manuseio e confecção de joias

TECNOLOGIA TRANSFORMA
SETOR DE JOIAS


Em pleno processo de transformação, indústria de joias usa IA, atrai jovens e exige ouro legal    

A indústria de joias está em transição. Uma das razões é a entrada dos jovens nesse mercado, trazendo produtos mais acessíveis e customizados. O uso da inteligência artificial (IA) na produção das peças, o alto preço do ouro no mercado internacional e a justa preocupação com a compra de ouro legal, com rastreabilidade conhecida, são outras causas que contribuem para essa transformação.    

Diante desse novo cenário, a Firjan SENAI tem feito ações para capacitar os jovens e em defesa do rastreamento de origem do metal e das gemas. O presidente da federação, Luiz Césio Caetano, lembra, por exemplo, das melhorias no Centro de Referência em Joalheria da Firjan SENAI Maracanã, na capital fluminense.    

“O Lab Joias conta com equipamentos que chegam a superar o padrão internacional. Isso foi confirmado por nossos especialistas durante visita ao exterior. Além disso, a nossa formação profissional de excelência permite que jovens talentos, como Geovana de Oliveira Corrêa, de 19 anos, se destaquem. Ela representou a Firjan SENAI na WorldSkills 2024, categoria Joalheria, na maior competição mundial de educação profissional. Geovana conseguiu uma colocação no mercado antes mesmo de voltar ao Brasil”, exaltou Caetano, em evento recente.

    

 

Para Carla Pinheiro, diretora da Firjan e presidente do Sindicato das Indústrias da Joalheria e Lapidação de Pedras Preciosas do Estado do Rio de Janeiro (Sindijoias), é muito bom ter novos entrantes na indústria porque isso se reflete também no mercado consumidor, trazendo um produto mais acessível, mais jovem, diferenciado e customizado.    

“Os jovens sabem muito bem como usar o produto, o que fica bem e onde cai bem. É uma galera jovem ocupando o lugar de alguns grandes players que estão se tornando obsoletos”, afirma a empresária.    

A Inteligência Artificial generativa também trouxe uma característica especial para a criação das peças. A IA gera imagens em 3D, que podem ir para uma impressora que, por sua vez, vai produzir as peças.    

“Isso pode representar uma mudança muito grande na nossa cadeia de consumo, já que um cliente final pode muito bem fazer esse arquivo e escolher onde ele quer fabricar. E o produto, o design e o molde são dele, a propriedade intelectual é dele", atualiza Carla Pinheiro.    

Estado do Rio antenado    

A Firjan e o Sindijoias realizaram uma caravana empresarial para acompanhar as tendências de produto no exterior e as inovações tecnológicas, principalmente com o uso da inteligência artificial, e saber mais sobre rastreabilidade. “Fomos entender o que o mundo está fazendo e pudemos perceber que a gente não está atrás”, enfatiza Carla, que também é presidente do Sistema Ajorio, que reúne o Sindijoias e a Associação dos Joalheiros e Relojoeiros do Estado do Rio (Ajorio).

 

 

"Tudo aquilo que a gente vem refletindo hoje no nosso Centro de Referência da Firjan SENAI é o que o mundo está refletindo. Por exemplo, como a inteligência artificial vai influenciar o meu negócio?”, avalia ela.    

Segundo Carla Pinheiro, há dois mundos coexistindo. “Estamos olhando muito para essa transformação que está se dando, para a inovação que está chegando”, mas ainda há incertezas sobre os caminhos que os negócios do setor irão tomar.    

De acordo com a presidente do Sindijoias, a indústria tem olhado para novos produtos, como a joia em prata ou em ouro 14 quilates, apesar da resistência cultural – principalmente da indústria, que é maior que a do consumidor final. Ela acredita que a indústria precisa se conectar com o consumidor, já que o poder está na mão dele e não mais da indústria.    

