Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan

OS DESAFIOS DA GESTÃO DE
LUIZ CÉSIO CAETANO


Acionista e diretor corporativo na Sal Cisne, em Cabo Frio, o empresário campista Luiz Césio Caetano inicia sua gestão à frente da Firjan e do CIRJ com foco no aumento da competividade da indústria fluminense, no fortalecimento cada vez maior das Representações Regionais e com um compromisso com a diversidade, a equidade e a inclusão.

 

Caetano aponta a segurança pública como um dos maiores desafios do Rio com impactos diretos sobre as empresas. Algumas, inclusive, precisaram deixar o Rio de Janeiro pela insegurança. A qualificação e atração de mão de obra para a indústria, à luz dos desafios das novas relações de trabalho, também estão na agenda prioritária da nova diretoria.  

A Carta da Indústria apresenta a primeira entrevista do novo presidente, que também atua como diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), vice-presidente do seu Conselho da Micro e Pequena Empresa, e preside o Sindicato da Indústria de Refinação e Moagem de Sal do Estado do Rio de Janeiro (Sindisal).  

CI: Por que decidiu aceitar concorrer à Presidência da Firjan e do CIRJ?  
Luiz Césio Caetano: Isso aconteceu de uma maneira bastante natural. Sou diretor da Firjan há mais de 20 anos, passei por todas as instâncias que um dirigente industrial pode passar. Quando Eduardo Eugenio (ex-presidente da Firjan) entendeu que havia cumprido sua missão, ele me procurou e conversamos sobre sucessão. Inicialmente, não era minha pretensão, mas pensando pelo bem da indústria e da sociedade aceitei esse desafio, com muita satisfação.  

CI: Na sua opinião, quais serão os principais desafios de sua gestão?  
Luiz Césio Caetano: Segurança pública, mobilidade urbana e logística, eficiência do Estado e qualificação e atração de mão de obra para a indústria. O Rio precisa enfrentar com urgência problemas de infraestrutura e de segurança pública que impactam cidadãos e empresas. Um exemplo: o roubo de energia elétrica, que faz da tarifa fluminense uma das mais caras do Brasil.

 

Para que o estado do Rio assuma plenamente seu potencial de principal hub logístico do país e traga mais desenvolvimento, é fundamental mais segurança e investimento em vias estratégicas, como a BR-040, a BR-101, a ferrovia EF-118, e a valorização de seus portos e aeroportos.

 

Já a reforma tributária trará um sistema de tributação mais simples e equalizando a carga entre os setores. No longo prazo, a isonomia tributária dinamiza a economia, gera mais empregos e renda, e mercado consumidor. E põe fim à guerra fiscal entre os estados brasileiros, tornando-se mais competitivo quem tiver melhor infraestrutura. Nesse aspecto, o Rio sai na frente pela presença de portos, aeroportos e rodovias federais que interligam diversos estados do país.  

CI: Que medidas o senhor considera prioritárias para melhorias na segurança pública no território fluminense? E como uma mudança de cenário nesse tema pode impulsionar a economia do estado?   
Luiz Césio Caetano: A questão da segurança pública é o maior problema que temos. É preciso acabar com a sombra que o crime organizado faz no estado como um todo. É domínio de territórios, contrabando de armas e de drogas... E oportunidades de novos negócios só virão na medida em que esses problemas consigam ser superados. A insegurança dificulta a retenção de trabalhadores nas empresas, as barricadas impedem a chegada e a saída de mercadorias, além da livre circulação de pessoas. Os furtos de cabos – tanto dentro, quanto fora de áreas dominadas - deixam as indústrias sem comunicação com clientes. Serviços clandestinos têm sido impostos em muitos bairros e municípios da Região Metropolitana, minando empregos e impactando a arrecadação.

 

O problema é tão grave que tivemos indústrias instaladas na Baixada Fluminense, por exemplo, que decidiram fechar as portas e se mudar definitivamente para fora do estado do Rio, porque não queriam ficar à mercê de extorsões e ver seus funcionários sob risco. Na Avenida Brasil, que já foi um lugar privilegiado para operação das empresas, hoje o que se vê é uma quantidade de espaços vazios... Ao longo dos anos, várias indústrias que ali funcionavam se mudaram ou encerraram suas atividades. A empresa em que comecei a trabalhar é uma que foi embora do Rio. É preciso, portanto, que haja mais investimento em prevenção e em ações de inteligência.

