço da empresa”, conta Soares.
Ele exemplifica contando que, anteriormente, muitas vezes só percebiam que não havia o papel para um determinado trabalho após perder meia hora preparando a máquina para rodar. “Esse é um tipo de erro primário que agora é evitado. A consultoria pegou desde questões básicas como essa até outras mais avançadas. Com isso passamos a estabelecer novas rotinas na empresa”, acrescenta.
Mais produtividade
A Firjan SENAI já alcançou a média de 78,7% de aumento de produtividade de indústrias do Rio de Janeiro por meio das consultorias e aperfeiçoamento profissional oferecidos no âmbito do B+P. O resultado da terceira edição gratuita do programa é superior à média nacional, que ficou em 27,8%. A federação ainda totalizou a meta de 160 contratos assinados em 2024 com micro e pequenas empresas. E entre as 26 médias indústrias programadas para este ano, 20 estavam com contratos assinados em meados de novembro.
Alexandre dos Reis, diretor executivo da Firjan SENAI SESI, destaca que o programa B+P tem o objetivo claro de melhorar a produtividade, principalmente da micro e da pequena empresa (MPE). "A Firjan está indo muito bem no projeto, com quase 60% das empresas contratadas em execução. Este ano estamos entregando bons resultados de melhoria de produtividade do programa que vai rodar por mais dois anos. Estaremos firmes no programa em 2025”.
Para 2025, a previsão é atender 384 MPEs, sendo que 288 serão atendidas pela Firjan SENAI e 96 pelo Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI CETIQT).
O que é o B+P
O Brasil Mais Produtivo pretende ser o maior e mais impactante programa de produtividade já implantado para as micro, pequenas e médias empresas brasileiras (MPMEs). É coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com a participação institucional da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A iniciativa envolve desde a visita técnica e realização do diagnóstico, passando pelo projeto até o financiamento das ações. Os produtos do novo B+P oferecem desde soluções de sensibilização e engajamento, aumento de produtividade e de eficiência energética até a transformação digital das indústrias, por meio da execução de consultorias, cursos de aperfeiçoamento profissional e acesso a linhas de financiamento para modernizar e realizar, de fato, a transformação digital.
Alberto Besser, interlocutor regional da Firjan no Brasil Mais Produtivo, pontua que é um orgulho para o país ter um programa nacional dessa magnitude.
“Com tantos parceiros envolvidos em prol do bem comum do nosso setor industrial, para ajudá-lo a crescer e a se desenvolver, o B+P está alinhado à política da neoindustrialização do governo federal. Isso significa recuperar os parques industriais, dar novamente o protagonismo para a indústria, já que ela é indutora de inovações e de produtividade e impacta a cadeia toda de comércio e serviços", enfatiza Besser.
Nesta edição do programa, que começou este ano e vai até 2027, o grande diferencial é a introdução da capacitação. A empresa recebe consultoria da equipe técnica especializada da Firjan para melhorar a eficiência de seu processo produtivo, seja em produtividade ou em eficiência energética, e os funcionários ainda são capacitados pela Firjan SENAI. Assim, os trabalhadores da empresa passam a conhecer em mais detalhes as fundamentações de produtividade ou de eficiência energética, para que possam dar continuidade quando a consultoria acabar.
As quatro etapas do programa
O Brasil Mais Produtivo está divido em quatro modalidades. A primeira é a plataforma de produtividade, portal de entrada das empresas no programa.
A segunda etapa é executada pelo Sebrae. Nesse passo, o B+P utiliza o Agente Local de Inovação de Produtividade (ALI) para avaliar a gestão da inovação dentro da organização e construir um relatório.
A modalidade três é oferecida pelo SENAI, através de duas consultorias, uma em manufatura enxuta (Lean Manufacturing) e outra em eficiência energética. Aqui, nessa fase, além da consultoria, nasce o aperfeiçoamento profissional.