"O caminho é a escuta contrária. Acho que 2024 foi um ano de muita reflexão, muita mudança, movida, principalmente, pela supervalorização de cerca de 60% da nossa matéria-prima principal, o ouro, que passou de R$ 320 o grama para R$ 510. Um aumento difícil de o mercado absorver. Isso gerou uma necessidade de olhar novamente para os nossos processos, para os produtos, para as nossas marcas, para o nosso relacionamento com o mercado, principalmente para a indústria”, analisa.    

Incentivo à renovação    

A entrada de jovens no setor de joias incentiva a renovação, seja com equipamento de fundição de alta tecnologia ou para atender a demandas personalizadas. A Firjan SENAI atende tanto profissionais, que querem melhorar a especialização dentro da indústria onde trabalha, quanto aqueles que estão começando no segmento, além dos que desejam expandir no mundo da internet, criando sua marca de produtos.    

“Para atender a todas essas necessidades, hoje a Firjan SENAI tem o curso de Ourivesaria, que abrange o contato do aluno com a parte teórica e técnica da banca. Nesse curso, ele aprende história da joalheria, matemática aplicada à joalheria e metalurgia. Na banca desenvolve o processo de fabricação de uma joia do zero, desde pegar uma chapa e transformar numa joia”, explica Emerson Marcelo da Cunha, instrutor especialista em joalheria na Firjan SENAI Maracanã.    


 

Aluna aprende processo de produção de joias pelo Projeto Elabora, na Firjan SENAI: o interesse dos jovens renova o setor (Foto: Divulgação)

 

Há ainda o curso de Design de Joias, no qual o aluno já vai para o mundo da criatividade, trabalhando o desenvolvimento de uma peça e o desenho 3D, com o programa Rhinoceros. “Com esse programa, o aluno desenvolve as joias completamente no computador e consegue imprimir as peças. Depois, é só seguir para a reprodução. O aluno faz uma peça em resina, com precisão, e leva para fundição”, detalha o instrutor, acrescentando que o processo de fundição hoje é muito usado nas grandes empresas.    

Com equipamentos que estão no topo do mercado, a Firjan SENAI oferece ainda a capacitação em cravação, técnica que ensina a fixar a pedra na joia. Mas há também cursos customizados para uma determinada empresa, destaca Cunha. Segundo ele, há pouco tempo, a Casa da Moeda pediu um curso de esmaltação, que foi criado especificamente para a instituição.    

O tempo de duração dos cursos varia de um a seis meses e podem ocorrer mais de duas vezes por ano, com turmas de 20 a 24 alunos.    

Além dos cursos, a Firjan SENAI oferece consultoria sobre equipamentos e otimização da produção. Entre os equipamentos de alta tecnologia, muito procurados por clientes da Firjan SENAI, Emerson destaca o espectrômetro, que analisa o metal sem desgastar a peça.    

WorldSkills 2024    

Ex-aluna do Centro de Referência em Joalheria da Firjan SENAI Maracanã, Geovana, finalista da Firjan SENAI na WorldSkills 2024, está há um mês trabalhando na Sara Joias. A visibilidade que ganhou com a classificação gerou mais de uma oferta de emprego para a jovem de 19 anos.    

“Tenho feito brincos, gargantilhas, pulseiras, com vários tipos de pedra, e estou gostando bastante disso. Eu queria muito continuar na profissão, mas ao mesmo tempo ter um lugar onde eu pudesse praticar e aprender ao mesmo tempo. Aqui tenho oportunidade de aprender com pessoas muito experientes”, conta ela, que atribui sua carreira ao curso técnico feito na Firjan SENAI.    

Origem do ouro    

A rastreabilidade de gemas e metais é uma importante questão que está sendo tratada com muito cuidado pelo setor com apoio da Firjan e do Sindijoias. O comprometimento com a cadeia de fornecimento é uma preocupação do joalheiro, principalmente após a crise provocada pelo garimpo ilegal nas terras indígenas Yanomami.    