 

Caetano: "Para viabilizar o fortalecimento do setor industrial no Rio e no Brasil, é essencial uma abordagem que envolva políticas públicas consistentes e o engajamento do setor privado" (Foto: Paula Johas)


 

CI: Em termos de infraestrutura e mobilidade, na sua opinião, quais devem ser os investimentos prioritários para estimular ainda mais a competitividade no Rio?   
Luiz Césio Caetano: Na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), que liga as duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio, nossa expectativa é por uma nova pista na Serra das Araras, cujas obras já foram iniciadas. No Norte Fluminense, são necessárias obras de infraestrutura que conectem o Porto do Açu com a ferrovia EF-118, para garantir o escoamento da produção de grãos oriunda do Centro-Oeste, além de estimular no Norte um aumento da produção de fertilizantes, também direcionado ao interior do país.

 

Faltam ainda soluções definitivas para duas importantes rodovias federais que cortam o nosso estado: a BR-040, que aguarda uma nova concessão e a conclusão das obras da nova pista de subida da serra de Petrópolis; e a BR-101 Norte, com trechos aguardando duplicação, além de um novo contorno para Campos. É preciso também um olhar atento para a manutenção do transporte aquaviário na Baía de Guanabara.  

CI: O que, na sua visão, fará o Rio entrar de fato no rumo do desenvolvimento econômico?   
Luiz Césio Caetano: São diversas as oportunidades já mapeadas, inclusive pela Firjan SENAI SESI. O território fluminense é o maior produtor energético no país, com mais de 66% da produção nacional de gás e 86% do petróleo. Mesmo com essa liderança, é preciso investimentos na transição, na integração e na eficiência energética. Isso é uma questão estratégica e de segurança. Hoje, o Rio de Janeiro sofre com os furtos de energia elétrica e essa perda compromete a prestação do serviço. Em paralelo, a qualidade da energia fornecida para os consumidores deixa muito a desejar e impacta na competitividade das empresas.

 

Temos um exemplo em Santo Antônio de Pádua, no Noroeste: a indústria tem prejuízos enormes por conta da variação de tensão. Nas salinas, na Região dos Lagos, chegamos a ficar um dia inteiro sem energia. Mesmo com todo o potencial da energia solar e eólica, diversificar ainda mais a matriz deve se levado em consideração. E nesse sentido, a conclusão da obra da usina nuclear de Angra 3 deveria ser prioridade para o governo federal.

 

Falta estratégia de desenvolvimento do interior. Na silvicultura, por exemplo, o Rio tem condições de atrair cerca de R$ 11 bilhões e gerar 960 mil empregos diretos e indiretos no estado em cinco anos, e atender a Minas, São Paulo e Espírito Santo, e desenvolver toda uma cadeia. São 20, 30 anos nessa questão, mas aqui não se consegue avançar. As regiões Norte e Noroeste já foram identificadas como áreas de grande potencial de cultivo para atender o mercado nacional e internacional.  

CI: Os empresários se queixam muito de falta de mão de obra qualificada. Como a Firjan encara esse desafio e como pode apoiar os empresários?   
Luiz Césio Caetano: A pandemia e o surgimento de tecnologias disruptivas, como a IA (inteligência artificial), criaram muitos desafios para as indústrias. Junto com eles vieram também as novas relações de trabalho. A digitalização da produção exige mão de obra cada vez mais qualificada e disputada. Um grande desafio atual é formar, atrair e reter trabalhadores, o único caminho para o país elevar sua produtividade de maneira sustentável.

 

Hoje o Rio de Janeiro conta com uma ampla rede de instituições públicas e privadas de ensino técnico e superior, além da rede de institutos de tecnologia e de inovação da Firjan SENAI SESI, dos centros de referência da Firjan SENAI SESI e da nova unidade da Firjan SENAI SESI inaugurada para atender a Região dos Lagos, com capacidade para formar mil alunos por ano.

 

Nossa proposta é adequar ainda mais a formação da Firjan SENAI com as vocações econômicas regionais. Por fim, analisando especificamente o Ensino Médio, defendemos a expansão do horário integral na rede pública com ensino técnico. Já fazemos isso na Firjan SESI e na Firjan SENAI: Ensino Médio com formação técnica e 100% gratuito.  