A consultoria em manufatura enxuta é uma abordagem de gestão baseada nas boas práticas do sistema de produção para eliminar desperdícios e, com isso, melhorar a qualidade das operações, reduzir prazo de entrega e otimizar custos.
Já a eficiência energética visa fazer com que as empresas consumam menos energia e possam otimizar seus recursos energéticos, tendo acesso a novas tecnologias e, se for o caso, à energia solar e eólica.
“O consultor faz o trabalho de melhoria dentro da organização, mas a equipe de educação profissional da Firjan SENAI treina as pessoas para que elas aprendam a técnica. A Firjan SENAI usa toda a expertise em educação profissional nas suas diversas abrangências. Os Institutos SENAI de Tecnologia (ISTs) fazem as consultorias, com exceção da área de construção civil, que é atendida pelo Centro de Referência em Construção Civil da Firjan SENAI SESI Tijuca; e da cadeia de moda e confecção, que é cuidada pelo SENAI CETIQT”, detalha Alberto Besser.
A quarta modalidade visa que as empresas adotem iniciativas de digitalização parcial ou total. “São diversas ações complementares para a grande iniciativa, que é justamente a melhoria da produtividade do parque industrial do Brasil”, ressalta Besser.
Daniel Salles, gerente de Infraestrutura e Produtos Tecnológicos da Firjan SENAI, reflete que o MDIC relançou o programa com uma ótica associada à Nova Indústria Brasil (NIB).
“O Programa Brasil Mais Produtivo é um guarda-chuva que congrega diversas ações, cujo objetivo trata da transformação da indústria brasileira. Temos hoje um cenário de defasagem em termos de produtividade e no nível de transformação digital. Precisamos, dentro da ótica de crescimento do nosso Produto Interno Bruto (PIB), fomentar e pivotar a nossa indústria brasileira, que carece de instrumentos para que possa minimamente acompanhar o ritmo de produtividade e o ritmo de transformação digital pelo qual passam as demais empresas do mundo”, detalha Salles.
Ganhos com B+P
“Vale a pena participar do B+P e estar aberto a aprender com os especialistas da Firjan SENAI”, afirma Jussara Gomes de Souza, proprietária da Gicalli, empresa que produz bolsas, mochilas, estojos e nécessaires, em Bom Jesus do Itabapoana, região Noroeste Fluminense.
Assim como aconteceu com a Gráfica Bandeirantes, a Gicalli também obteve ganhos de produtividade após a identificação das carências e da implementação das recomendações da consultoria da Firjan SENAI. Segundo a empresária, o trabalho do dia a dia nem sempre permite uma maior observação dos processos, e a consultoria trouxe essa análise que resultou em agilidade e economia de tempo.
“Até a mudança no layout das máquinas fez diferença. Caixas organizadoras disponibilizadas para cada funcionário na fábrica promoveram mais estruturação, o que resultou em ganho de tempo. As palestras também conscientizaram, motivaram e capacitaram os trabalhadores sobre a importância da organização”, pontua Jussara, que conta não ter encontrado dificuldade para se inscrever no programa B+P.
Gestão, aprendizado e financiamento
Em todo o país, o programa prevê que até 200 mil micro, pequenas e médias empresas terão acesso a diversos materiais, cursos e ferramentas desenvolvidos pelas instituições parceiras. Prevê ainda Diagnóstico e Melhoria de Gestão para até 50 mil MPEs; e consultorias e cursos de aperfeiçoamento profissional do SENAI para até 30 mil MPEs e até 1.200 médias empresas.
Para os investimentos em transformação digital, as indústrias terão acesso a linhas de financiamento do BNDES e Finep. Para Pesquisa e Desenvolvimento, terão via Embrapii. Apenas empresas de médio porte deverão pagar uma contrapartida de 30% do custo total do atendimento. As demais, ou seja, micro e pequenas, têm 100% de subsídios.