“Isso nos levou a revisitar todo esse processo e a exigir rastreabilidade, uma certificação de origem do ouro que consumimos na indústria. E, como setor organizado, fizemos vários projetos e campanhas de conscientização", informa Carla.    

A empresária explica que começou a investir na rastreabilidade usando a tecnologia como parceira, como por exemplo o blockchain, a marcação do ouro e o georreferenciamento. “Hoje há toda uma área de ESG, de compliance, chegando num ouro totalmente rastreável na indústria”, esclarece.    

Em maio de 2024, a Firjan e a Ajorio levaram 30 empresários para conhecer minas de ouro legalizadas na Baixada Cuiabana, no Mato Grosso. “Fomos a algumas mineradoras, entre elas a Salinas Gold, uma mineração média que não usa mercúrio em nenhuma etapa, a única no Brasil, uma das pouquíssimas no mundo", pontua.    

 

Formandas do Projeto Elabora, com Nathalie Jungman (ao centro, de vestido preto): 90% das participantes conseguiram trabalho (Foto: Divulgação)

 

Jovens capacitados    

Em 2023, com o objetivo de capacitar e empregar mulheres de baixa renda, Nathalie Kuperman Jungman, ex-empresária do setor de joias, criou na Firjan o Projeto Elabora, com a contribuição do Sistema Ajorio e apoio do Instituto Cultural Vale.    

O projeto capacitou 17 mulheres de baixa renda no segmento de joias, e 90% delas conseguiram emprego. O sucesso do programa acabou contribuindo para a criação do Instituto Elabora Social e inspirou a formação de uma nova turma para 2025. Dessa vez, serão 22 mulheres, sendo mais de 50% negras e duas refugiadas, da Venezuela e da Colômbia, oriundas do convênio da Organização Internacional para as Migrações (OIM).    

“Com as dificuldades da pandemia, eu quis fazer um projeto social e tive a ideia de criar uma turma de mulheres ourives, que aprendessem a fazer joias e que a gente pudesse empregá-las para mudar a trajetória dessas pessoas, com uma profissão promissora, valorizada”, conta Nathalie, que agora ocupa o cargo de diretora do Instituto Elabora Social.    

Ao final do primeiro curso, as alunas fizeram uma coleção de 17 joias em prata banhadas em ouro, que foram expostas no ArtRio, um dos mais relevantes eventos de artes da América Latina.    

"Era uma área que eu não tinha conhecimento, e com o curso me descobri no mundo das joias. E hoje, graças ao projeto, consegui um trabalho no setor, fazendo algo que eu gosto”, diz Camila Costa, que participou do Elabora.    

“O Elabora Joias foi um case que deu muito certo. A ideia agora é expandir o foco do instituto, que qualifica mulheres e fomenta a geração de emprego e renda, para outras áreas”, adianta Nathalie.    

Fruto da Firjan SENAI    

David Zilberman, sócio da Sara Joias, ressalta que a Firjan SENAI na formação de profissionais da indústria joalheira tem muitos benefícios. Ele destaca, como exemplo, a contratação da ex-aluna Geovana.    

“Foi uma conquista muito importante tanto para a instituição como para a Sara, que a abraçou como uma filha”, diz.    

Agora, com o aumento da importação de relógios suíços, o dono da joalheria fundada em 1977 por ele e a irmã Laja Zylberman, em Ipanema, conta com a Firjan SENAI para investir também na formação de relojoeiros.    

Segundo Zilberman, 2024 foi um ano inesperadamente bom para o setor joalheiro e a expectativa é de manter a mesma tendência em 2025.    

“Houve avanços, principalmente no entendimento das propostas que vêm sendo discutidas em benefício do ramo. As principais conquistas ainda estão por vir, como o tax free para o Rio de Janeiro – sendo uma cidade turística, esse incentivo será ideal para o setor”, complementa.