CI: Nas últimas décadas, o Rio e o Brasil passaram por um intenso processo de desindustrialização. O que precisa ser feito para viabilizar o fortalecimento do setor?   
Luiz Césio Caetano: Em primeiro lugar, é importante pontuar que o desenvolvimento econômico não pode estar desvinculado do compromisso social. É preciso melhorar a qualidade de vida das pessoas, com saneamento, educação e habitação, que podem ser entregues através de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada. Uma política industrial forte é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, ou seja, para o país crescer, inovar e aumentar produtividade e competitividade.

 

Repito: para viabilizar o fortalecimento do setor industrial no Rio e no Brasil, é essencial uma abordagem que envolva políticas públicas consistentes e o engajamento do setor privado. Mudanças na tributação, um estado mais eficiente e investimentos em energia, logística e conectividade permitiriam uma maior competitividade das nossas empresas.  

CI: Como a indústria fluminense pode se beneficiar cada vez mais da agenda ESG?   
Luiz Césio Caetano: A pauta ESG (Environmental, Social, and Governance) é uma tendência irreversível no mundo dos negócios. A indústria fluminense pode se beneficiar dessa agenda, ao adotar práticas sustentáveis que promovam, por exemplo, a eficiência energética, a redução de resíduos e um menor impacto ambiental, melhorando a competitividade e a imagem corporativa no mercado. No aspecto social, investimentos em políticas de inclusão e bem-estar dos trabalhadores aumentariam a retenção de talentos e a produtividade. Já no campo da governança, a transparência e a ética na gestão atrairiam investidores preocupados com a responsabilidade corporativa, além de mitigar riscos regulatórios. Essas práticas integradas fortaleceriam a reputação das empresas.

 

Na minha opinião, o grande desafio é estimular a adoção dessas práticas junto às micro e pequenas empresas, e a Firjan está pronta para prestar esse apoio aos empresários. Temos, por exemplo, capacitação em sucessão empresarial da Firjan IEL, que é um problema nas pequenas empresas. 


CI: Como estimular o aumento da participação de mulheres na linha de produção e em postos de liderança na indústria?  
Luiz Césio Caetano: Em 14 de outubro deste ano assumiu uma nova diretoria da casa com 50% a mais de presença feminina em relação à gestão anterior. A Firjan vai continuar estimulando o aumento da participação feminina, seja em postos de liderança das indústrias, na linha de produção das fábricas e na formação de empreendedoras.

 

Há pouco mais de dois anos, a Firjan criou o Conselho Empresarial de Mulheres, o primeiro fórum da casa focado em discussões sobre equidade de gênero, ambiente empresarial mais inclusivo e combate à violência contra as mulheres. No interior, o pioneirismo foi do Grupo Mulheres da Indústria do Norte Fluminense, criado em plena pandemia, com o desafio de conscientizar as mulheres sobre seus próprios papéis nas organizações.

 

Para o colaborador da Firjan, é fundamental registrar o avanço que obtivemos com o Programa de Diversidade, Equidade & Inclusão. E cito também iniciativas exitosas nas empresas que contaram com o apoio direito da Firjan SENAI SESI, como os projetos sociais Elas na Indústria e Elas na Bayer.  

CI: O que o senhor tem a dizer ao empresário do interior fluminense?  
Luiz Césio Caetano: Que me identifico com as dificuldades deles. Nos últimos dois anos percorri praticamente todo o interior do estado e gostei muito dessa experiência. Foi uma vivência de muitas trocas e de escuta ativa. Minha sala de trabalho na Firjan estará sempre de portas abertas para o empresário do interior. Quero estar próximo dos empresários e das suas dores, para entender muito bem cada pleito e para fortalecer cada vez mais as Representações Regionais.  

CI: A Firjan completará 200 anos durante sua gestão. Qual será o legado da federação para as próximas gerações?  
Luiz Césio Caetano: O legado da Firjan para as próximas gerações pode ser compreendido a partir de um papel histórico no fortalecimento do setor industrial e no desenvolvimento socioeconômico do Brasil e do estado do Rio de Janeiro. Ao promover educação de qualidade e ao estimular a inovação, a tecnologia, a promoção de saúde e a sustentabilidade, a Firjan oferece uma base sólida para a modernização dos processos produtivos, preparando empresas e trabalhadores para os desafios da economia global. Além disso, a capacidade da Firjan em influenciar políticas públicas e a atuação na criação de ambientes de negócios mais competitivos certamente irá contribuir para um futuro de crescimento equilibrado, com impacto positivo na qualidade de vida das pessoas. Temos condições de fazer o caminho mais fácil para as novas gerações.